Amor ou ódio?! (Yizhan)

Capítulo 11

Xiao

  -Yibo.. você é perfeito. É a pessoa mais linda que eu já vi. Os anjos sentiriam inveja se pudessem ver seu rosto assim.

Yibo deu uma gargalhada enquanto jogava a cabeça para trás, queria demonstrar escárnio mas por dentro sentiu seu peito se aquecer.

- Não minta para mim Xiao. Eu vi as mulheres que você custuma sair.

  -Não importa o que você pensa que viu, nenhuma delas chegaria aos seus pés. E eu sei que isso é absurdamente errado e não faz o mínimo sentido mas nenhuma delas me fez sentir isso.

Segurando as mãos pálidas guiou  sobre seu peito, Yibo pôde sentir o coração martelando acelerado do moreno. Suavemente como se esperasse ser rejeitado acariciou com seus dedos aqueles músculos fortes, as cicatrizes e alguns poucos pelos aparados. Seu corpo começando a ter vontade própria.. Ele desejou se perder novamente naquele paraíso..

  Eles ainda estavam no banheiro e Xiao o puxou pela mão levando ele para o quarto o sentando na cama.
Pegou uma toalha e começou em silêncio a secar aqueles fios verdes com carinho e delicadeza.

Tinha um cheiro adocicado tão bom..

   Quando terminou de secar seus cabelos, sentou na sua frente e disse:

  -Eu já ouvi dezenas de histórias sobre você, mas eu gostaria de saber o que aconteceu, como você se tornou o Coringa. Me conta a sua versão, e mesmo se for algo horrível não esconda de mim eu imploro. Sinto que no fundo não é esse monstro que tenta mostrar, eu sinto que você merece ser salvo de você mesmo e.. caralho! Eu quero ser o seu herói. Me diz a sua verdade. Por favor.

  Yibo ficou ainda mais pálido, se é que isso era possível, olhou para baixo pensando uma forma de sair daquela situação. Pensando em se levantar e sair imediatamente antes de fraquejar.. Porém Xiao puxou seu queixo delicadamente o olhando nos olhos novamente.

-Eu preciso saber por você. Prometo não julgar. Nunca mais precisamos falar sobre isso depois de hoje. Mas preciso saber, por favor..

Yibo suspirou fundo concordando, sem mais mentiras. Sem mais segredos. Ele mostraria o pior de si e seria uma escolha pra Xiao aceitar ou não.
Depois de uns minutos de silêncio como se não soubesse bem por onde iniciar ele começou a falar, sua voz apenas um sussurro:

- Eu tinha dezesseis anos quando minha mãe descobriu que estava muito  doente. Era só nos dois sabe, meu pai abandonou minha mãe quando ela descobriu que estava grávida de mim. Ele era alguém poderoso e estava casado não podia comprometer seu status.. enfim.
Então quando mamãe adoeceu eu larguei a escola para trabalhar. Consegui emprego em uma fábrica que produzia produtos químicos. Eu era muito franzino naquele época o que me tornou motivo para chacotas. Eu trabalhava muito, o dia inteiro e as vezes a noite também, porque o tratamento era muito caro. O dinheiro mal dava para pagar a medicação quem dirá sobrar para a comida. Tinha um cara lá, ele era gerente e sempre me assediava mas nunca havia tentado nada comigo, não até aquele dia.

  Ele parou de falar quando sentiu Xiao ficar tenso ao seu lado, a respiração falhada.
Xiao apertou levemente sua mão, como que o encorajando a continuar.

  -Aquele dia eu fui trabalhar no turno da noite, estava faminto e exausto, já era madrugada quando mandaram me chamar na diretoria. O gerente fechou a porta assim que eu entrei, me mandou sentar, disse que sentia muito mas que minha mãe havia acabado de falecer. Eu cai de joelhos chorando, perdi a única pessoa que já havia me amado nesse mundo. Não sei porque ele achou que era uma boa hora para tentar me beijar.. Eu mordi sua boca com força tentando me afastar. Então ele começou.. primeiro ele me bateu muito, muito mesmo e depois quando eu não tinha mais forças para resistir ele.. ele..bom, você já deve imaginar o que aconteceu. Ele me deixou na sala sangrando e foi embora, talvez ele tenha pensado que eu estivesse morto, e acredite em mim eu queria estar. Quando recuperei um pouco as forças me arrastei até a saída, tentando fugir me desequilibrei e acabei caindo dentro de um tonel de lixo químico. Então eu aconteceu a transformação, e eu me tornei o que sou. Naquele dia o Yibo morreu e nasceu o Coringa. Eu me vinguei de todos os que zombaram de mim. A morte do gerente foi a mais lenta e prazerosa. Eu nunca mais havia pensado como Yibo, até aquela noite que passamos juntos. Eu pensei em mudar por você, mas sabia que não te  merecia. Lembra daqueles seguranças da joalheiria que matei ontem a noite? Eles eram os mesmos seguranças da fábrica que seguraram a porta e davam risadas enquando eu estava sendo abusado. Eu não queria que você me desprezasse, mas não podia simplesmente perdoar.. sabe?Eu simplesmente não podia.

Quando ele levantou seus olhos para o moreno novamente esperava encontrar muitas coisas ali, menos aquilo. Compreensão. Não havia pena, não havia nojo.
  Xiao o abraçou com força sussurrando no seu ouvido:
  - Se você não os tivesse matado eu mesmo os mataria agora. Está tudo bem. Não importa o que você fez. Isso é passado, eu entendo você. Eu vou proteger você.
  Os olhos de Yibo deixaram escapar algumas lágrimas, ele não entendia quais  sentimentos eram aqueles mas eram tão bons. Se sentiu seguro mesmo despido do Coringa.
  Secou rapidamente seus olhos e disse:

- Então, embora eu conheça sua história também gostaria de ouvi-ló me contar.

Xiao acenou, era justo.

- Não tem muito que falar. Eu era filho único e sempre fui muito reservado, não conseguia fazer nenhum amiguinho na escola porque era careta demais -disse dando um sorrisinho pequeno- meus pais eram maravilhosos, incríveis mesmo. Mas estavam sempre ocupados demais, então me recompensavam com tudo que o dinheiro podia comprar. Naquela noite meu pai estava de folga e levou a gente para passear num shopping. Entenda, aquilo era raro, então eu estava muito feliz. Eles me compraram um morcego que voava sozinho através de um controle e eu fiquei encantado. Depois fomos a um restaurante chique, eles estavam tão felizes.. Quando estávamos voltando para o carro, eu fiquei um pouco para trás fazendo meu morcego voar. Não me lembro muito bem o que houve a seguir, só lembro do assaltante gritando com meu pai, ele tentando pegar a carteira na pressa deixou cair, o ladrão se assustou e fez o primeiro disparo. Minha mãe gritou alto correndo para o meu pai, em seguida outro disparo. Então o assaltante fugiu, me deixando ali na sarjeta com o corpo ensanguentado dos meus pais. Depois daquilo meus dias perderam as cores. Eu passei a estudar muito, treinar pesado desde a adolescência. Eu queria salvar o mundo sabe? Não queria que nenhuma criança mais passasse por aquilo, então com a ajuda de Alfred que já trabalhou no FBI e de muito dinheiro  eu passei a ser o cavaleiro das trevas.

  Yibo o olhou orgulhoso, aquele homem era perfeito, um verdadeiro herói. Ele não o merecia.

  -Me parece um pecado eu desejar tanto um anjo.

Xiao sorriu enquanto se aproximava.

  - Aah por favor, cometa esse pecado.

Eles se olharam nos olhos pela primeira vez sorrindo, sem aquela sombra de desconfiança. Eram tão diferentes, cores e sombras. Sensatez e caos. Fogo e gasolina. De uma forma tão estranha eles se completavam, parecia até ironia do destino.

   Mas do lado de fora da janela alguém observava aquela cena com ódio.