Capítulo 12 - Entre o Remorso e a Esperança

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"A dor pode se esconder nas sombras mais escuras, mas é a luz da coragem que nos guia para fora delas."

Alex caminhou pelas ruas silenciosas da cidade, sentindo a brisa fresca da noite acariciar seu rosto. Ele estava imerso em pensamentos sobre a noite que acabara de ter com Hannah, revivendo cada momento em sua mente. As luzes dos postes iluminavam o caminho, criando sombras longas que se estendiam pelo chão, como tentáculos se movendo ao seu redor.

O rapaz sorria sozinho, feliz por ter passado um tempo tranquilo com Hannah. Foi uma caminhada simples, mas significativa para ele. Alex se sentia grato por ter tido a chance de conversar com ela, de compartilhar um pouco de sua vida com alguém tão especial. Ele se pensou nas risadas compartilhadas, nos olhares furtivos trocados, nas histórias que contaram um ao outro. Cada gesto, cada palavra, cada expressão em seu rosto parecia gravado em sua mente, como se a noite tivesse se tornado uma obra de arte preciosa, imortalizada em suas lembranças.

Enquanto caminhava, ele passou por alguns becos escuros, o rapaz teve uma sensação de déjà vu, sua mente vagou para o passado. Ele se lembrou de uma época em que estava envolvido com as drogas e de como tudo havia começado, com a morte do pai e a chegada do padrasto abusivo em sua vida. Ele culpava sua mãe por ter permitido que o homem entrasse em suas vidas, trazendo consigo tanta dor e sofrimento. Alex se lembrava das vezes em que o padrasto chegava em casa bêbado, descontando sua raiva e frustração nele. Era como se o homem o culpasse por seus fracassos.

O jovem sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao se lembrar de uma das piores noites de sua vida. Era tarde da noite quando seu padrasto chegou em casa completamente embriagado, gritando e quebrando tudo o que encontrava pela frente.

- Alex, garoto estupido! Cadê você?

Alex tentou se esconder no quarto, mas não teve sucesso. Seu padrasto o encontrou e começou a descontar toda sua raiva no jovem, batendo nele com força e sem piedade.

Alex se lembrava da dor insuportável que sentiu, cada soco parecia que iria acabar com sua vida. Ele gritava por ajuda, mas sua mãe estava tão acostumada com as atitudes violentas de seu padrasto que não se importou em intervir. Quando finalmente seu padrasto se cansou e foi dormir, Alex mal conseguia se mover.

No dia seguinte, sua mãe o levou para o hospital, onde ele passou dias se recuperando das lesões e dos traumas emocionais. Quando perguntaram o que havia acontecido, sua mãe e padrasto mentiram descaradamente, inventando desculpas para justificar as feridas. Alex sentiu uma mistura de ódio, raiva e tristeza. Ele se perguntava como sua mãe poderia permitir que aquilo acontecesse e por que ela continuava a acreditar nas mentiras do padrasto.

Era difícil para Alex entender por que sua mãe tinha escolhido aquele homem. Ela não conseguia ver a dor que o filho estava sentindo, não conseguia ver que ele estava se afundando cada vez mais em um poço sem fundo. Alex não conseguia perdoá-la por ter permitido que aquilo acontecesse.

Mas a culpa não era só da mãe, Alex também culpava seus amigos por terem o levado ao caminho das drogas. Eles ofereciam as substâncias como se fosse a coisa mais normal do mundo, sem perceber o quanto estavam prejudicando a vida do amigo. E quando Alex mais precisou, eles o abandonaram, deixando-o sozinho para lidar com seus demônios internos.

E, no entanto, a maior culpa recaía sobre Alex. Ele se sentia fraco por ter se deixado levar pelas drogas, por não ter conseguido lidar com seus problemas de uma maneira mais saudável. Ele se culpava por ter permitido que aquilo tomasse conta de sua vida, por ter se afastado de tudo o que era bom.

Mas havia uma exceção em sua vida, alguém que mantinha sua mente sã: Hannah. Ele conheceu ela a pouco tempo, no dia em que saiu do centro de reabilitação. Ele se perguntava se a tivesse conhecido antes, teria se envolvido com drogas? A resposta era incerta, mas ele sabia que agora, com ela em sua vida, tudo parecia um pouco mais brilhante, um pouco mais possível.

Ele decidiu que, a partir daquele dia, se afastaria de tudo o que pudesse levá-lo de volta às drogas e a pessoas tóxicas. Ele não queria que Hannah visse esse lado sombrio dele, queria ser a melhor versão de si mesmo para ela.

Alex se concentrou na agradável sensação de se aproximar de Hannah. Ele segurou a sacola de papel em suas mãos, sentindo o cheiro do muffin de chocolate que ela havia embalado para ele. Essa pequena lembrança o fez sorrir mais uma vez e ele se sentiu grato por ter encontrado alguém tão especial em sua vida, naquela noite, ele descobrira que a felicidade não precisava ser complexa ou grandiosa; ela poderia ser encontrada em uma simples caminhada ao lado de alguém especial.

Ao chegar em seu pequeno apartamento, Alex suspirou profundamente e fechou a porta atrás de si. Ele caminhou até a sala e colocou sua mochila em uma mesa. Sentindo-se um pouco desapontado consigo mesmo, ele sabia que não havia tido coragem suficiente para entregar o livro a Hannah. Ele o tirou da mochila e o segurou em suas mãos, examinando a capa e imaginando como seria se ele tivesse tido a coragem de dá-lo a ela, como seria sua reação, o que ela pensaria dele.

Enquanto contemplava o livro, uma sensação de arrependimento o invadiu. Ele sabia que tinha perdido uma oportunidade importante de mostrar o quanto se importava com Hannah. "Talvez amanhã", ele pensou consigo mesmo, prometendo a si mesmo que seria mais corajoso na próxima vez.

Sentindo-se cansado, Alex decidiu tomar um banho para relaxar. Enquanto a água quente escorria sobre seu corpo, ele deixou seus pensamentos divagarem. Lembrou-se de sua promessa a Hannah de assistir a um drama coreano, algo que ele nunca havia feito antes. Ele riu para si mesmo, lembrando da cara dela quando ele prometeu aquilo.

Ao sair do chuveiro e se vestir, Alex se deitou confortavelmente no sofá e ligou a TV. Ele navegou pelos aplicativos de streaming em busca de um drama coreano que pudesse assistir. Lembrou-se das palavras de Hannah sobre seus hobbys, havia muitas coisas sobre ela que ele queria descobrir, mas seria paciente e daria espaço ao tempo.

Enquanto assistia ao drama escolhido, Alex se sentia imerso na história. As emoções retratadas na tela o envolviam, fazendo-o rir, e às vezes, se emocionar. Ele imaginou como seria compartilhar esses momentos com Hannah, discutindo os personagens e os desdobramentos da trama. A ideia de compartilhar mais uma paixão em comum com ela, além do livros, o deixava animado e ansioso pelo dia seguinte.

Alex adormeceu no sofá, com a TV ainda ligada. Seus pensamentos se concentraram em Hannah enquanto ele se entregava ao sono. Imagens de seu rosto doce e sorriso encantador dançavam em sua mente, trazendo um sentimento de paz e contentamento.

Enquanto dormia, Alex sonhava com momentos que ainda estavam por vir. Sonhava em caminhar de mãos dadas com Hannah por ruas ensolaradas, compartilhando risos e segredos. Sonhava em passar tardes preguiçosas juntos, lendo livros lado a lado, em silêncio confortável. Sonhava em ouvi-la contar suas histórias mais profundas e compartilhar seus medos mais íntimos.

Em seu sonho, Alex percebeu que Hannah era uma luz brilhante em sua vida, iluminando todos os cantos escuros e tristes que ele carregava consigo. Ela era a razão pela qual ele queria se tornar uma pessoa melhor, uma pessoa que pudesse merecer todo o amor e afeição que ela poderia oferecer.

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