Maria Madalena

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POV: Esther, 17 anos.

Itens: Bíblia (Uma edição adolescente, harpa inclusa)

Lenço (Bordado pela avó)

Chaveiro (Chaves de casa)

Batom (Para retocar).

Taser da Hello Kitty ( Para defesa pessoal tem a logo da Hello Kitty e um sticker dela, da My Melody e da Kuromi)

Local: Casa, 18:40

Às sextas-feiras, costumo vender um lanche pela cantina dos adolescentes da igreja, logo na saída dos trabalhos de oração. Uma moça muito bonita tem me ajudado, Jeniffer, às vezes ela me motiva a ir, mas isso me faz sentir culpada.

Não posso pensar demais a respeito, tenho preocupações mais imediatas como esse compromisso...

O caminho até a igreja é longo, e o anoitecer o torna perigoso, por isso sempre ando com meu taser da Hello Kitty. A avenida estranhamente vazia neste horário me amedronta ainda mais.Lembro-me de meu pai, "Vai sair assim? Pra a Igreja?", sinto um frio na barriga. Esse tipo de comentário é um mau presságio. Mas minhas roupas sempre valem a pena, me expresso com elas, além de ser gratificante postar ou mandar foto para o Filêmon com alguma piada.

Filêmon é um amigo íntimo, maestro do coral de um dos bairros vizinhos.

A caminhada segue sem problemas, apesar de uma OST fictícia de Silent Hill toca em minha cabeça à medida que ando. Acabei gostando da soundtrack do jogo depois que o Filêmon me mostrou.

Ao chegar no templo, percebo a ausência de qualquer pessoa, curioso já que os trabalhos deveriam ter iniciado, ou pelo menos um dos responsáveis poderia estar presente.

Jeniffer não parece estar por perto...mas a porta da igreja aparenta aberta apenas por uma fresta, talvez haja alguém lá dentro...

Ao entrar, noto a escuridão presente, mal posso ver os bancos ou qualquer outra coisa dentro da nave, procuro pelas paredes qualquer interruptor que seja, para então, achar alguns num painel próximo a escada da direita. Por tentativa e erro acabo por ligar as luzes corretas.

Apesar de não ser minha responsabilidade, não vejo problema em deixar isso pronto para quem chegar.

Saio para esperar Jeniffer. No entanto, ao chegar à porta, percebo que ela não corre pelo trilho, como se estivesse emperrada, todo esforço é nulo quando tento abrir.

Indo a outra entrada, sou surpreendida por um ruído estranho que vem do andar de cima. Imagino que possa ser alguém que tenha as chaves e me alegro, em seguida subo as escadas que levam a galeria e ao tanque de batismo.

Não encontro ninguém nas laterais nem nas salas, já que estão trancadas.

Em desespero procuro meu celular, mas lembro que decidi não levá-lo hoje. Que ideia.

Ao voltar, penso em sentar um pouco nos bancos da galeria para lamentar, e novamente ouço o ruído de antes, porém mais alto...

-Paz do senhor, irmão!

Digo na esperança de alguém responder a saudação, nada se ouve.

De repente, um grito masculino ensurdecedor machuca meus ouvidos, a frequência aguda parece se estender além das capacidades humanas. Levanto-me para investigar o barulho, e, ao virar, saindo das sombras dos bancos da galeria, uma criatura com as pernas inválidas se põe diante de mim. Sua forma é a de um homem, porém suas costelas saem de suas costas em avesso, como asas de ossos, sua aparência grotesca me causa asco, sua pele com textura pútrida exala um cheiro pungente de ovos podres..

Em pânico, tento correr e a besta avança rapidamente, seus braços esvaecidos possuem força tamanha que podem se rastejar com velocidade. De costas vou me afastando, mas num instante ela salta sobre mim, me derrubando de bruços. Ainda atordoada com a queda, sinto suas mãos gélidas subirem pelo meu corpo. O medo desperta-me, porém, ao tentar debater, sou mantida presa e dominada.

Lembro do taser da Hello Kitty em meu chaveiro e rapidamente pego-o, no entanto, antes de usá-lo, sou impedida. A aberração cobre meu pescoço com suas mãos terríveis e começa a me sufocar, sua força é tamanha que meu pescoço pode estourar em suas mãos, suas unhas cravam na minha pele e a dor é intensificada. Minha visão fica turva e escurece, não consigo respirar...

Num lance de bravura, consigo me livrar por um instante de suas mãos e tirar o taser do meu bolso, assim, dou uma descarga elétrica no monstro, ao ponto de sua pele queimar um pouco, o cheiro se torna ainda mais repulsivo.

Ela grita novamente, o choque a feriu bastante. Em dor, se arrasta para o primeiro andar da igreja.

Apesar de debilitada, não perco a oportunidade de correr. Ainda tossindo, vou até a porta à esquerda do tanque de batismo, na esperança que estivesse destrancada.

Para minha alegria, consigo abri-la, apenas para achar um corredor longo que é cortado repetidas vezes por outros que o cruzam perpendicularmente , como um longo corredor de hospital que se divide em alas distintas. Não penso muito a respeito e começo a correr sem rumo através deles. Cada um é repleto de portas, desesperadamente tento abrir uma após a outra, mas não tenho sucesso, a maior parte trancada, as que não estão, levam a outros corredores que parecem infindos, assim como os que percorri. "COMO ESSA IGREJA PODE SER TÃO GRANDE!?", penso confusa. Minha memória se atrapalha em desespero e alvoroço, não me lembro da congregação ser assim. Enfim, encontro uma sala que posso abrir e que não leva a outros corredores, um bom esconderijo.

A sala lembra as usadas para ministrar as lições de escola dominical, mas têm camas e armários, além de estantes com livros de temas variados.

Sem tempo para pensar e aflita, empurro uma cama para frente da porta, na esperança de que a força absurda daquela monstruosidade não seja capaz de mover a porta. Em medo intenso escondo-me atrás de uma estante, hiperventilando.

Caio então por mim, o que acabou de ocorrer? Um momento de insanidade percorre minha mente, a situação quase kafkiana me apavora e me faz suar frio, estou pálida, lívida, pareço doente.
Mas então, a realização. A melhor opção é achar uma maneira de sair do templo o mais rápido possível, tem que haver um modo! Mas...haveria outras criaturas? Estou sozinha neste lugar? E ainda cercada por esta coisa?

Antes de qualquer coisa...meu pescoço continua sangrando...

...

NaipesWhere stories live. Discover now