35. Segunda fase da rebeldia italiana.

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Corro pelo campo aberto, afundando meus pés na grama tão bem conhecida por mim. Eu costumava vir aqui apenas para senti-la debaixo de meus pés. O espaço amplo parece não ter fim, e se perdura pelo que eu imagino ser alguns quilômetros, claro, em minha mente desalinhada. Estou sem fôlego, correndo afoitamente pelo campo em busca de meu cavalo. Não posso perdê-lo. Foi um presente de meu pai.

Droga!

Interrompo minha correria, apoiando minhas mãos em meus joelhos quando me sinto fatigado demais para continuar a correr. Meu coração está acelerado e minha respiração descompassada, ambos entram em conflito quando a cor de meu sangue parece reverter para o amarelo, expondo que gastei mais energia do que deveria.

No entanto, a minha única divergência perdura no pensamento de segundos atrás. Ele assombra a minha cabeça:

Meu pai está morto e ele nunca me presenteou com um cavalo.

Que merda eu estou pensando?

Olho ao redor, constatando que minha parada fora feita na entrada de um acampamento. Ergo-me de minha posição, volteando meus olhos pelas tendas e cabanas, barris de água, cabras, vestimentas velhas e desgastadas, espadas e... Agacho-me, podendo olhar o que exasperadamente corre em minha direção, de braços abertos e sorriso rasgando o rosto infantil. É um pequeno moleque.

Atira-se em meus braços, envolvendo-me desajeitadamente nos seus. É pequeno demais para nutrir força, mas sinto-o volver-me como quem deseja manter-se aliado profundamente em meu corpo, sem qualquer possível chance de escapatória.

Rolo meus olhos para a criança, ela aperta-me com afinco, tal como une seus olhos, aproveitando para esfregar o lado esquerdo de seu rosto em meu ombro, ressonando baixinho. Franzo o cenho, coberto pela pior das confusões e emoções que, num momento posterior, eu acreditei serem boas.

— Papà? — Em baixo tom, ouço sua voz meiga chamando-me.

Me chamando? Ele está me chamando de pai?

Não formulo uma resposta, não encontro uma forma de fazer isso, estou estagnado, mãos que tremem em receio e uma indecisão cruel sobre devolver ou não o abraço afetuoso que me é dado. Meus olhos não possuem um contato único, não me dou o direito de olhar o menino, minha visão está pávida, rolando pelos quatro cantos do campo, vistoriando e tentando entender o local no qual estou.

O que significa tantas sensações ardendo em meu peito?

A morte tem um rosto familiar, constato isso quando meu olhar cai para Dândi. Ele está se aproximando, sorrindo de canto. Seu charme.

Retribuo o sorriso, soprando uma risadinha silenciosa por meu nariz. Contudo, meus olhos caem para suas vestes, elas estão diferentes do habitual. Cauteloso, observo-as, o sorriso desaparece de minha boca quando percebo que não se trata de Dândi, e sim de Daniel.

Pisco meus olhos freneticamente, mantendo aliança entre nosso contato visual. Em contrapartida, ele repara em minha mudança, sobretudo na maneira como o reconheço como o príncipe da Itália. Vitale não detém as tatuagens por sua bela face, não, ela está limpa de qualquer marca, evidenciando o que eu bem entendi quando precisei de apenas alguns segundos encarando-o. Então, em quietude, eu desvio o olhar, transferindo o meu para o menino ainda grudado em meu corpo, ansiando por meu amor.

Tenho em mim uma constante perdição desde que me vi atolado no mundo de Dândi, mas não achei que o efeito de tal traquejo fosse me causar ainda tanto efeito.

— O que significa? — Indago, numa linha fina entre gritar ou sussurrar.

Meus olhos estão transbordando curiosidade, mas me atrevo a erguer a palma e encostá-la carinhosamente nos fios castanhos do pequeno menino que – persistente, permanece abraçado às minhas pernas, não dando importância em como relutei a lhe tocar. Que cena estranhamente confortável.

ROCK MÁFIAWhere stories live. Discover now