Alegria, contentamento e júbilo.

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— Você irá amar este aparelho. — A vendedora falou enquanto me entregava a sacola.



Sorri e estiquei meu braço e o peguei.



— Muito obrigada. — Caminhei para fora da loja.



O movimento do centro da cidade estava a mil, muitas pessoas indo e vindo, um fluxo intenso.

Voltei para casa apressada em abrir aquele pacote e entender meu novo aparelho. Comprei um mais caro de uma cor clara, só para não fica incomunicável.

A campainha me tirou da minha alegria enquanto abria a caixa que continha o meu celular, mas ao abrir a porta me deparei com a minha irmã e logo dei passagem para que ela entrasse.



— Oi. — Ela disse seco enquanto adentrava o apartamento com seus saltos finos e um vestido colado no corpo. O cabelo estava preso num coque alto.



— Tudo bem, tudo bem. O que você quer dessa vez? — Perguntei.



Ela se virou para mim.



— Preciso de cinco mil desta vez.



Fechei a porta trás de mim e a encarei. Ela observava o lugar com um certo nojo.



— Não tenho isso tudo, Camile.



— Como não tem, Helena? Você mora sozinha, não tem amigos e nem namorado...



Engoli seco e mirei o meu olhar para seus brincos. Aqueles brincos já foram meus, e eu não entendia o porquê dela estar usando aquilo, minha mãe havia me dado eles de presente aos 15 anos, umas das poucas coisas que ela já me deu de coração.



— HE-LE-NA! — Exclamou ela.



— Tudo bem! Essa é a última vez, ok? — Abri a gaveta da sala e tirei de lá algumas notas e as contei, em seguida entreguei a ela.



— Muito obrigada, irmãzinha. — Disse ela com um sorriso grande em seu rosto.



Ao sair pela porta, ela me deu um aceno e sumiu. Suspirei fundo, porém, toda a vontade que eu tinha de falar inúmeras coisas para ela permanecia ali dentro de mim, mas a coragem não estava lá. A pessoa que dava orgulho a nossa mãe, na verdade era uma mentirosa que fingia gostar do homem que a nossa mãe escolhera. E, sempre que podia me pedia dinheiro para sair com o seu amante.

Fechei a porta e me sentei no chão com a Anie me observando mexer em meu novo celular.



— Olha isso, como é as câmeras dele. Eu nunca tive um celular igual a esses modernos, acredita? — Mostrei para ela.



Enquanto descobria novas funções naquele pequeno e potente aparelho, eu pensava em segundo plano na noite de sexta-feira. O que eu iria vestir? O que calçar? O que usar?

Outras perguntas como: O que o Thiago estava pensando naquele exato momento?

Entre outras coisas que estava pairando sobre a minha cabeça. A coisa mais chata era que, na quinta o meu atestado acabava e teria que voltar a rotina chata do trabalho.

O dia foi chato e vazio, como se eu precisasse de algo naquele momento para me ajudar a relaxar, e um banho quente me ajudou bastante.





Os dias se passaram normalmente e eu continuei com uma ansiedade enorme para a chegada da sexta-feira, e então ela chegou. Havia anos que eu não tinha um encontro como aquele, que me fizesse acreditar em algo puro, mágico e, ao mesmo tempo incrível. Usei roupas confortáveis e dei aquela breve ajeitada em meus cabelos. A minha franja parecia estar rebelde, porém eu dei um jeito nela.

Fui de carro particular até o bar, e só talvez eu tenha chegado cedo demais e tudo ainda estava meio quieto. Sentei-me no lugar onde estava acostumada e esperei o horário chegar.

Thiago chegou no horário certo, e sim, eu chequei pelo meu celular. Ele estava lindo, usava uma calça simples, mas parecia que até o simples o deixava lindo demais para ser verdade. Sua camiseta de mangas curtas combinava com o sapato fechado, e a sua barba havia crescido um pouco mais durante aqueles dias que se passaram.



— Demorei? — Ele puxou a cadeira em minha frente e se sentou em seguida. O cheiro do perfume dele estava pairando sobre mim, me deixando maravilhada.



— Claro que não, eu que sou apressada.



— Não, não é, é o seu jeito de ser.



O garçom chegou próximo de nós e desta vez eu escolhi outro número do cardápio. Assim que fizemos o pedido, Thiago voltou para a nossa conversa.



— E como passou estes dias? — Ele parecia animado com sua fala.



— Bom, eu passei bem, só pensando em como iria te refutar.



— Me refutar? Olha, a princípio eu não parecia um louco com teorias.



— Nem um pouco! — Ironizei.



— Não, é sério, perceba que tudo o que eu falo é com embasamento.



— Qual? Me diga que a sua teoria sobre os famosos está correta e que tem provas concretas, eu quero provas.



— Mais? Só dos pontos que coloquei sobre o vídeo do Michael já se percebe, dona Helena.



Fiz um bico ignorando totalmente a fala dele.



— Você é fora da "casinha". — Conclui.



— Se eu fosse assim você não estaria saindo comigo hoje, ou estou errado?



Pensei. E ele estava super correto sobre aquilo, ele me fazia sair do automático, eu não estava no tédio ou queria mexer no celular para sair de uma situação louca, na verdade, ele me deixava entretida de um jeito bom.



— Super certo. Eu gosto de homens assim.



— Tenho um ponto então?



Balancei a cabeça e fui incapaz de falar algo.



— Bom, dá uma nota de 1 a 10 para mim até o momento.



— Cinco. — Respondi rápido.



— Tudo bem, eu adorei a nota até o momento.



O garçom trouxe nossas bebidas, e eu dei um gole de primeira assim que foi colocado na mesa.



— O que você gosta de fazer? — Thiago perguntou.



— Eu adoro ouvir músicas, caminhar, observar o mar... E você?



— Eu adoro o mar, adoro assistir filmes de comédia e amo tortas.



— Eu também amo tortas, que coincidência!



— Comer torta em frente ao mar deve ser uma experiência e tanto.



Pensei na possibilidade e nos imaginei naquela cena.



— Nunca fiz isso.



— Olha só, que outra coincidência. Eu também não! — Ele riu enquanto falava.



Ficamos em um silêncio confortável até o garçom colocar nossas comidas na mesa e distribuir os pratos. Os outros caras em que conheci, sempre falavam e falavam e nunca me deixava responder e no final sempre ficava um silêncio constrangedor. Com o Thiago foi diferente, ELE era diferente em tudo, até no modo em que se expressava.

O jantar estava delicioso e tudo na medida certa. Nada mais perfeito poderia se encaixar naquela noite preciosa e tranquila, parecia que só estava eu e o Thiago no mundo.



— Tudo bem, tudo bem — Ele balançou as mãos rindo — Imagine só, chocolate com cachorro-quente? Imagina na mistura?



Começamos a rir juntos, e a minha barriga doeu um pouco e eu fui me controlando aos poucos para parar de rir.



— Senhora? — O garçom me olhou.



— Sim? — Olhei para ele tentando me acalmar e procurar algum conforto nos olhos do garçom que ali estava.



— Desculpe-me, mas a cozinha já fechou e o restaurante irá fechar as portas em 10 minutos.



Olhei o horário no meu celular que estava na bolsa, eram 22h.



— Nossa, já é isso tudo? Desculpa, desculpa mesmo pelo inconveniente, estamos indo.



O garçom abriu um sorriso amarelo, suspirou fundo e saiu.



Insisti para pagar a conta, não iria deixar que ele pagasse por aquilo tudo e sugeri a nossa torta em frente ao mar fosse na conta dele, e o Thiago concordou. Saímos em fim do local e ficamos em frente a ele enquanto ouvíamos os barulhos de panelas e torneiras ao lado de fora.



— Bom, podemos realmente fazer o show de torta em frente ao mar? — Ele quebrou o silêncio.



— Claro, em qual praia?



— A da costa, amanhã. Tudo bem para você? Se não puder eu irei compreender porque... — Não deixei ele terminar a frase e me atirei em frente a ele e o beijei. Ele retribuiu me segurando pela nuca e me puxando para perto. Não consegui me segurar, foi mais forte do que eu, parecia que o beijo durou uns 3 minutos, ou até mais. Enquanto o beijava, ouvia novamente aquelas vozes sussurrantes em meu ouvido, como se fosse um zumbindo e isso acabou me atrapalhando um pouco, me deixando desnorteada. Por fim finalizamos o beijo e eu fiquei cara a cara com o Thiago que parecia um anjo em minha frente, o mundo lá fora já não importava para mim, só ele.



— Me desculpa. — Falei bem próximo ao seu rosto.



— Desculpar? Pelo quê? Se você não fizesse isso, eu juro que iria fazer em breve, mas não queria ser desrespeitoso.



Me desprendi do seu abraço e puxei a minha bolsa pelo ombro.



— Não, claro que não. Você é uma ótima pessoa, Thiago.



Eu fiquei um pouco envergonhada pelo beijo roubado, mas ele soube me acalmar e me deixar despreocupada. Fui para casa após terminar a conversa, trocamos os nossos números e ele me jurou que iria mandar uma mensagem de texto assim que chegasse em casa e por fim, nos despedimos com um abraço. Peguei um carro particular, e ao chegar, tomei um banho longo e contei tudo a Anie, que me esperava comendo o seu jantar que já estava na gaiola.

Assim que a mensagem chegou em meu aparelho, voei para pegá-lo em cima da cama.

"Cheguei bem, e você? :D". Sorri para o telefone.

"Tá tudo bem por aqui. :)". Enviei.

Após alguns segundos de espera, outra mensagem chega.

"Estou ansioso para amanhã. Bolo de chocolate".

"Bolo de chocolate será seu apelido agora, bolo de chocolate!". Gargalhei ao enviar a mensagem.

"Isso é errado da sua parte, eu deveria colocar um apelido em você primeiro" - Ele respondeu. Pensei que ele poderia estar rindo naquele momento, então o respondi logo em seguida: "Não mesmo, assim não vale, bolo de chocolate".

Depois de algum tempo enviando e recebendo mensagens, ele decidiu que iria dormir e logo em seguida nos despedimos.



— Helena? Entendeu? — Uma voz me tirou dos meus pensamentos.



Pisquei algumas vezes e vi Caio, meu colega insuportável do trabalho me questionando sobre algo que não levei muito a sério.



— Caio, olha... — Comecei a falar e ele logo me interrompeu.



— Helena, você nunca me deu uma chance. Eu sou feio por acaso? Sou chato? Eu gosto tanto de você. Eu sou um cara tão divertido, mas parece mesmo que as mulheres só gostam de homens que as desprezam.



Pisquei os olhos incrédula com aquela fala. Coloquei as mãos em minha cabeça tentando lembrar o que eu estava fazendo anteriormente.



— Helena, preciso do contrato que te pedi, AGORA! — Gritou o advogado Alberto ao passar pela minha mesa.



Suspirei fundo quase surtando.



— Me responde! — Exclamou Caio.



O olhei de cima a baixo com o rosto sério e me abaixei para pegar os papéis que estavam na gaveta e em seguida sai.

Caio estava me tirando do sério novamente, não era a primeira vez que ele me enchia de perguntas e forçava a barra. Como era sábado, eu iria sair mais cedo do trabalho, pois sempre utilizamos os sábados para as organizações dos contratos e papéis importantes, graças a mulher insuportável do dono. Sábado sempre foi o pior dia para se trabalhar, mas assim que terminou sai correndo daquele maldito escritório e logo encaminhei uma mensagem para o Thiago: "Te vejo já, já ^^".

Demorou alguns minutos para a resposta, mas ela veio. "Estou ansioso, cobertura".

"Cobertura?". Enviei sem entender aquele apelido.

"Sim, cobertura. Você é a cobertura do meu bolo de chocolate. Te vejo daqui a pouco".

Sorri para o telefone e encerramos a conversa.

Voltei para casa e comecei a me preparar para sair, coloquei uma roupa mais leve e sandálias, penteei o meu cabelo e a minha franjinha estava intacta.



— Anie! — Gritei na sala para ela — Eu tenho um encontro magnífico! — Sorri ao final da frase.



Isso é se sentir viva?

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