7. Café da tarde

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─ A senhora quer ganhar mais um netinho? - Brincou, imaginando que era daquelas mulheres que não podiam ver o filho com uma namorada que já pensava em casamento e bebês.

─ Oh! Não, querida. - Disse de forma tranquila enquanto trançava o cabelo da neta. - Eu sei que você está fazendo um tratamento para engravidar... - Maitê arregalou os olhos. Não achava que Boccati fosse o tipo de cara que saísse comentando tudo que acontecia com a própria mãe. Achou invasivo ter mencionado isso. - Não se preocupe, minha filha. Vai dar certo. A criança já está em torno de você. Está com a cabecinha encostada no seu ombro.

Maitê até se arrepiou. Dona Teresa não estava falando sobre a coleta dos óvulos, ela se referia à inseminação. Não falara com Henrique sobre isso, ele não poderia ter comentado isso com a mãe.

─ Calma, moça. Não fique assim tão nervosa. - Sorriu carinhosamente percebendo a confusão dela. - Eu vejo espíritos desde muito jovem. Garanto que não é nada demais. Algo tão natural quanto o processo de crescimento dos vegetais na cesta que lhe entreguei. - Maitê estava em pânico. Não conseguia mover um músculo. - Você quer um cafezinho, querida? Tenho meia dúzia de palavras para trocar com você ou sua mãe não vai me deixar dormir à noite... - Maitê fez que sim com a cabeça. Dona Teresa foi para o fogão esquentar a água. - Chiara, meu amor, faça um favor para a sua avó e vá alimentar os animais. - Sabia que a menina adorava essa tarefa. Pegou um cesto com farelo e correu para o galinheiro.

Em poucos minutos, o café estava pronto. Teresa serviu Maitê e ofereceu um pedaço de bolo de grude. A moça parecia estar mais tranquila. Talvez as imagens de santo no altar da sala a deixassem mais à vontade do que o assunto dos espíritos.

─ Não vou dizer qual o gênero da criança para não estragar a surpresa. Mas, não se preocupe, você vai engravidar em breve. - Sorriu olhando para o ombro dela como se realmente visse uma criança ali.

─ A senhora consegue mesmo ver espíritos? - Até tremia a xícara. Já estava com medo de derramar o café.

─ Claro! - Agia com uma naturalidade absurda. - Em geral, eu não saio por aí dando notícia porque as pessoas não costumam aceitar bem esse tipo de revelação. - Tomava o café tranquilamente, em pequenos goles. - Agora, vocês dois são tão teimosos, que se a espiritualidade não der um empurrãozinho, é capaz de se afastarem de novo. - Acreditou que mencionava ela e Boccati. - Bom... Não há jeito de dar essa mensagem de maneira mais fácil. Essa criança vai ser meu neto. O bebê será filho de Henrique.

Maitê deixou cair a xícara e derramou café na mesa inteira.

─ A senhora deve estar enganada... - Disse quando recuperou o fôlego. Teresa pegou um pano para limpar a mesa como se nada tivesse acontecido. - Começamos a namorar agora. Não temos a menor intenção de ter um filho.

─ A sua mãe se chama Dora? - Maitê sentiu um calafrio. Não conseguia imaginar aquela senhorinha, totalmente vovó fofa rural, fazendo uma pesquisa na internet para lhe pregar uma peça. - Uma mulher baixinha, cabelinho bem cacheadinho, usava brinco de margarida... - Maitê começou a chorar.  A mãe amava o par de brincos de margarida que Maitê trouxera de uma viagem, usava sempre. - É ela quem está me falando sobre o seu tratamento. Está muito feliz inclusive. Diz que você merece conhecer esse amor. - As lágrimas escorriam uma a uma do rosto de Maitê. - Agora, quem está me dizendo que é filho de Henrique é a própria criança. Ela já está conectada contigo como eu havia mencionado. Escolheu você como mãezinha e diz que te ama muito. Uma gracinha. Muita bochecha, sabe? - Dona Teresa olhava por cima do ombro direito de Maitê, como se realmente tivesse alguém lá com quem ela conversava. - Porém, a missão dela é com Henrique. São espíritos afins de muitas encarnações. Vem ajudar meu filho a se abrir para o amor...

SaborWhere stories live. Discover now