I remember how good it was back then

3 0 0
                                    

ATO XV

- Isso... - Ela soltou o ar e a tensão, que ainda segurava. – Nós dois... Aconteceu há muito tempo atrás.

- Eu sei. – Garantiu mais do que rápido, se inclinando na direção dela, como se o puxasse, o que não deixava de ser verdade considerando o histórico deles. – Eu sei. Mas não acha que podemos...? Eu não sei...

Atordoada, a mulher acompanhou com os olhos brilhantes seus dedos alcançarem o rosto, quente e macio. Não se importava com o que poderiam dizer, não depois de tanto tempo, apenas com a reposta e o que ela – ainda – o fazia sentir. Era como se tudo o que resolvera trancar bem fundo num local seguro dentro de si houvesse sido guardado para aquele momento, como se soubesse que ocorreria o momento onde sentiria que poderia escolher de verdade, sem os empecilhos de quem eram e do pós-guerra.

- Draco. – A mão dela cobriu a dele para continuar moldando o rosto bem delineado. Ao menos o contato não mexia apenas com ele. – Você falou que deveríamos seguir nossas vidas como se aquilo não houvesse existido.

Conseguiu enxergar a mágoa no momento em que ela disse, claramente ressentida da escolha que fizera, apesar de compreender. Sabia que essa sempre fora uma das maiores qualidades dela: estava sempre pronta a racionalmente entender o outro, embora não concordasse.

Anos atrás, ficara secretamente aliviado que a garota entendesse que aquele mundo que ela vinha construindo com seu nome e seus atos não era o mundo ideal para Draco naquele momento. Aquele "novo" mundo não o queria nele. Agora, porém, sabia que 'compreendê-lo' não mudava o fato de que a machucara.

- Nós iríamos para caminhos distintos. – Apontou o que ainda acreditava em tom baixo. – Querendo ou não.

- Isso é o que diz pra si mesmo para conseguir dormir.

A voz dela embargou e pôde enxergar apenas a realidade esmagadora dos olhos castanhos surpreendentemente expressivos acusando-o. Hermione abaixou a mão e se afastou do toque, escorando-se contra a cadeira enquanto olhava a rua mal iluminada pela janela de vidro parecendo tentar recobrar a postura, parecendo não ver realmente nada.

- Não, essa é a verdade. Precisávamos de coisas diferentes naquele momento. E você... – Teimou, rapidamente ganhando a atenção dela, o brilho diferente avisando-o para ter cuidado com o que diria, com o que revelaria sobre suas conclusões, sobre quem ele era naquela época. Se perguntou se isso realmente importava, considerando o que ou quem haviam se tornado depois de tudo, considerando que agora estavam ali, um de frente para o outro, e há muito não encontravam aquelas versões apaixonadas de si mesmos. – Você precisava de algo que eu não tinha.

Permanência. Certeza. Apoio. Draco não sentia possuir nada disso nem para si mesmo. Precisava se encontrar novamente, depois de tudo pelo o que passara junto à sua família. No início, o exílio não parecera um castigo, mas uma oportunidade. Então... Hermione Granger transpassou seus caminhos e seus planos, arrasando tudo sem muito esforço. Precisava mais dela do que ela dele, tinha consciência disso tanto quanto não queria ser esse cara para a garota que ela era.

A viu bufar e rapidamente secar uma lágrima teimosa que escapou no canto do olho, voltando a encarar a rua lá fora, o maxilar tenso e os lábios apertados em desgosto, embora o olhar fosse mais magoado do que qualquer outra coisa.

- Sabe, a ironia é... – Os dedos dela se apertarem contra si mesmos, enquanto mordia os lábios fortemente. – Você disse que passaria.

Draco engoliu em seco, consciente do quão egoísta era por aquela ser uma das poucas partes de sua vida que não gostaria de mudar. Não queria que fosse diferente, embora houvesse demorado para chegar à tal conclusão: não queria que o que sentisse passasse, pois era como a garantia de que havia sentido - e continuara "anestesicamente" sentindo com o passar dos anos.

She Used to Love Me a LotWhere stories live. Discover now