Capitulo 7 :

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ARTHUR

Impaciente, mal presto atenção na reunião mensal com o pessoal do executivo, que eu deveria estar ministrando. Como se o encontro ocorresse em uma sala ao lado, e não diante de mim, tudo que falam parece sem importância. Observo tudo sem enxergar absolutamente nada, escutando apenas um zumbido de vozes distintas. Não compreendo porra nenhuma do assunto, mesmo sendo importante que eu saiba do que se trata. Minha cabeça está presa em um único tema, martelando sem freios de tal modo, que mal dormi pensando nele, angustiado e perturbado, sem saber quais atitudes ao certo tomar. Eu me sinto perdido, atormentado e até mesmo claustrofóbico.



Não posso ignorar o assunto como gostaria, fingir que não existe, porque se a criança realmente for minha, não quero negligenciá-la. Ainda mais se realmente tiver sido concebida na viagem. Isso tem cerca de quatro anos, quase a idade de Zé, meu afilhado, ou seja, na mesma época que Thiago, mas diferentemente dele, estou sabendo da novidade só agora. Tenho que dar absolutamente todo o suporte necessário que a situação exige. —


Xxx: Algo a acrescentar, Arthur? — o diretor administrativo questiona, intrigado, ao finalizar sua pequena palestra. Percebo que todos estão virados na minha direção esperando meu posicionamento enquanto estive divagando sem entender do que falavam.


Arthur: Preciso que me enviem pelo e-mail o balanço dos seus setores, vou conferir com mais calma.


Arrumo minha camisa social, desconfortável, querendo voltar aos pensamentos que estão vagando dentro de mim. Não consigo me manter atento como deveria, e como estou assumindo toda a função de Thiago, nada é decidido sem mim. Preciso saber exatamente o que está acontecendo, para poder repassar para ele os pormenores. A situação está tão séria, que sequer consigo prestar atenção ao meu trabalho. Mal descobri a possibilidade de que posso ser pai e já me sinto mal, me sinto repleto de inconsistências e dilemas, eternos dilemas de como devo agir estão afetando até mesmo o que sempre fiz com facilidade.


Xxx: Pelo visto a noite de ontem foi animada, o homem está dormindo acordado! — Rodrigo, o diretor comercial, faz piada e todos riem.


Minha inexpressividade e o semblante mais duro dá o recado silencioso que só eles acharam graça, imediatamente o piadista fica sem graça. Ainda que eu seja do grupo da farra, nunca escondi isso de ninguém, jamais negligenciei meu trabalho. Não costumo dar tal tipo de liberdade, ainda mais em uma reunião séria. Depois do trabalho, é outra história, mas enquanto eu estiver na minha função, exijo o respeito necessário como chefe. Sei muito bem separar as situações. E dos meus problemas, cuido eu, não são da conta de ninguém.



Arthur: Reunião encerrada. Cumpram suas funções, que seus empregos dependem disso — Mantenho meu tom como o olhar para todos que se tocam e saem com seus tablets.



Sozinho na sala, apoio o queixo nos meus dedos entrelaçados, pensativo, quase melancólico. Antes de qualquer atitude, preciso ter a confirmação que a criança de fato é minha, e se for, vou cumprir o que tem de ser feito. Só que casamento está fora de cogitação, isso está decretado. Eu evito surpresas para que algo como isso não aconteça, mas não fujo das minhas responsabilidades, e nesse caso não farei diferente. Sem querer esperar horário de almoço, interrompo meu trabalho, que mal foi iniciado, e com meu blazer e chave do carro na mão, passo em disparada pelo corredor onde está Luana, minha assistente.


Arthur: Vou precisar sair, volto após o almoço. — Ansioso, dou dois tapas rápidos na sua mesa, avisando da minha dispensa. Thiago entenderá minha falta hoje, afinal estou administrando duas empresas ao mesmo tempo.


O Canalha! Where stories live. Discover now