Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural

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— Às vezes é bom ter certa influência. — Corey deu de ombros.

— Cale a boca! — Melissa sussurrou com raiva.

— Olha, vocês têm sorte de o Dr. Thompson ter me encarregado da procura, chamei apenas homens em que confio plenamente e ninguém vai tomar conhecimento do que aconteceu aqui. Então acho que seria melhor se não contasse a ninguém o que estou disposto a fazer por Sanders, doutora Parker.

Melissa engoliu em seco. Se abrisse a boca para falar sobre o que tinha acontecido, estaria se entregando também. O que estava absolutamente fora de cogitação, em qualquer hipótese. Então decidiu que seria melhor acreditar na confiança que Pete tinha em seus subordinados.

— Este lugar não pode ser real. — resmungou, mais para ela mesma do que para Sanders ou Pete.

— Ninguém falou que seria fácil trabalhar aqui, não é mesmo? — Sanders respondeu.

— Não, ninguém falou. Mas também não me contaram da sua existência.

— Acho que melhor levar Sanders de volta. — Pete interviu, antes que eles começassem uma discussão desnecessária — E também acho melhor dar um fim nessa mancha de batom na gola da camisa.

Melissa não soube onde se enfiar. O chão pareceu fugir de seus pés, o estômago afundou, seu rosto queimou. Ela tampou os olhos com as mãos, virou as costas e foi embora sem dizer mais nada.

**

Já passava do meio-dia. O local era o refeitório, lotado de médicos, enfermeiros e demais funcionários do St. Marcus Institute. Melissa encontrava-se, contudo, alheia em uma dimensão paralela. Desde a tarde anterior, seus movimentos eram puro reflexo de sua rotina. Acenava com a cabeça quando tinha a impressão de que se dirigiam a ela, e soava dispersa, quando ao menos o fazia.

Desde que o susto de ter sido descoberta pelos guardas, e toda aquela conversa estranha com Pete, era apenas uma projeção imperfeita de uma Melissa Parker que, a partir dali, mais parecia um fantasma do passado.

Havia um antes e depois daquele acontecimento na sala de arquivo. Sua mente estava presa a cada mínimo detalhe de cada ato compartilhado. E não havia jeito de se libertar dos momentos de intenso prazer e loucura que se permitira viver. O sexo desprotegido com um possível psicopata, definitivamente, não era a maior de suas preocupações. O anticoncepcional estava em dia desde a adolescência, o risco de uma gravidez era mínimo. A ficha média de Corey Sanders dizia que estava perfeitamente saudável, nenhuma doença que pudesse ser transmitida.

O problema era que, de repente, vira-se arrependida por não se arrepender de ter feito o que fez. Melissa não se lembrava de experiência mais marcante em toda a sua vida. Jamais antes teve o prazer de se sentir a pessoa mais especial do mundo, porque foi isso que Corey Sanders fez naquela sala mofada e empoeirada de arquivo. A partir de então, Melissa entrou em estado de emoção permanente. O frio na barriga era permanente, o coração batia em ritmo descompassado e ansioso vez outra, porque a lembrança de tudo vinha nítida e vívida em sua mente confusa. Melissa queria se sentir daquele modo para sempre, simplesmente porque lhe fazia bem. Estava... Feliz. E escondendo um sorriso bobo no rosto por cada canto que ia.

Entretanto, toda essa euforia disputava espaço com um lado seu racional, que sabia o quão absurdo era se sentir de tal forma. Ao lado de todo o domínio de sua libido descontrolada, estava um incômodo e insistente sentimento de culpa. E tal indesejado sentimento veio assim que o torpor do ponto máximo de prazer liberou seu corpo. Melissa tomava o banho mais longo e quente de sua vida e a primeira coisa que lhe veio em mente, foi o que diriam as pessoas ao seu redor se soubessem o que havia acontecido naquela sombria sala de arquivo. Kate, Brian, o doutor Thompson, os pais... Era mais do que poderia suportar, o julgamento de seus pais, que sempre foram tão corretos, que sempre a incentivaram a ser a melhor pessoa que pudesse ser. Não havia nada nas recomendações deles a respeito de se envolver tão... Intimamente com um paciente. E ainda gostar. E ainda querer que não fosse a única vez.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now