Capítulo 5.

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POV. Wednesday Addams.

Está muito silencioso. A luz está apagada. Sinto-me confortável e quentinha nesta cama.

Hum... Abro os olhos, e, por um momento, curto o ambiente estranho e desconhecido, tranquila e serena.

Não tenho ideia de onde estou. A cabeceira atrás de mim tem a forma de um sol imenso. É estranhamente familiar. O quarto é amplo e arejado, mobiliado luxuosamente em tons denmarrom, dourado e bege.

Já o vi antes. Onde? Meu cérebro atordoado se esforça para examinar a memória visual recente. Puta merda. Estou no Hotel Heathman... em uma suíte.

Já estive com Bia em um quarto semelhante. Este parece maior. Ai, merda, é a suíte de Enid Sinclair. Como vim parar aqui?

Lembranças fragmentadas da noite de ontem voltam lentamente para me assombrar.

A bebedeira, ah não, a bebedeira, o telefonema, ah não, o telefonema, o vômito, ah não, o vômito.

Xavier e Enid. Ah, não. Contraio-me por dentro. Não me lembro de vir para cá. Estou de camiseta, sutiã e calcinha. Sem meias. Sem calça jeans. Puta merda.

Olho para a mesa de cabeceira. Nela, há um copo de suco de
laranja e dois comprimidos. Advil. Maníaca por controle do jeito que é, ela pensa em tudo.

Sento-me na cama e tomo os comprimidos. Na verdade, não me sinto tão mal assim. Provavelmente, estou muito
melhor do que mereço.

O suco de laranja está divino. Mata a sede e refresca. Ouço uma batida na porta. Meu coração sobe até a boca e fico
sem voz.

Ela abre a porta assim mesmo e entra. Que inferno, ela estava malhando. Está com uma calça de moletom cinza caída daquele jeito nos quadris, e com um tope cinza que mostra sua barriga trincada, o tope está molhado de suor, assim como seu cabelo.

Suor de Enid Sinclair. Só a ideia já faz com que eu me sinta esquisita. Respiro fundo e fecho os olhos. Pareço uma garotinha de dois anos. Se eu fechar os
olhos, não estarei realmente aqui.

— Bom dia, Wednesday. Como está se sentindo?

— Melhor do que mereço — resmungo.

Olho para ela. Enid deixa uma grande sacola de compras em uma cadeira e segura as duas pontas da toalha que está em volta do seu pescoço.

Está me encarando, seus os olhos azuis estão sombrios, e, como sempre, não tenho ideia do que está pensando. Ela esconde os pensamentos e os sentimentos muito bem.

— Como vim parar aqui? — Minha voz é baixa, cheia de
arrependimento.

Ela se senta na beira da cama. Está perto o suficiente para que eu a toque, para que eu a cheire.

Ai, meu Deus... suor, sabonete e Enid. É um coquetel embriagador. Muito melhor que uma margarita, e agora falo por experiência própria.

— Depois que você desmaiou, eu não quis arriscar o estofamento de couro do meu carro levando-a até sua casa. Então eu a trouxe para cá. — diz ela com frieza.

— Você me colocou na cama?

— Sim. — A expressão de seu rosto é imperturbável.

— Eu vomitei de novo? — Minha voz diminui ainda mais.

— Não.

— Você me despiu? — murmuro.

— Sim. — Ela ergue uma sobrancelha para mim enquanto eu enrubeço intensamente.

— A gente não...? — sussurro, a boca seca de aflição ao não conseguir completar a pergunta. Olho para minhas mãos.

— Wednesday, você estava num estado comatoso. Necrofilia não é minha praia. Gosto de mulheres conscientes e receptivas — diz ela secamente.

Cinquenta tons de cinza (Wenclair)Where stories live. Discover now