A Bela e a Fera da favela

seis

Uma e doze da manhã. Mamãe saiu com uma amiga para se divertir, seria injusto eu mudar toda a sua rotina e fazer com que ela fique comigo trancada em casa. Da sala posso ouvir as batidas altas do funk ecoando. -O baile deve está bom - Penso comigo mesma. Não tive ânimo para ir, o que Joyce compreendeu perfeitamente.

Se quer consigo prestar atenção ao que passa na televisão, meus pensamentos voam até que sinto meu celular vibrar. Joyce.

"Mano, você não vai acreditar em quem perguntou por você há uns dez minutos"

"Garota, vc ta ai?"

"Me responde rápido"

Ri com seu desespero e perguntei quem foi.

"O fera. Ele simplesmente mandou um dos seus vir aqui embaixo na pista perguntar cadê você, assim super normal. Eu tô no chão"

Confesso, aquilo me surpreendeu. Ele nem me conhece direito e agora todo esse interesse repentino. Busco por seu nome em meu whatsapp e vejo que o mesmo não esta online.

Abro um sorriso mas logo ouço uma buzina alta em meu portão. Ignoro completamente, não é para mim. A buzina novamente insiste e uma mensagem chega em meu celular.

"Sai ai."

Era ele. O fera estava no meu portão de moto, buzinando para que eu saisse.

Me levanto em um pulo, arrumo meu cabelo e desço um pouco meu short de dormir. Trocar de roupa não seria uma boa ideia. Apenas visto um casaco comprido afim de esconder meu corpo, ignorando completamente o calor. Abro a porta e caminho rapidamente até o portão. Respiro fundo e abro o mesmo.

Fera desvia sua atenção do celular para mim rapidamente e abre um sorriso.

Que sorriso!

Ele põe seu celular no bolso e faz um gesto para que eu me aproxime mais.

- Ta fazendo o que aqui?- Indago curiosa.

- Perguntei por você, sua amiga disse que você esta em casa. Ta com alguém ai? - Ele te ta olhar através do portão.

- Quem poderia estar comigo?

- Sei lá, tem muito marmanjo nesse morro.

Solto uma risada baixa.

- Você acha que sou dessas?

- Aparentemente não, você é?

Pergunta debochado. Me aproximo um poco mais, ficando ao lado de sua moto. Agora estavamos frente a frente.

- Bom, não sou eu quem tem namorado e estou na porta de uma pessoas as uma da manhã. - Digo debochada.

Ele arquea suas sobrancelhas e eu daria tudo para saber o que passa em sua mente quando me olha desta forma.

- Nem eu. - Ele ri - no momento a única mulher que ta ocupando minha mente o dia inteiro é você.

- Diz isso para todas?

Disparo.

- Se você for todas, sim. - Diz dando de ombros.

Ele me olha de cima a baixo e leva sua mão a barra do meu casaco, puxa para cima revelando meu short curto. Um sorriso cafajeste brota em seus lábios e retiro sua mão do local. Não sou de ficar constrangida facilmente mas fiquei.

Logo seu sorriso some e o mesmo encara meus olhos. O clima de deboche se vai e um silencio constrangedor - ao menos para mim - toma conta. Tudo o que ouço é a voz do Ferrugem ao fundo, tocando no baile.

"Todo abraço é muito bem-vindo
Só que o seu é mais apertado
Oh oh oh, oh oh oh"

Esse homem parece ter sido esculpido por anjos, cada traço. Só de observar seu rosto sabemos o porque de muitas mulheres correr atrás do mesmo. Não é apenas a aparência, é o jeito de falar, é tudo. E algo me diz que ele sabe o efeito que causa.

- Eu to querendo muito te beijar. - Sua voz sai em um sussurro, mesmo com a música eu fui capaz de ouvir.

Sinto meu corpo se desfazer quando sua mão puxa meu casaco, me obrigando a ficar ainda mais perto. Sua mão passa ao redor de minha cintura e mi ha respiração falha por alguns segundos quando sinto o cheiro de seu perfume. Aquilo me fez querer mais, muito mais. Fera estava sendo capaz de desligar todos os pensamentos ruins do meu cérebro. Ele é como droga, a mais ilícita, a mais perigosa, a que dá mais onda mas pode ser a que custa mais caro e eu estou querendo pagar para vê.

Seu nariz vai de encontro ao meu pescoço e logo sua atenção retorna a meus lábios. Sem demora eu o beijo.

E que beijo.

"Você foi embora tem uma semana
E aquele beijo me causou insônia
Sonho acordado pensando em você..."

Facilmente eu o tomo por completo com minha mão em sua nuca. Sua mão passeia por minha cintura até meu bumbum e isso não me incomoda. Não há puritanos aqui e minha calcinha pode provar isto no momento.

Eu desejo o beijar por longos minutos mas o beijo se acaba.

Ele me olha e abre um sorriso. Parece confiante e cheio de si, como se tivesse ganhado alguns milhões na mega.

- Que foi? - Pergunto enquanto ele me olha.

- Nada. Você é muito linda, sabe disso?

- Se eu não fosse dificilmente você estaria aqui.

- Você sempre é assim?

Indaga desviando seu olhar para algum outro ponto, porém sua mão ainda esta em volta na minha cintura.

- Assim como?

- Tem resposta para tudo.

- Nem sempre. E você, sempre aparece no portão das pessoas pela madrugada?

- No seu eu vou aparecer todos os dias. Pode apostar. - Ele diz em um tom sério. Agora me encarando. - To com muita vontade de você, Bela.

Eu entendi perfeitamente o que ele quis dizer com "vontade", e sua mão apertando minha bunda já o entrega.

Não posso mentir, eu também queria mas não iria.