mowbray sda church

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Adventista malandro quando viaja pra qualquer lugar já sabe: aos sábados, nós comemos na igreja dos outros. Bom, essa foi a minha missão aos sábados na África do Sul.

No meu segundo final de semana eu conheci a igreja do The Hill, um bairro português em Joburg. A comida estava muito gostosa e os irmãos eram muito acolhedores. Foi o irmão João que me levou. O culto era em português, mas a classe de jovens era em inglês. A igreja era mista e era uma combinação de irmãos portugueses, sul africanos, angolanos e moçambicanos.

No meu terceiro sábado eu fui até a Mowbray SDA Church. Uma igreja perto da rodovia principal para chegar a cidade e perto da Universidade de Cape Town, a maior do país e a mais importante de todo o continente africano, além de ter sido o set de gravação de Sangue e Água. Olha, devo confessar que teve algo que me levou até aquela igreja: nas fotos do Google só havia gente negra na igreja.

Eu falei: Oxe, ali é meu lugar.

E foi mesmo.

Cheguei um pouquinho atrasada no culto no meu primeiro sábado lá. Eu tava bem vestida de crente, né, mores, porque eu já havia percebido que o povo lá era mais parecido esteticamente com os cristãos soteropolitanos. Foi incrível. Fui muito bem recebida. O estudo dos jovens terminou tarde e eu não os ouvi anunciando meu nome lá na frente. Mas, a notícia se espalhou, tinha uma visita brasileira na igreja. 

A maioria dos membros falou comigo, me cumprimentou e o irmão Goodluck, um simpático professor de física do Zimbábue, se aproximou de mim. Ele havia se formado em Cuba e falava espanhol. Durante o almoço conversamos um pouco e eu passei muita vergonha. Eles me colocaram pra ser a primeira a comer e se eu não controlasse encheriam meu prato de comida. Me despedi de bucho cheio e coração quentinho.

No sábado seguinte, eu fui e não fiquei pro almoço. Tomei puxão de orelha. Eles já haviam brigado comigo pois não entrei em contato com eles no WhatsApp durante a semana e depois eles brigaram comigo pois não fiquei pro almoço. O culto jovem foi ótimo e conversamos muito. Percebi que eles são MUITO, MAS MUITO MAIS CRISTÃOS DO QUE A GENTE. E, cara, esse negócio de evangelizar a África precisa ser reavaliado. Eles que têm que vir aqui nos evangelizar. Fazer um rebranding em nossas vidas espirituais. Não foi uma nem duas vezes que eu entrei em igrejas paulistanas e ninguém falou comigo. E vai continuar sendo assim. Lá, em um culto eles já sabiam que eu era brasileira, estava lá pra estudar, que eu morava no centro da cidade. O segundo sábado foi ótimo.

Já no sábado seguinte e meu último sábado, eu pude ver o quanto esse povo é incrível. Cheguei cheia de mala na igreja e um irmão me ajudou a guardar minhas coisas. Foi um culto diferente porque tivemos santa ceia e a irmão Petronella lavou meus pés. O sábado estava cheio e também teve uma apresentação de um bebê. 

Uma das coisas que eu percebi, inclusive, foi  como a diferença cultural impacta na vida cristã das pessoas. Eu estava usando um vestido que minha mãe comprou pra mim e que era pra eu usar na igreja. Bom, vocês conhecem minha mãe, não é? Ela JAMAIS compraria uma roupa não crente pra mim. Pois, eu estava lá na Mowbray SDA Church me sentindo uma piriguete. Gente, meu vestido comparado a roupa das mulheres era uma roupa extremamente vulgar kkkk. Eu pensei, então, é isso, né? Eu sou piricrente. Finalmente alcancei esse marco importante na minha caminhada cristã. 

Mas, minha gente, mesmo eu vestida com meu decotinho, ninguém me olhou diferente. Ninguém me tratou mal, ninguém duvidou que eu era adventista mesmo. E aquele dia me surpreenderia mais ainda.

No final do culto eles estavam discutindo pra ver onde eu almoçaria. Olha, o nível  de carinho dessas pessoas. De cuidado. No final das contas, fui a casa do irmão Goodluck e Stella. Um casal de zimbabueanos que vive em Cape Town. Stella trabalha em um hospital e o irmão Goodluck é um professor de física. Ele também comprova a teoria de nomes próprios incomuns do Zimbábue. Foi um almoço delicioso e mais uma vez a experiência cultural foi muito forte.

Fui ajudar a por a mesa e comecei a lavar os pratos. A irmã Stella, então, delicadamente avisou que durante os sábados eles não lavavam pratos. Você tá vendo aí? O nível que essa galera é crente, vei? E a gente ainda TEM A PACHORRA DE DIZER QUE VAMOS EVANGELIZAR A ÁFRICA. Deixei os pratos lá e fui sentar, né? 

Foi uma tarde ótima, ri, descobri curiosidades sobre o Zimbábue pois eles estavam recebendo um casal de zimbabuenaos também. Quando senti frio, eles me deram uma coberta, me abrigaram, levaram uma total estrangeira pra casa deles.

Isso é Mateus 25. Isso é o evangelho na prática.

Eu poderia ser uma grande mentirosa, poderia ser uma pessoa perigosa e eles simplesmente me colocaram dentro de um carro e me colocaram na casa deles, ao lado dos filhos dele. 

Eu nunca vou esquecer o quanto eu fui amada e acolhida na Mowbray. Quero voltar lá e levar a minha contribuição pro almoço, junto a uma lembrancinha pros irmãos Stella e Goodluck. Eles foram uma nova família e nova igreja que fiz lá. 

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Com os irmãos da Mowbray SDA Church

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Com os irmãos da Mowbray SDA Church. Eles foram incríveis. Na última foto estou com quatro pessoas do Zimbábue, inclusive os irmãos Stella e Goodluck que me receberam tão bem.

Um Extraordinário ordinário: Meus Dias na África do SulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora