Prosa com a Dona Rosa

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Miguel Cazares Mora

Confesso que aquela história de não querer ir aos jogos era estranha, vindo de Alícia Costa, a garota mais competitiva que eu já conheci, era definitivamente muito estranha. Alguma coisa estava muito errada, eu só não sabia o que, pelo menos não ainda, porque eu vou descobrir de um jeito ou de outro.

Já faz uns meses que eu e a Alícia estamos nessa história de namoro falso. Mas posso mandar a real? Eu não queria que isso fosse falso, eu estava me apegando de verdade a algo que ela só deve estar levando como um meio de se proteger dos atletas e, sinceramente, isso me deixa muito mal.

Eu gosto dela. Ela é incrível, tem uma personalidade autêntica, é bonita, canta bem e é competitiva! Tem como pedir alguém mais perfeita?

Assim como combinamos, fui para a minha casa e ela apareceu em seu quintal com o violão e uma cara de poucos amigos. Confesso que ri, ela fica linda quando está irritada.

Ela começou a cantar uma música que eu desconhecia mas parecia muito uma tal de bossa nova que ela tinha me colocado pra ouvir uma vez. Eu gravei a voz dela apenas mostrando a paisagem do céu para que ela não aparecesse e postei o vídeo com a legenda "Como eu não me apaixonaria por essa garota?" E desliguei o telefone. Eu sabia que o que eu estava escrevendo era verdade, mas acho que nunca contarei isso pra ela. Então fiz o que eu sempre faço quando preciso desabafar: liguei para a Maddie.

— Miguel? - ela disse atendendo a chamada de vídeo com uma clara cara de cansaço. - O que você quer? Tenho que fazer trabalho de física.

— Foi mal Maddie mas tô precisando de conselhos. - disse me sentando em uma poltrona.

— Deixa eu adivinhar, é sobre a Alícia né? - ela disse e eu desviei o olhar do telefone. - Olha Miguel, eu vou ser bem sincera e direta sobre esse assunto. Você tem que esclarecer com você mesmo se realmente gosta dela ou se é apenas uma "emoção de set" por vocês estarem fingindo o namoro há um tempo.

— Maddie eu já pensei nisso e eu realmente gosto da brasileira. - falei inseguro. - Mas a questão é que eu não sei o que fazer!

— Chega de drama e fala com ela! Demonstra que você gosta dela! - ela disse como se fosse óbvio.

— Você não acha que eu já não tentei? Já tentei demonstrar de tudo quanto é jeito, mas parece que a brasileira é meio lerda nessa questão. - falei frustrado.

— Nisso eu tenho que concordar, a Lili é bem lerda nesses assuntos. - Maddie disse. - Então fala com ela sobre isso, expressa seus sentimentos.

— Eu não sei...- falei pensativo. - Espera! Tive uma ideia!

— Qual? - ela me olhou confusa.

— Desculpa Maddie, agora não dá pra explicar muito porque estou meio atrasado para a gira que eles me convidaram! - falei e, assim que ela se despediu, desliguei o telefone e saí correndo para o meu quarto.

Assim que cheguei, coloquei uma camiseta branca, uma bermuda da mesma cor e um par de chinelos mais simples. Logo depois, prendi meu cabelo em um coque e fui até a casa dos Costa, tocando a campainha.

Alguns minutos se passaram até André atender a porta liberando uma fumaça de uma planta que eles usam pra limpar a casa. Entrei e lá estava o pai de Alícia no tambor e minha "sogra" acendendo algumas velas.

— Onde tá a Ali? - perguntei para André.

— Ah, a Lilica deve estar prendendo o Ojá na cabeça. - ele disse e confesso que não entendi o que é um Ojá.

— Cheguei gente. - Alícia disse algo em português enquanto estava entrando no terreiro. - Hoje vai ser gira de direita ou esquerda?

— Hoje vai ser esquerda porque temos que deixar as firmezas preparadas já que vocês vão viajar. - a mãe dos gêmeos disse em inglês para que eu pudesse entender. - Alícia e André, firmem para seus orixás. Miguel, pode acender uma vela branca.

Los Angeles Dream || Miguel Cazares MoraWhere stories live. Discover now