três

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Bela.

A comida estava boa, me senti satisfeita. Enquanto minha mãe tentava obter qualquer atenção minha meus pensamentos estavam perdidos demais remontando o rosto do homem que vi na mercearia hoje. Pode parecer loucura e talvez realmente seja mas eu gostaria de vê-lo outra vez.

— No que está pensando? — pergunta minha mãe.

— Em nada.

Abro um sorriso sem jeito. Eu não iria dizer a ela que estava afim de um homem que nem se quer conheço cujo o rosto do vi uma vez. Vejo a mulher a minha frente se levantar e pegar os pratos mas não sem antes fitar seu celular. Ela bufa. Me levanto colocando os copos na pia

— Eu lavo, pode deixar — Me refiro a louça.

— Tenho que ir para o salão, mas a você quiser posso ficar lhe fazendo companhia.

Amélia trabalha como manicure em um salão local, sua patroa é o que tipo de pessoa que considero sebosa pensa em uma mulher nojenta, pois é. Na faixa de uns vinte e cinco anos, a patroa de Amélia acha que manda no morro de certa forma. Minha mãe disse que a mesma vive afirmando ser mulher do dono deste morro, se é verdade eu não sei e também não me interessa já que não faço ideia de quem seja o dono e nem quero saber. Lembro-me quando descobri que Amélia levava um certo jeito para manicure, a mesma fez um curso e conseguiu a oportunidade de atuar aqui mesmo, pertinho de casa o que não é ruim.

— Pode ir. Vou tomar um banho e me deitar. — digo enquanto início o ato de lavar a louça.

— Tem certeza? Posso chamar sua amiga para ficar com você.

Ela morde o lábio um pouco sem jeito. Era nítido que a mesma não queria me deixar só.

— Mãe, eu vou ficar bem. Relaxa, tá?

— Então tudo bem. Qualquer coisa pode me mandar uma mensagem, ligar, sei lá. Venho correndo, certo?

— Certo — Digo soltando uma leve risada por conta de seu desespero.

— Vou pegar meu material.

Não demora muito para que eu me encontre só dentro daquela casa. Abro minhas malas em busca de alguma roupa mais confortável para dormir, após um banho me deito na cama de Amélia , ponho meu celular para carregar e vejo meu aplicativo de mensagens. Havia algumas mensagens mas foquei nas de Joyce, minha mãe havia contado a ela o ocorrido e a mesma tratou de me mandar mensagem dizendo que estava vindo ficar comigo. Eu como sempre, não quis incomodar e pedi para que Joyce não viesse porque eu estava bem e iria dormir — menti, eu não estava bem —  menina disse que era tarde, já estava a caminho. Sua casa não ficava tão longe, era apenas algumas vielas de distância.

Como eu não havia contato a ninguém sobre a tragédia, fiz um texto em meu Facebook, postei uma homenagem ao meu pai com direito a uma foto nossa e muitas lágrimas. Assim que postei recebi algumas mensagens, notificações de comentário e uma notificação que Joyce havia compartilhando minha postagem. Antes que eu pudesse deixar o celular de lado, algo me chama atenção; alguém chamado Fera CV havia reagido a minha publicação com a reação de força. Entrei em seu perfil e vi que não éramos amigos, porém tínhamos amigos em comum, Joyce. Um choque percorreu meu corpo quando cliquei em sua foto e vi que se tratava no homem que vi hoje. Um sorriso involuntário brotou em meus lábios. Agora, olhando mais de perto pude ter a certeza de que ele realmente é lindo.

Mas que porra você tem, garoto?

Fiz questão de vasculhar seu Facebook. Não havia muitas fotos ou ou publicações, muitas oessoas marcavam ele em coisas como eventos e etc. Alguns minutos depois de ver o total de quatro fotos dele recebo a seguinte mensagem no Messenger.

"Achei você"

Não pude deixar de sorrir. Estalo meus dedos e sinto meu coração acelerar um pouco e na verdade nem sei o motivo de estar me sentindo desta forma. É como se eu tivesse bebido algo, alguma coisa que não posso comparar a absolutamente nada. Já conversei com outros meninos, já tive um relacionamento que durou dois anos e consigo afirmar que nada me deixou desta forma. Que loucura pareço uma menina virgem. Me dou conta que estava demorando a responder sua mensagem.

Pois é.”

Foi o que respondi. Nossa, como sou idiota! Penso que ele não irá responder mas logo o mesmo emite uma mensagem pedindo meu número, não penso duas vezes e passo. Alguns minutos depois chega uma mensagem em meu aplicativo, era ele. Pergunto seu nome para que pudesse salvar e ele diz para salvar como Fera, apenas isso. Então faço. Mando o mesmo salvar meu nome como Bela, fazendo um pequeno trocadilho com nossos apelidos em relação ao filme A Bela e a Fera. Ele pergunta onde moro e com quem, algumas perguntas um pouco pessoais mas faço as mesmas. Quando pergunto de onde Fera é, ele ri. Parece que contei alguma piada, realmente não entendo. Quando estava prestes a perguntar o motivo da graça alguém bate no portão. Joyce, com certeza. Deixo o celular em cima da cama e vou rapidamente até o portão, ao me ver ela abre um sorriso e mostra um pote de sorve de creme que estava em suas mãos.

— Minha mãe me deu dinheiro para comprar alguma coisa pra gente. Ela ficou triste por você. — Disse ela.

Aquilo fez meu coração apertar. O motivo? Conheço a família de Joyce, eles são humildes e muitas vezes não tem o que comer, esse sorvete deve ter custado uns vinte e cinco reais, ou seja, um dinheiro que eles não tem.

— É o meu preferido! Amei. — Digo entusiasmada.

Por mais que alguém seja necessitado nunca jogue isto contra eles. Se alguém que não tem condições te der um presente, fique feliz, seja grato. Nós pequenos gestos vemos quem quer o nosso melhor e sei no meu interior que a família de Joyce quer que eu fique bem.


A Bela e a Fera da favelaOnde histórias criam vida. Descubra agora