Capítulo 2

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Depois de ver Jake naquele lugar ontem, eu fiz uma pequena nota mental. Aqui vai ela:

"Achar um novo caminho para ir pra casa."
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-Eu juro que era ele!- falo encarando Wallace já irritado com sua teimosia.

-Você deve ter se confundido.- fala ele

-Eu tenho certeza de que era ele, a cara de idiota era a mesma!-

-Não existe só ele de idiota no mundo, sabe disso né? Você deve ter se confundido.-

-Eu sei, e sei que posso estar me confundindo assim como posso estar certo, além disso, por que diabos ele estaria ali?-

-E eu vou lá saber! Ele pode ter ido encontrar um amigo ou sei lá-

-Eu não ach-

-Pois eu acho que você está é paranóico! E ponto final- fala ele me interrompendo e pondo um fim nesse assunto maldito.

E então ele se vira para frente e eu deito minha cabeça na carteira como forma de derrota. De relance eu o vejo me encarando de longe, Jake estava me encarando, sinto meus pelos se arrepiarem. Será que ele escutou?!
Não, se ele tivesse escutado com certeza viria até aqui tirar satisfação.

A ideia dele ter ido por aquele caminho ontem me deixou inquieto e novamente com aquele sentimento estranho dentro mim, talvez fosse um alerto para alguma coisa...

Era uma manhã de terça-feira, o dia seguinte, e desde ontem eu fiquei pensando o porquê daquele embuste estar naquele lugar, talvez eu realmente esteja sendo paranóico como o Wallace disse... Dane-se!

O sinal tocou e o professor adentrou a sala, o melhor a se fazer agora é prestar atenção na aula (ou não) e para de pensar naquele idiota.

-Bom dia turma- diz o professor com sua cara mal humorada costumeira.

-Bom dia- alguns alunos o respondem

-Abram seus livros na página trinta e oito-

E semelhantes a robôs, todos os alunos abrem o livro ao mesmo tempo na página ordenada, assim, dando início a mais uma aula.

Depois de um tempo lendo mais e mais textos eu desisto e começo a observar o mundo a fora da janela.
Estava acontecendo uma partida de vôlei entre os segundos e terceiros anos, então estava bem agitado entre os jogadores e os torcedores. Era uma manhã ensolarada, apesar do frio, os alunos continuavam firmes e fortes torcendo para seus respectivos times. Mas agora, olhando melhor não tem mais alunos que o normal? Eu nunca reparei direito nas pessoas a minha volta, mas eu já estudo nessa escola desde bem pequeno e tenho certo conhecimento das pessoas daqui, mas um certo grupinho de garotos eu realmente não conheço.

Acho que eu realmente tô ficando paranóico que nem o Wallace disse. Deve ser apenas pessoas que eu não prestei muita atenção, ou talvez tenham entrado esse ano na escola.

-Alunos, como já estamos adiantados no assunto vou passar um trabalho em dupla pra vocês- afirma o professor com sua voz rouca

A turma se desfaz em sussuros

-Silêncio! Eu ainda não terminei. O trabalho será uma pesquisa sobre algum local da cidade, onde eu quero a história, origem do nome e fotos que vocês mesmo tirarão e colarão em uma cartolina-

A turna se desfaz em sussuros novamente, mas dessa vez misturados com resmungos de desapontamento.

-Tá, então a gente já pode ir formando nossas duplas prof?- fala uma menina com a voz mais entediada e enjoada possível, era mais uma do grupinho de Jake.

-Não, as duplas serão escolhidas por mim-

E mais uma vez a turma se desfaz em sussuros exasperados.

-Essa será a última vez que vou pedir silêncio! Se continuarem assim todos levaram suspensão!-

Silêncio...

-Muito bem, para que não haja mais reclamações  as duplas serão feitas através de um sorteio feito por mim-

Ele joga em seu birô alguns papeizinhos dobrados.

-Aqui contém o nome de todos os alunos da sala, peço que se alguém faltou hoje a dupla por favor avise a essa pessoa-

A turma nem se dá o trabalho de responder, e todos olham sem sequer piscar para os papeizinhos pedindo para todos os deuses (se é que eles existem) para que eles façam dupla com alguém que eles gostem.

E então, papelzinho por papelzinho é retirado.

-Roger e Bob, Julian e Andy, Mary e Any...

-William-

Rapidamente me viro.

-William você vai fazer dupla com Jake no trabalho-

-Ok...- é tudo que consigo responder

-Se fudeu...- é a última coisa que escuto de Wallace que olhava pra mim segurando o riso

Apenas ignoro.

E foi nesse momento que eu deixei de acreditar que deuses existem.

...

-Como só falta dez minutos para a aula acabar, se juntem com suas respectivas duplas e comecem a planejar o trabalho-

Todos se levantam e vão falar com suas duplas, bom... Quase todos, porque pelo visto minha querida dupla está acomodado em sua banca mexendo no celular.

"A nota do trabalho é mais importante William, a nota é mais importante." Repito essas palavras como um mantra em minha mente tentando me acalmar.
Já de frente para a sua banca eu falo:
- E então? Oque vamos fazer?-

Ele tira lentamente o seu foco do celular e encara seriamente a minha cara, como se sentisse um nojo profundo de mim.

"William se acalme!"

-Você tem algum lugar em mente?- ele surpreendentemente responde.

Milagres existem?

Depois de pensar rapidamente.
-Que tal a praça principal? aquela com a estátua.- é uma cidade bem pequena então não é como se existisse muitas praças, mas essa em específico era a maior praça da cidade e ela possuía uma enorme estátua, além de ser afastada da minha casa assim ele não descobririam tão cedo onde eu morava e também, porque era um local relativamente fácil de tirar fotos e fazer o maldito trabalho.

-Pode ser-

-Que dia a gente se encontra então? Temos que tirar as fotos e discutir oque vamos escrever na cartolina, isso a gente pode fazer lá na praça mesmo-

-Tá livre amanhã às duas da tarde? Quanto antes terminarmos isso, melhor-

-Ok- pela primeira vez eu concordo com ele.

E o sinal toca novamente anunciando o recreio.

...

-  Cara eu tava me segurando tanto pra não soltar um gargalhada no meio de todo mundo!- fala Wallace rindo

Dou um leve soco no ombro dele, que se segue com um gemido de dor.

-Pra quê partir pra violência?-

-Pra você deixar de ser idiota-

-Mau humorado... Enfim, oque vocês falaram naqueles minutos de fim de aula?-

-A gente combinou que ia falar da praça principal e vamos nos encontrar amanhã de tarde-

-A praça principal... Hum- fala pensativo.

Outro soco.
-Se você roubar minha ideia eu rasgo seu trabalho na frente do professor-

-Tava brincando! E pare de me bater!-

Suspiro e logo pego mais um punhado de salgadinhos dentro do pacote e levo até a boca, pensando no quão azarado eu sou. E com mais uma espiada eu vejo ele novamente sentado na mesa conversando, Jake está conversando com um grupo de meninos que eu não conheço.

Ah, são os meninos que estavam assistindo o jogo de vôlei!

A essência de uma flor carmesim Where stories live. Discover now