[ 1 ] Orion

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2028 

❝Dessa forma, facilmente percebereis que sou uma das incontáveis vítimas do Demônio da Perversidade

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Dessa forma, facilmente percebereis que sou uma das incontáveis vítimas do Demônio da Perversidade.
O DEMÔNIO DA PERVERSIDADE • Edgar Allan Poe  


Sempre que assiste ao pôr do sol, Hatysa Black se questiona se o sol vai voltar amanhã. Embora ele volte todos os dias, sente uma certa incerteza quando seus últimos raios tocam sua pele, como se o sol estivesse lhe dando adeus para sempre.

A garotinha de onze anos ergue a cabeça em direção ao horizonte, observando os últimos raios solares desaparecerem entre os prédios da Universidade do Leste do Colorado. Quando a noite finalmente cai e as luzes dos postes se acendem, ela volta seu olhar para o livro em suas mãos, de onde está sentada no gramado do pátio principal, focando no título da obra de Edgar Allan Poe: O Demônio da Perversidade, que acabou de ler.

O título da obra despertou a curiosidade da pequena garota assim que o viu na velha biblioteca da Universidade, e descobriu se tratar da história de um assassino cuja queda irrevogável se dá por meio do que ele nomeia perversidade. Hatysa passava muito tempo refletindo sobre a perversidade humana: a essência humana é boa ou má? O homem nasce bom e o meio o corrompe? Ou nasce inteiramente mau?

Segundo Poe, a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano. Hatysa tem certeza que ele tem razão, porque consegue senti-la espreitando as profundezas de sua mente. Como uma sombra gélida e cruel, desejando corromper cada átomo de seu corpo.

Nunca ousou contar isso a ninguém. Tem certeza que uma menina de onze anos não deveria pensar tanto sobre a perversão. E, na verdade, sequer entende o porquê. Hatysa tem tudo: um pai, uma mãe e um padrinho que a amam. Não tem amigos, mas sabe que não pode ter tudo.

Então, por que sente tamanha soturnidade?

Suspirando, a garotinha coloca-se de pé, decidindo que irá procurar seu pai. Entretanto, seus olhos são atraídos para a lateral do prédio da biblioteca, onde as chamas bruxuleantes chamam sua atenção. Ao redor da fogueira, estão oito crianças, todas com aproximadamente sua idade.

"O que vocês estão fazendo?" a voz de Hatysa Black é cheia de julgamento e repreensão quando se aproxima das crianças. "Vocês não deveriam estar aqui a essa hora!"

"Nem você, princesa" o garoto de cabelos escuros responde, revirando os olhos. "Estamos apenas nos divertindo com esse jogo que a Mel encontrou. Você é sempre uma estraga prazeres, Hatysa."

"Cale a boca, Manny" Hatysa retruca, cruzando os braços, os olhos caindo para as cartas nas mãos das oito crianças. Todos são filhos de Vagalumes, e são as únicas crianças da comunidade.

"Não vamos te convidar a jogar, porque você é chata" Nora acusa, fazendo Hatysa cerrar a mandíbula com força e virar o rosto em direção à menina de cabelos loiros trançados ao seu lado.

SOTURNA • abby andersonOnde histórias criam vida. Descubra agora