Respostas

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Ela alternou o olhar entre mim e qualquer outro lugar da cozinha antes de começar a falar.

-Como eu posso te dizer isso... é que, bem...eles... -ela estava tentando enrolar.

-Donna, por favor -a interrompi e ela suspirou.

Eu necessitava saber.

-Bem...eles te culpavam pelos seus erros, seus problemas, por tudo...para eles, tudo era culpa sua.

-Como assim? -me atrevi a perguntar.

-Pelo que eu entendi, isso funciona como uma armadura para blindar a mente das suas frustrações, geralmente, essa culpabilização do outro se dá de forma inconsciente. Eles poderiam até saber que cometeram um erro, porém, suas mentes ativam mecanismos de defesa para se desviar da culpa, e esse desvio era você, te culpar.

-Mas...por que eu? -eu não queria entender todo aquele absurdo.

-Como eu falei, é algo inconsciente, eles são tão imaturos, a ponto de não ter responsabilidade pelos próprios atos, provavelmente viram uma brecha, algo que você fez que os deixaram irritados ou outra coisa, e começaram a te culpar por tudo -ela me olhou -você lembra quando começaram a te perturbar? Algo que você fez nesse dia?

-Lembro... -minhas memórias começaram a se encaixar -no dia em que me ameaçaram pela primeira vez, na primeira aula, a professora havia entregado as provas e eu havia tirado a maior nota e eles a menor, ela meio...que os comparou comigo? Eu não sei, ela disse que teriam que seguir o meu exemplo...logo depois no recreio vieram me ameaçar e quase me bateram sem motivo... Bem, era o que eu pensava -suspirei lembrando de outros acontecimentos parecidos.

-Essa foi a chave... -sua voz saiu de forma irritada.

-Não consigo acreditar que foi esse o motivo para eu passar por toda aquela merda até agora.

-Como disse, são imaturos demais -ela bateu a cabeça no armário propositalmente.

-Mas o que eu, supostamente, fiz para eles quererem quase me matar?

-Sinceramente...inveja.

-Inveja?

-Sim...pelo que soube, os pais deles ficaram sabendo da sua vitória no beisebol e acabaram os comparando com você, de novo, pelo que você disse -suspirou frustada -de como você era mais habilidoso, tinha força de vontade e blá, blá, blá... Provavelmente isso lhes causou uma raiva absurda, por seus egos terem sido feridos, novamente, e quiseram acabar logo com essa merda toda.

-Como ficou sabendo de tudo isso? -estava desacreditado.

-Bem...minha mãe é psiquiatra e ela foca em atender o público infantil, então quando os meninos foram para o internato, acabou que a culpa os atingiu de vez, a realidade caiu para eles e com isso surtaram -Donna balançou a cabeça como se estivesse decepcionada -minha mãe foi chamada para ajudar, eles falaram com ela e descobriram que tinham... -Donna se auto interrompeu no final da frase, como se julgasse falar ou não.

-Pode falar -suspiro colocando minha cabeça na mesa.

-Eles foram diagnosticados com Transtorno de Personalidade Narcisista.

'Isso explica muita coisa.'

Silêncio.

Não tinha mais o que dizer, não tinha mais o que escutar. Eu estava mal, muito mal.

Tantas coisas que eu fiz e deixei de fazer, para eles me esquecerem, esquecerem que eu existo e pararem de deixa minha vida mais insuportável do que já era. Para no final, todo esse inferno ser por causa de inveja, irresponsabilidade e imaturidade? Um problema mental, que não tinha nada haver comigo? Eles me maltratavam, xingavam, batiam, por eu ter sido o premiado de aparecer no "caminho" do narcisismo surreal deles?

Nosso Anjo Where stories live. Discover now