ENCHANTED, MIN-HO

͏ ͏⋆꙳☆༚ᰢᩚ.OO2!)💭ⵌ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏

Eu me lembro claramente daquele dia, como se fosse ontem. Os olhares de pena no corredor da escola, as pessoas sussurrando condolências vazias, tentando esconder a inquietação de estarem diante da morte tão de perto. Parecia que o mundo havia perdido as cores. Tudo ao meu redor se tornou opaco, desprovido de vida e sentido.

Deslizei meu dedo pela tela do monitor à minha frente, verificando quanto tempo ainda restava até o pouso. Quarenta minutos. Tempo suficiente para terminar o filme, o que era uma boa distração para tentar sufocar o redemoinho de emoções que se agitava dentro de mim. Puxei o cobertor mais para cima, envolvendo-me em uma tentativa de criar algum conforto. Mas, naquele momento, o único abrigo que eu desejava era algo que não poderia ser encontrado em cobertores ou filmes românticos.

Finalmente, o piloto anunciou que havíamos chegado ao destino final. O som da sua voz me trouxe de volta à realidade com um sobressalto. Levantei-me rapidamente, ainda um pouco desorientada, e comecei a juntar minhas coisas de forma apressada, enfiando tudo dentro da mochila que sempre me acompanhava. Passei as mãos pelo cabelo, tentando ajeitá-lo antes de desembarcar, mas, sinceramente, pouco importava minha aparência. Afinal, ninguém estava lá para me esperar.

O aeroporto estava uma confusão de gente. Movimentos apressados, vozes em uma língua que eu ainda estava me esforçando para dominar. O coreano parecia muito mais rápido e fluido quando falado por nativos. Eu precisava praticar mais. Para testar minhas habilidades, parei algumas pessoas aleatórias, pedindo informações em coreano básico. Para minha surpresa, todas foram incrivelmente simpáticas, algumas até pareciam impressionadas com o esforço de uma estrangeira.

De longe, avistei minhas malas. As malas rosa, com adesivos coloridos que eu tinha colado como uma tentativa de manter um pedaço da minha identidade em meio a essa mudança radical. Fui até elas, desviando por entre as pessoas apressadas e, em uma tentativa desajeitada de correr, acabei esbarrando em alguns desconhecidos pelo caminho. Depois de um breve pedido de desculpas, consegui agarrar minhas malas.

Olhei para o celular novamente, calculando quanto tempo eu tinha até o ônibus que me levaria à *Kiss Academy* — o colégio em que meu pai, de forma quase cruel, decidira me mandar. Se ele achava que me mandar para a Coreia, o país de origem da minha mãe, mudaria algo em mim, ele estava redondamente enganado. Eu não iria me transformar magicamente na filha perfeita só porque estava pisando no solo que minha mãe um dia conheceu.

Mas lá estava eu, com as malas em mãos, caminhando em direção à estação de ônibus. Não havia mais volta. Eu estava prestes a começar uma nova vida, em um lugar que me era ao mesmo tempo estranho e, de alguma forma, familiar. A ironia era que, por mais que eu quisesse odiar tudo aquilo, havia uma pequena parte de mim que ansiava pelo desconhecido. Quem sabe, na distância, eu poderia descobrir quem eu realmente sou, sem as sombras constantes de minha madrasta e da vida que ela parecia determinada a roubar de mim.

O ônibus imenso estava estacionado com um adesivo enorme da Kiss Academy, bem visível. Ao lado, um rapaz uniformizado organizava as malas no porta-malas, enquanto outro, mais sério, conferia se os passageiros eram realmente alunos da academia antes de permitir a entrada no veículo.

Cansada, me joguei em um dos últimos bancos do ônibus, perto da janela. Puxei meus fones de ouvido do bolso frontal da minha mochila rosa bebê, conectei-os ao celular e coloquei para tocar "Getaway Car", da Taylor Swift. Era a música perfeita para o momento, especialmente considerando que Taylor era minha cantora favorita.

Enquanto a melodia preenchia o espaço ao meu redor, aproveitei para responder algumas mensagens que haviam chegado. Minha melhor amiga, Laisa, enviou uma sequência de textos, lamentando minha partida e tentando me animar. Havia também mensagens de colegas da escola, expressando pena por eu não estar mais com eles. Eu tentava prestar atenção, mas minha mente vagava.