She looked lonely and I knew the cure

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Lentamente, Draco empurrou a antiga porta de madeira, praguejando que as dobradiças rangessem um pouco, antes de pisar no último degrau da escada de pedra para entrar na Torre de Astronomia.

Como o esperado, o frio ali era quase insuportável, apesar do casaco pesado que usava. Já nevava nos terrenos de Hogwarts e quase poderia afirmar que uma tempestade cairia em poucos minutos a julgar pela precipitação cada vez mais pesada. Porém, assim que fechou a porta, como que deixando o castelo para trás, e colocou os olhos no telescópio principal logo no centro sua mente imediatamente se desligou do clima.

Fazia quase dois anos, desde a última vez que pisara ali. E não sabia porquê decidira voltar, mas lá estava Draco, rodeando lentamente o objeto antigo e de aparência pesada. A forma com que os acontecimentos daquela noite voltavam repentina e incomodamente era como mergulhar numa Penseira fria, repleta de remorso e amargura.

Por mais que não tivesse matado o Diretor, recordava perfeitamente como o Avada Kedavra de Snape atingiu diretamente o peito dele, arremessando-o por uma das enormes janelas. Fora seca e linear, a maneira como o Professor pronunciou a Maldição e, do mesmo jeito, o outro recebeu. Não foi até semanas depois que percebeu como o último não parecia surpreso e nem tentou se defender, apesar de muito mais poderoso que Snape.

Draco se perguntava se tentaria, se imaginasse que teria coragem de pronunciar a Maldição. No entanto, sua varinha era trêmula demais, a postura incerta o denunciava e a vontade apenas dúbia. Ele precisava matá-lo, por tudo o que isso representaria à sua família, seja lá o que fosse aquela abstração que o Lorde prometia, mas não conseguiria, ambos sabiam.

Apertando os lábios, se dirigiu a janela marcada tentando enxergar lá embaixo o lugar onde Dumbledore provavelmente caíra. Ouvira dizer que os estudantes se reuniram ao redor do que deveria ter sido a macabra cena e depois levantaram suas varinhas em honra ao Diretor. Tentou se lembrar há quanto tempo não levantava a própria varinha em nome de alguém e o que isso poderia significar.

'Ao menos não levantara por um Comensal da Morte', considerou apoiando os cotovelos no parapeito da janela, sentindo o vento frio e quase anestesiante contra o rosto, 'nenhum deles'.

- Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha de volta para você. – Ouviu a voz baixa às suas costas e se virou para localizar Granger próxima à porta, bem agasalhada para o frio, as mãos atrás das costas e o broche de Monitora-Chefe reluzindo sobre o uniforme, dando de ombros quando Draco franziu o cenho. – É de um autor trouxa.

- Ele também disse que 'aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro'. – A viu levantar as sobrancelhas, surpresa, e deu as costas à garota, se voltando a posição inicial junto à janela, mais concentrado na escuridão. – Eu não sou um estúpido, Granger.

Então, a sentiu se aproximar com cautela, se posicionando a uma distância confortável, mais próxima da parede de pedra, tentando se esconder do frio ao qual ele se expunha.

- O toque de recolher já passou há muito tempo. – Granger disse quando o silêncio se instalou. Não queria realmente conversar, mas também não tinha o que falar com ela. – Está de detenção.

Não conseguiu evitar um sorriso irônico e, quando a olhou de relance, viu que ela havia sorrido também. Detenção, por mais que fosse uma droga, soava como alguma centelha de normalidade depois de tudo. O tom dela sem se alterar com ele, talvez não o fosse. Todavia, estranhamente, Granger e ele haviam adentrado uma espécie de convivência cautelosa quando se topavam. De repente, eram mais tácitos colegas do que antagonistas declarados e não sabia a que conclusão chegar sobre isso.

She Used to Love Me a LotWhere stories live. Discover now