Capítulo 2.

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POV. Wednesday Addams.

Meu coração está palpitando. O elevador chega ao primeiro andar, e saio às pressas tão logo as portas se abrem. Tropeço de novo, mas, felizmente, sem me estatelar no imaculado piso de arenito.

Corro para as largas portas de vidro e logo estou livre no ar revigorante, limpo e úmido de Seattle. Erguendo o rosto, recebo com prazer a chuva refrescante.

Fecho os olhos e respiro fundo, purificando-me, tentando recuperar o equilíbrio que me resta.

Mulher nenhuma jamais me afetou como Enid Sinclair, e não consigo entender por quê. Será sua aparência? Sua educação? Riqueza? Poder?

Não entendo minha reação irracional. Dou um imenso suspiro de alívio. O que foi aquilo tudo, pelo amor de Deus?

Encostada nos pilares de aço do prédio, tento valentemente me
acalmar e organizar meus pensamentos. Balanço a cabeça.

O que foi isso? Meu coração se estabiliza no ritmo normal, e consigo respirar tranquilamente de novo. Encaminho-me para o carro.

                         * * *

Deixando para trás os limites da cidade, começo a me sentir tola e envergonhada ao repassar mentalmente a entrevista.

Com certeza, estou tendo uma reação exagerada a algo imaginário. Tudo bem, então ela é muito atraente, segura, autoritária, à vontade consigo mesmo, mas, por outro lado, é arrogante, e apesar de todos aqueles modos impecáveis, é autocrática e fria. Bem, superficialmente.

Um arrepio involuntário desce pela minha espinha. Ela pode ser arrogante, mas tem o direito de ser, já realizou muita coisa, numa idade muito Precoce.

Não tem paciência para lidar com idiotas, mas por que deveria? De novo, estou irritada pelo fato de Bianca não ter me fornecido uma pequena biografia.

Enquanto vou em direção à Rodovia Interestadual 5, minha mente continua vagando. Estou verdadeiramente perplexa quanto ao que faz alguém ser tão direcionado ao sucesso. Algumas de suas respostas foram muito enigmáticas, como se ela tivesse intenções ocultas.

E as perguntas de Bianca... Argh! Sobre a adoção e se ela era gay! Mesmo ela sendo, Estremeço.

Não posso acreditar que eu disse aquilo. Quero me enfiar num buraco! Toda vez que eu pensar nessa pergunta, vou morrer de vergonha. Maldita Bianca Barcley!

Confiro o velocímetro. Estou dirigindo com mais cautela do que estaria em qualquer outra ocasião. E sei que é por causa da lembrança de dois penetrantes olhos azuis me encarando e da voz austera me dizendo para dirigir com cuidado.

Balançando a cabeça, me dou conta de que Sinclair parece uma mulher com o dobro de sua idade.

Esqueça isso, Wednesday, eu me repreendo. Decido que, no geral, foi uma experiência interessante, mas que não devo ficar pensando nela.

Não pense mais nisso. Não vou vê-la nunca mais. Imediatamente, me animo com essa ideia. Ligo o som e aumento o volume, recosto no banco e ouço o rock indie retumbante enquanto piso no acelerador.

Quando alcanço a Interestadual 5, percebo que posso dirigir na velocidade que eu quiser.

Moramos num pequeno condomínio de apartamentos dúplex em Vancouver, perto do campus da WSU. Tenho sorte os pais de Bia compraram o apartamento para ela, e eu pago uma ninharia de aluguel.

Já é meu lar há quatro anos. Quando estaciono na frente de casa, sei que Bianca vai querer um relato detalhado, e ela é tenaz. Bem, pelo menos ela tem o gravador. Espero não ter que elaborar muito além do que foi dito na entrevista.

Cinquenta tons de cinza (Wenclair)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora