𝒯𝐇𝐄 𝒜𝐑𝐂𝐇𝐄𝐑; 𝖻𝖾𝗅𝗅𝖺 𝗋𝖺𝗆𝗌𝖾𝗒

𝟏𝟏.┆𝒞𝐈𝐓𝐘 𝐎𝐅 𝐋𝐎𝐕𝐄, 𝐒𝐇𝐀𝐖𝐓𝐘

Quando pousamos em Paris, a cidade já se encontrava completamente escura, deixando mais do que claro o horário que era... uma e meia da manhã. Mesmo tendo dormido mais do que eu possa sequer aguentar, meu corpo ainda implorava horrores por uma cama macia em um hotel, assim como uma banheira com água bem quente.

Ao pegar nossas bagagens e finalmente poder seguir até a saída, nos deparamos com algo que realmente não esperávamos. Paparazzis. Katherine logo entrelaçou seus dedos nos meus e ficou atrás de mim. Aquelas pessoas não dormiam, não? É incrível como sempre conseguem adivinhar exatamente onde estamos sem nem muito esforço. Se não fosse por dois seguranças do próprio aeroporto que nos ajudou a passar no meio de toda aquela gente, provavelmente teríamos ficado presa ali até o amanhecer. E aquilo com certeza seria uma puta dor de cabeça pra mim.

No final, depois de bastante esforço, conseguimos chegar até a van em segurança. Kate estava com tanto sono que capotou no banco do veículo assim que descansou a cabeça em meu ombro. Não lembro se vi ela dormir durante a viagem, provavelmente nem conseguiu fechar os olhos. Nunca vi ela com tanto sono quanto naquele dia.

A cidade francesa não se encontrava com tantos carros naquela madrugada, facilitando assim nosso trajeto até o hotel, que foi feito em completo silêncio e calmaria. O Four Seasons Hotel ficava há menos de vinte e cinco minutos do aeroporto, fiquei satisfeita já que não teríamos de ficar tanto tempo mais naquela van enquanto queríamos dormir com urgência.

E quando chegamos, me surpreendi com como aquele hotel era luxuoso e facilmente com uma diária no valor de um carro. Só a fachada do local já contava com veículos de luxo estacionados ali, imagino que seja dos hóspedes. Pessoas de classe alta em Paris levam o luxo muito a sério, aquelas mulheres elegantes que vemos em filmes realmente existem, e são maioria na alta sociedade da França.

Lively demorou um pouco para conseguir acordar completamente e me acompanhar pelo saguão do hotel junto com nossas malas. Ela estava tão sonolenta que quase caiu de cara no chão ao tropeçar em um tapete perto dos elevadores do local. Confesso que quase gargalhei, mas fiquei com dó o suficiente para não deixar que escapasse.

O quarto de hotel era tão chique quanto o restante dele, e ali tive certeza que conseguiria comprar um carro com a diria daquele lugar. Kate abandonou suas malas no closet e não demorou para tirar seu moletom, ficando apenas com uma regata branca na parte de cima. Ela logo foi em direção a cama e simplesmente deitou e dormiu tão rápido que nem sequer deu tempo de desejar boa noite. Aquilo me fez sorrir.

Desliguei as luzes para que Lively conseguisse dormir em paz e segui para o banheiro. Uma grande banheira me aguardava, graças a Deus, não via a hora de poder enche-la e relaxar. Abri minha mala e organizei todos os meus objetos de higiene pessoal sobre a bancada de mármore do banheiro. Separei meu pijama também, uma calça de estrelinhas e um top da Calvin Klein, algo bem confortável que servia de pijama.

Assim que a banheira encheu após eu abrir o registro, deixei minhas roupas para trás e adentrei-a, sentindo a água quente por todo meu corpo. Não sei por quanto tempo fiquei apenas ali pensando em todas as coisas que aconteciam nesses meses, mas sei que foi o suficiente para que meus dedos ficassem enrugados.

(...)

┆PARIS, FR
20:21 p.m || 28 de fevereiro 2023

— Você está maravilhosa! — Um dos fotógrafos gritou em nossa direção quando abri a porta do carro.

Se me falassem que a organização para ir a um desfile como convidado seria tão burocrática eu teria rido. Nunca vi tantas pessoas me arrumarem e arrumarem Kate ao mesmo tempo, digo isso porque pelo menos uns cinco profissionais apareceram de manhã na porta do nosso quarto para fazerem nossa maquiagem e cabelo.

Acredito que a melhor coisa que aconteceu naquelas horas em que ficamos trancadas naquele quarto de hotel foi descobrir que usaríamos roupas combinando, achei isso engraçado. A única diferença era que Katherine usava um vestido e eu algo mais como um macacão. Confesso que fiquei pelo menos uns cinco minutos paralisada olhando para ela quando estávamos livres para ir até o desfile. Nunca achei que ela poderia ficar mais bonita do que já é, talvez tenha me enganado.

Kate usava saltos, o que a deixavam um pouco mais alta do que (o que já era naturalmente) mas me senti literalmente menor ainda perto dela. Seu braço direito estava descansado em meu ombro enquanto andávamos até a porta do evento. Não sei como a internet reagiria a essa aproximação tão repentina, mas aprendi a não me importar com os comentários desde que fui escalada como Ellie em The Last of Us.

Tivemos a maior sorte em ter nossos lugares marcados na primeira fileira do desfile, ao lado de grandes famosos, quais me davam calafrios só de olhar. A maioria foi muito simpática e conversaram comigo até o desfile começar, mesmo eu sendo muito tímida, acho que consegui me soltar bem ali.

Assim que as primeiras modelos começaram a caminhar pela passarela, todo mundo ficou em completo silêncio, a única coisa que se ouvia era os clicks das câmeras e a música de fundo. Não sou a maior apreciadora de moda do mundo, então, não sabia bem o que fazer naquele ambiente, e pelo visto nem Katherine sabia.

— Precisamos conversar sobre as roupas ou podemos só fingir que estamos falando sobre isso? — Ela murmurou para mim, sem tirar sua atenção da passarela.

— Acho que podemos fingir. — Eu ri baixinho. — Sinceramente, não entendo nada desses desfiles, pelo menos as roupas são legais.

— As modelos são bonitas, é bem legal ficar vendo elas. — Kate brincou, o que me fez revirar os olhos enquanto segurava minha risada. — Acredito que quase nenhum famoso que está aqui entende algo sobre isso, mas estão aqui porque foram convidados.

— Como é nosso caso. — Falei. — Jayleen te mandou mensagem depois que você cancelou o encontro com ela?

— Não me lembro, faz tanto tempo. — Lively suspirou. — Acho que não. Mas acho que ela vá mandar mensagem quando nossas fotos caírem na mídia.

— Isso se ela já não te mandou mensagem e você não viu. Do jeito que Jayleen é desesperada não duvido. — Dei de ombros e de soslaio vi Kate me encarar.

— Ela ainda é minha amiga, Bella. Pode ter me feito ficar mal, mas meio que eu entendo o jeito dela ter agido naquele dia. Tipo, foi um puta choque pra ela, tipo, saber que a melhor amiga tinha segundas intenções.

— Mas isso não a da direito de soltar um Desculpe Kate e simplesmente sair e te deixar chorando. — Argumentei. — Já te falei o que acho desse assunto, você é grandinha demais para saber o que fazer.

— Eu sei...

Deixamos que aquele assunto morresse ali mesmo, ficamos o resto do evento sem falar absolutamente nada. Mas meus pensamentos pareciam gritar dentro da minha cabeça, aquele problema com Jayleen não iria dar certo, eu podia sentir isso.

No final daquele desfile, que mais pareceu uma tortura psicológica — porque não aguentava mais ficar olhando para milhares de peças de roupa enquanto um silêncio super desconfortável pairava entre nós duas — Optamos por não comparecer a uma festa que aconteceria logo após o evento, estávamos cansadas e preferimos voltar para o hotel.

Por volta das onze e meia da noite chegamos no nosso quarto, Kate foi a primeira a entrar no banheiro e tomar seu banho e banheira, e logo depois que ela saiu eu adentrei o cômodo. Demorei mais do que o necessário dentro da banheira, mas precisava descarregar tudo que eu estava sentido antes de voltar para a cama e cair no sono para amanhã atender a mais um desfile entediante, sem querer ofender.

"Somebody Else" do The 1975 tocava no meu celular enquanto secava meu cabelo com a toalha após sair do banho, depois de muito esforço, é claro. Vesti uma blusa de malha aleatória do nirvana como pijama, ela batia um pouco acima dos meus joelhos, então parecia mais uma camisola do que uma camisa.

Esperava encontrar Katherine dormindo quando sai do banheiro, mas ela estava de pé em frente a mesinha de cabeceira enquanto servia um bom copo de whiskey. Não sei de onde ela tirou aquela garrafa de bebida alcoólica, mas nunca questione os métodos quando se tem bom resultados... Ou questione, tanto faz.

— Quis animar um pouco a noite? — Perguntei ao me aproximar, e ouvi sua risada antes de se virar e me oferecer o copo, aceitei.

— Já que não vamos à festa, trouxe a festa até a gente. — Ela sorriu.