Cárcere de louvor

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POV: Filêmon, 18 anos.

Itens: Pasta (Onde carrega os itens)

Pasta catálogo (Contém as partituras dos hinos do coral)

Bíblia (Uma bíblia simples dada por mamãe)

Harpa pautada (Contém arranjos para coro de todos os hinos da harpa)

Celular (Uso para tirar a altura do hino, raramente faço ligações)

Molho de chaves (Contém as chaves da igreja)

Local: Casa, 18:40

Ao chegar a sexta-feira sempre preocupo com os afazeres previamente, para que não haja imprevistos no horário de ir ao ensaio do coral. Sou um dos maestros do coral Jubilai e preciso manter a minha responsabilidade de chegar na igreja antes dos coristas, para preparar tudo com antecedência.

Despeço-me de minha mãe e peço a Deus que sua segurança me faça companhia pelo caminho.

Pelas ruas, uma neblina densa invade o ambiente, provavelmente devido a umidade dessa época do ano, estranho ainda.

"Essa rua daria um ótimo post de uma página de Liminal Space ou fan account de Silent Hill, vou tirar uma foto pra mandar pra Esther depois."

Esther é uma amiga íntima de uma das congregações dos bairros vizinhos, conversamos regularmente.

Prosseguindo pelo caminho, evito contato visual com qualquer indivíduo, a melhor forma de evitar conflito com um possível maníaco.

Ao chegar à avenida da igreja, noto a estranha ausência de carros, algo muito incomum tendo em vista o horário. Ignoro considerando apenas uma coincidência e me dirijo ao portão, o qual abro sem dificuldade.

Ao entrar pelo pátio externo, ligo as luzes que parecem não iluminar a nave do templo de forma alguma, como se a escuridão da igreja fosse extremamente densa. Após beber um copo de água do bebedouro próximo ao banheiro feminino, sinto um peso se debruçar sobre minha nuca, como uma preocupação ou culpa. No momento, memórias tornam em minha mente, essa sensação muitas vezes aliviada em minhas orações volta com temor maior. O peso de um segredo...

Não sinto essas sensações durante o dia, elas se dão pela madrugada onde costumo ser reflexivo, geralmente compartilho esses episódios com Esther que sempre me conforta.

Deixo o pensamento de lado, aliás meu foco é organizar tudo.

Quando corro a porta lateral do templo pelo trilho, sinto um calor sufocante através de mim e lembro-me rapidamente de ligar o ar condicionado.

No entanto, há algo estranho. O espaço entre os bancos e o altar parece muito maior, mas esqueço isso, achando que a escuridão está prejudicando meu juízo.

Ao ligar o ar condicionado, lembro de então acender as luzes do templo, cujo os interruptores ficam ao fundo.

Caminhando pelos corredores formados pelas fileiras de bancos percebo novamente o quão longínquo parece o altar, como se a igreja estivesse estendida.

Quando ligo as luzes, noto uma alteração brusca na arquitetura, o primeiro andar parece ter uma altura maior, como a de uma catedral, a galeria, por sua vez, é mais imponente e parece ter mais bancos.

Acho estranha toda a situação, meu pensamento tenta justificar, achando que nunca reparei no verdadeiro tamanho do templo, porém não consigo ser cético. Há algo errado, não que eu pudesse me preocupar com isso, já que o ensaio deve ser realizado.

Observo que a estante para partituras do coral não está na nave, provavelmente a guardaram na sala próxima a sala pastoral.

Quando tento sair da igreja vejo que estou trancado, me assusta, afinal não tranquei a porta. Curiosamente ela não só parece trancada, mas qualquer tentativa de movê-la é falha. O desespero aumenta em mim, um terror sobe pela espinha e repousa friamente na nuca onde estala.

Então, tento usar minhas chaves para abri-la, assim, me confortando de alguma forma, estranhamente nenhuma é capaz de destrancá-la, fico ainda mais apreensivo. Subitamente, ouço ruídos atrás de mim seguidos de um grito ensurdecedor, agudíssimo, o qual fere meus ouvidos e abala meu corpo, fecho os olhos em defesa. Então volto a abri-los com cuidado, quando vejo uma criatura com forma feminina se rastejando no chão, suas pernas parecem inválidas, seu corpo é cadavérico e parece se decompor, suas roupas parecem que se uniram ao corpo numa pele que enoja ao se ver. Sua boca parece profunda e seus olhos vazios, as pernas parecem mais finas que o resto do corpo, totalmente atrofiadas. Seu cabelo ralo é branco e possui outros pelos com curvatura irregular pelo corpo que reforça ainda mais sua aparência nefasta.

Sou tomado de horror quando ela avança em minha direção, ainda gritando. Sua velocidade é absurda, já que se arrasta, falho ao tentar recuar e sou tomado pela coisa.

Ao me segurar pelas pernas a criatura com suas mãos frias e força sobre-humana me lança ao chão, ela consegue subir pelo meu corpo e me ferir a medida que avança, minhas tentativas de evasiva e debate são vãs e só pioram as investidas, a cada ataque as feridas abrem mais e outras vão surgindo. Desesperado consigo chutar seu peito e a atordoar brevemente, aproveito a brecha para fugir para o segundo andar do templo, no entanto, as escadas não são mais as mesmas, elas se repartem, mudam de direção e forma, são irregulares.

Repleto de medo, sou incapaz de pensar na direção a tomar, a tensão me paralisa e minhas pernas parecem já estão inválidas quanto as da criatura. Em um curto ímpeto de coragem tomo uma direção aleatória. Minha decisão é seguida dos gritos da criatura que me esmorecem e me amedrontam. Depois da fuga pelo "labirinto de escadas", onde corro pulando degraus em pavor, acabo por dar em uma sala com a porta destrancada, no qual entro rapidamente. Imediatamente percebo a semelhança da sala com aquelas onde são ministradas cultos infantis, entretanto, há armários e camas em beliche, conveniente, já que são pontos para me esconder.

Decido entrar dentro de um dos armários para despistar a criatura, e tento me acalmar para não instigá-la. Ouço-a se aproximar e suas mãos se apoiarem no armário.

...

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