𝐕𝐈. O encontro com o Agente Whisky

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— Posso te dar um Dramin se quiser. - Eggsy sentou na espaçosa poltrona ao meu lado.

Ele estava mais relaxado do que de costume e aquilo deixava a minha ansiedade pouco menos aflorada, o que era raro depois das duas semanas. Estávamos naquele avião de pequeno porte, onde íamos Eggsy, uma aeromoça, o piloto e o copiloto naquela máquina que me causava arrepios.

Ah sim, não posso esquecer de mencionar como havíamos chegado ali: poucas doze horas depois das fotos e da conversa difícil com Harry, fui preparada por Merlin para a viagem até os U.S.A.. Sem previsão de volta para casa, sem malas, sem sequer uma escova de dentes e menos ainda uma de cabelo. Éramos só eu e o bebê na barriga e, como eu não estava pelada, um macacão laranja bonitinho com uma bota rosa para as chuvas que banhavam Londres.

— Ainda não fiz nenhum pré natal, não posso tomar qualquer coisa para o enjoo. - Eu respondi, o vendo mudar a postura e acenar com a cabeça com um belo sorriso nos lábios. — Mas obrigada mesmo assim.

Eggsy era o único deles que eu podia notar forçar um riso, acredito que para tornar os dias menos pesados e dolorosos, ele fazia isso. Sorria. O homem, que mais tinha uma aparência de um adolescente de dezessete anos, tinha os bolsos cheios de balas de caramelo e quando eu estava prestes a desabar, Eggsy oferecia uma mão cheia delas e eu conseguia me recompor sem derramar uma lágrima.

— A minha noiva gosta de Dramin. Os enjoos matutinos passam rapidinho e ela recupera a cor em uns dez minutos, no máximo. - Eggsy puxou uma pequena manta sobre as pernas e afundou a cabeça no travesseiro que carregava consigo a viagem toda. — Mas você tem razão. Depois que passar num médico, vai poder saber qual o melhor remédio pra você.

— Eggsy... você vai ser pai?

Foi a única coisa que prestei atenção antes de perder-me na linha de raciocínio. O garoto que parecia ter a minha idade, ou até menos, ia ser pai?

— Sim. A gente ainda não contou pra ninguém e...

— Você acabou de contar para mim, uma estranha! - Eu o interrompi, me desdobrando na poltrona para ficar mais próxima dele.

— Conversei com a Tilde e ela disse que estava tudo bem falar para você. - Ele explicou com a mesma expressão calma de antes.

Meus lábios curvaram-se em um sorriso, agradecendo por alguém finalmente me tratar como uma pessoa real, sem tramas ocultas ou manipulações.

— E não é como se você fosse contar para alguém... - Ele completou, rindo como se zombasse da própria situação.

— Não mesmo. - Concordei, enquanto a luz da cabine se apagava, deixando-me com a imagem gentil dos olhos de Eggsy gravada na minha mente.

Naquele momento, percebi o quão grata estava por ter Eggsy ao meu lado, um raio de luz em meio à escuridão incerta que me aguardava.

Eu passei boa parte da minha vida sonhando em ter um irmão, uma grande obsessão que eu fiz questão de levar aos meus pais e eles cumpriram, sonhando com a criança que até já tinha nome. Ah, William... Era assim que o chamávamos, e a paixão que meus pais nutriam por ele transbordava para mim. Pinturas, decorações minuciosas e roupas pequeninas preenchiam os nossos dias. Minha mãe, com a barriga de seis meses ressaltada por vestidos que destacavam sua beleza, parecia a personificação dos primeiros raios dourados do verão após a primavera.

A beleza de mamãe ficou cravada na minha pele, porém, eu tinha muito medo de que a minha beleza exterior não fosse um reflexo fiel daquilo que residia em seu interior. Eu estava num círculo, girando em torno de tudo que aconteceu e pensando se ter um filho era a melhor escolha, se eu conseguiria ser mãe daquela criança como ela tinha conseguido ser a minha. E se, talvez, eu fosse ser o tipo de mãe que ela havia sido para o bebê William? Então eu estava mesmo em pânico com a ideia de que eu podia morrer, que Nowak estava mesmo tentando me matar.

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⏰ Last updated: Aug 18, 2023 ⏰

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