Latíbulo

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Estava em êxtase indo até o local indicado. No carro particular, enviei uma mensagem de texto para Thiago: "Estou a caminho :D". O trânsito estava calmo e tudo ajudava, nenhuma nuvem no céu podia atrapalhar aquele momento.
"Idem. Te vejo em alguns minutos, bolo de chocolate". Recebi aquela mensagem com um sorriso no rosto, quando o motorista parou no local indicado.
Entreguei o dinheiro ao motorista e ele me respondeu com um singelo "obrigada", ao sair do carro, caminhei até um quiosque que ficava um pouco longe do mar e aguardei sentada em um dos bancos altos.

— Olá, boa tarde. — Disse a balconista. Ela era loira, alta e da pele um pouco menos escura que a minha, ela estava com os cabelos presos num rabo de cavalo e usava uma espécie de avental com uma camiseta e uma calça (jeans) por baixo.

— Eu tenho um encontro. — Respondi sorrindo — Ele logo, logo chega.

Ela sorriu e arqueou as sobrancelhas demonstrado surpresa.

— Que ótimo! Qualquer coisa, pode chamar, certo?

— Muito obrigada. — Sorri.

Observei o lugar atentamente e percebi a vibe que passava. O vento um pouco forte por conta das ondas do mar e o cheiro do mar estava presente a todo momento.
Meu celular vibrou, me tirando daqueles detalhes.
"Estou aqui, onde vc está?". Me levantei e saindo do quiosque, dei de cara com Thiago mexendo no celular a uns vinte metros de distância. Caminhei até ele com um pouco depressa e o assustei dizendo:

— Me procurava?

Ele se assustou e ergueu o olhar para mim, foi quando riu e guardou o aparelho em seu bolso.

— Nem assustei! — Respondeu vindo me abraçar.

Aquilo me pegou de surpresa, o Thiago tinha um abraço apertado, bem forte e longo, parecia que já havíamos tido aquele toque antes. Depois de alguns segundos, nos separamos e ele ainda me mantinha em seus braços, me observou e iniciou um beijo.
Sabe quando o mundo para e você não sabe se aquilo é real ou não? Então, foi isso que eu senti. Pela primeira vez eu me senti viva, pelo menos alguns segundos. Após aquele beijo maravilhoso, eu o olhei fixamente e senti as minhas bochechas arderem um pouco por conta da vergonha. Mas não importava, o que importava era ele e eu naquele momento.
Caminhamos por alguns minutos sobre o calçadão da praia, e durante nossa conversa, decidimos ir comprar o bolo que ele tanto falava a cada 5 minutos durante qualquer assunto.
Entramos em uma doceria e escolhemos um bolo pequeno de chocolate belga com recheio de brigadeiro. Pedimos chá gelado para acompanhar e logo em seguida saímos da loja voltando ao calçadão que nos levava para o mar.

— Tem um lugar muito legal que eu queria que você conhecesse. — Disse Thiago retirando suas sandálias para caminhar pela areia.

Acenei e o ajudei a pegar os calçados. Em seguida eu fiz o mesmo e pendurei os calçados em meus dedos e iniciamos por fim a caminhada. O sol estava ameno, a areia um pouco quente, mas estar ali com ele era a melhor coisa. Caminhamos calado um ao lado do outro enquanto ele segurava a torta e eu os chás. Assim que chegamos a um amontoado de pedras, ele disse:

— É aqui, vem!

Thiago começou a subir nas pedras um pouco sem equilíbrio e eu o seguindo.

— Não ouse em cair. — Disse rindo.

— Cair? Sou perito nisso.

Continuamos até pararmos na maior pedra que estava atrás daquele amontoado de pedras. A visão daquele lugar era incrível, parecia que o mar iria nos engolir a qualquer minuto, e o sol era a visão mais clara de toda a paisagem. Ao pararmos, fiquei imersa sobre aquele mar e as ondas.

— Gostou? — Thiago interrompeu meus pensamentos.

— Se eu gostei? Na verdade, eu adorei isso tudo!

Ele se ajeitou na pedra e começamos a conversar sobre o mar e as ondas, enquanto isso, nós comíamos o bolo e o chá não estava mais tão gelado assim. Depois de alguns minutos de conversas e risadas, paramos e por fim, nos beijamos e eu aproveitei ao máximo o que podia.
Ao início da noite, eu e o Thiago saímos daquele local, pois já começava a ficar frio por conta do mar e o vento.
Caminhamos um pouco pela calçada enquanto a rua ainda estava movimentada.

— Eu sei que pode soar que eu estou tentando te usar, mas, você se importaria em passar a noite comigo?

Aquilo me pegou de surpresa enquanto caminhávamos sobre a calçada. Havia muitas pessoas ao nosso redor: pessoas caminhando com seus animais de estimação, pessoas correndo a pé, de bike, skatistas e famílias diversas saindo de lugares como a sorveteria.
Suspirei e pensei alguns segundos.

— Tudo bem. Poderia ser em minha casa? — O questionei.

— Claro que sim, eu queria ficar mais um tempo contigo esta noite. — Ele respondeu sorrindo.

Eu pensei que poderia ser uma boa ideia eu o levar para o meu apartamento e não eu ir para o dele, estaria bem mais segura caso uma ansiedade repentina acontecesse. E não, não queria tomar remédios na frente do Thiago, não queria que ele me visse vulnerável desta maneira. Ele talvez me acharia fraca e poderia desistir de mim.

— Está tudo bem, Helena? — Thiago havia parado de caminhar.

— Está. — O respondi parando também.

A noite ocorreu tranquilamente enquanto estávamos juntos. Ele sempre sendo atencioso, divertido e brincalhão. Caminhamos mais um pouco e então decidimos ir para o meu apartamento. Assim que chegamos na portaria e passamos por ela, o avisei:

— Olha, não repara no lugar. É bem pequeno. — Conclui tentando ser cautelosa.

— Eu não ligo, não sei se percebeu. — Ele sorriu para mim.

Adentramos o lugar e fechei a porta atrás de mim e em seguida liguei as luzes.

— É a sua cara este lugar. — Ele por fim falou observando atentamente a sala.

Andei até onde o Thiago estava e o olhei atentamente.

— Se você diz... — Me virei.

— Que fofinho! Você tem um hámster de estimação! — Thiago falou se abaixando em frente à gaiola da Anie. Ela continuava dormindo na rodinha que estava em sua gaiola.

— O nome dela é Anie. É basicamente a minha filha. Eu cuido dela e em troca, ela me enche de alegria.

Ele a observou mais um pouco e tentou brincar com ela, porém, ela não acordou.

— Acredito que a Anie está cansada. — Disse ele se levantando.

— Ela sempre está cansada, mas amanhã você irá vê-la com toda a alegria correndo para lá e para cá na gaiola.

Thiago se aproximou de mim e segurou em minhas mãos com firmeza.

— Eu não vim aqui pra isto, eu vim porquê quero cuidar de você e ter um vínculo.

Eu havia pensado em ir para cama com ele desde que tínhamos nos encontrado pela primeira vez, mas não queria ser atirada e fazer daquilo mais um capítulo da minha vida passageira. Suspirei e pensei no que a minha psicóloga falou nas diversas vezes em que estive em seu consultório para tratar dos meus pensamentos: Cuide-se, pela Anie.
Ou quando ela disse que eu era intensa demais para algumas pessoas que estavam em minha vida e eu pensei de fato que essa pessoa era a minha mãe.

— Thiago, eu realmente não queria ser uma mentirosa e dizer que eu não pensei nisso desde que te vi pela primeira vez. Eu também não quero apressar as coisas... — Abaixei o rosto e não consegui o olhar nos olhos.

Mas, como sempre, ele foi atencioso e me acalmou. Conversamos por alguns minutos e ele decidiu tomar um banho antes de deitar.

— Você trouxe alguma roupa? — Perguntei.

— Sim. Estava com ela o tempo todo em meu carro. — Ele mostrou a mochila preta que estava em suas mãos.

— Você pensa em tudo.

Ele afirmou com a cabeça e apontou para o banheiro.

— Eu creio que ali fica o seu banheiro, certo?

— Hm...Certo, espertinho.

Thiago começou a caminhar até o banheiro, mas antes que ele entrasse de fato, palavras começaram a sair da minha boca:

— Posso tomar banho com você?

— Claro, Helena. — A resposta foi imediata.

Fui até ele e o toquei pelo ombro. Tiramos nossas roupas e o seu corpo era o que eu já imaginava, mas o observar de perto e ao vivo era bem melhor. Seu peito era forte e cabeludo, seus braços eram lindos e suas coxas bem grossas. Fingi que não tinha reparado em seu membro pouco ereto por me ver daquele jeito. Eu estava um pouco envergonhada e vulnerável, entretanto, eu não era a única naquele espaço que se sentia desse jeito. Após ajeitar a temperatura da água, nós dois entramos em baixo da água e aproveitamos enquanto eu repousava sobre seu ombro e a água descia sobre nossos corpos.
Não falamos nada um para o outro enquanto estávamos ali, ali parecia o meu refúgio, o único lugar em que eu deveria estar naquele momento.
Ao sairmos do banheiro, entreguei uma toalha limpa para Thiago enquanto estava enrolada sobre a minha.


— Está com frio? — O perguntei quando voltei para o quarto e o vi deitado sobre a cama.

— Não muito, um homem como eu não sente tanto frio assim.

Balancei a cabeça e entreguei um cobertor para ele. Por sorte, eu amava espaços e a minha cama era de casal e iria caber nós dois nela. Me sentei ao seu lado e puxei o meu cobertor para as minhas pernas. Minha roupa de dormir não era uma das melhores porquê tinha estampa de gatinho no babydoll e assim me deixava um pouco envergonhada por dormir assim ao lado dele pela primeira vez.

— Você é linda.

Senti seu beijo em minha testa e comecei a me ajeitar para colocar a cabeça em seu peito. A luz foi apagada e o escuro tomou conta.

— Helena...

O silêncio voltou e eu só conseguia ouvir nossas respirações.

— Desculpa por aquele incidente em seu banheiro, mas eu não controlo.

Soltei uma gargalhada. Ele realmente estava se desculpando por ficar ereto na minha frente?

— Você não é deste mundo. — Respondi.

— Não, não sou.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 19, 2023 ⏰

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