Minha Deusa (COMPLETO)

I

Gael Davis

— O senhor vai estar aqui na hora de ir para casa né? — Posso sentir o nervosismo na voz de meu filho. É tão doloroso vê-lo tão ansioso.

— Assim que sair da sala, eu vou estar aqui esperando por você. — Faço a promessa.

— Está bem...

Nós dois estávamos de mãos dadas, olhando para a porta da escola. A moça que o levaria até a sala de aula esperou por nós pacientemente. Já estava acostumada a ter pais deixando seus filhos na escola em dias de volta às aulas, acredito eu.

A moça estendeu a mão para Adrian, sorriu e o mesmo olhou para mim. Por mais difícil que fosse, olhei para meu filho com amor, afirmei com a cabeça que estava tudo bem, e deixei meu pequenino ir. Soltei um longo e alto suspiro, foi mais difícil e doloroso do que eu imaginava que seria, por mais calmo que tivesse sido.

Demorei para sair da porta da escola. Queria entrar, passar o dia inteiro com meu filho, mas apenas respirei fundo e fui embora.

Meu plano é me afogar no trabalho pelo resto dia. Passei um ano vendo-o todo dia, e depois disso, passei cinco meses sem me afastar dele, nem por um segundo. É normal, que seja complicado para mim estar longe dele agora, mesmo que seja só pelo período da manhã. Acabei de me tornar pai, quero ter ele só para mim durante um bom tempo. Se isso for um crime, que me prendam então.

Arrumei toda a minha vida para poder dar a ele a devida atenção. Queria que ele soubesse que eu estaria ali para ele, sempre que o mesmo quisesse ou precisasse de mim. Antes eu ficava na empresa pela manhã e também pela tarde. Conversei com meu irmão, que trabalha comigo na empresa de design, e resolvemos que eu trabalharia lá pela manhã, e que o resto das coisas eu faria de tarde, em casa mesmo.

— Bom dia, maninho! — Comprimento meu irmão ao entrar em seu escritório.

— Bom dia, cara! Como que tá? Foi de boa com o Adrian?

— Ah, até que sim, acho que foi mais difícil para mim do que para ele. Mas enfim... o que temos para hoje? — Questiono querendo pensar em outra coisa, por ora.

— O novo condomínio que está sendo elaborado no centro.

Meu irmão é arquiteto e eu sou design de interiores, juntos fizemos a Art Design, e foi sem dúvidas a melhor escolha que fizemos. Trabalhamos juntos há dez anos, temos uma grande conexão, a ideia de um completa a ideia do outro. Realizamos um ótimo trabalho em equipe. Claro que com a criação da empresa nosso trabalho diminuiu, depois que ele casou, diminuiu mais ainda. Mas nós sempre estamos acompanhando de perto tudo que acontece por aqui. Fazendo bem o nosso trabalho e nos esforçando para dar um bom exemplo aos nossos funcionários.

A manhã passa lentamente, tivemos duas reuniões e ainda são nove horas. A vida só pode estar de brincadeira com a minha cara. Estou no meu terceiro café quando abrem a porta do meu escritório.

— Olha se não é a matriarca.

— Bom dia para você também, querido.

— Bom dia, mama! — Ela beija minha bochecha.

— Onde está seu irmão? Ele não estava na sala dele. — Mamãe vem nos ver todas as manhãs, sem falta. Não há um dia em que a gente não se veja.

— Tinha uma reunião importante com alguns outros arquitetos, algo sobre um grande projeto. Não prestei muita atenção.

— Ele está é fugindo de mim.

— Ele não está não!

— Está sim!

— Bom, talvez ele não fugisse se a senhora parasse de tentar levar ele para realizar uma colonoscopia. — Não consigo não rir do que eu mesmo disse.

— Eu sou uma boa mãe ok? Sou uma mãe que se preocupa e por isso estou insistindo. Eu te obriguei a ir e você não me odeia!

— É, mas eu não sou o Gregory!

Minha mãe é a louca da saúde, ela está em todas as consultas médicas, todos os check-ups, e depois que nós dois fizemos trinta anos, ela veio nos perseguindo e insistindo para que fizéssemos uma colonoscopia. Eu consegui fugir disso durante dois anos, Gregory está fugindo há quatro. Um verdadeiro guerreiro, Deus sabe como é difícil dizer não para essa mulher.

— Enfim, eu resolvo isso com ele mais tarde! — Mamãe diz — Vai almoçar com o Adrian lá em casa hoje?

— Almoço não, mamãe! Quero almoçar com ele a sós hoje, perguntar o que ele achou da escolinha e como foi o dia dele.

— Eu entendo, querido.

— Podemos ir para o jantar! — Ela sorri e acaricia minha bochecha.

— Será perfeito. E acalme seu coração, meu bonequinho. Eu tive que deixar dois na escola, sei o que está passando, o quanto é difícil e como dói. Mas acredite, esquecerá de tudo isso quando olhar o rosto iluminado do seu pequenino, feliz por ter feito novas amizades, por estar aprendendo coisas novas. Essas coisas, essas experiências que temos na escola, nada pode substituir.

Beijo a mão da minha mãe e agradeço pelas palavras. Não sei o que faria sem ele, sem a minha família, na verdade, eles são minha grande rede de apoio.

— Eu já vou, estarei esperando vocês para o jantar. Eu te amo, querido! Diga ao seu irmão que passei aqui e que essa correria acaba esse mês.

— Eu também te amo, mama!

As suas palavras foram como uma onda de calmaria para o meu coração. Deixei de estar nervoso e aflito, então o dia correu. Resolvi várias coisas que estavam acumuladas, dei uma olhada em como estava indo a nossa nova coleção de móveis vintages. A manhã havia sido muito produtiva, e ainda arranjei tempo para encher o saco de Gregory sobre a bendita colonoscopia. Se passei por isso, ele também terá que passar. Afinal, ao ter irmãos uma regra é certa: se um terá, o outro terá também.

E isso com certeza se encaixa nessa cômica situação.

Mal pisquei e já eram onze horas, ele seria liberado onze e meia. Sai da empresa e fui direto para sua escolinha, queria chegar antes de sua saída como havia prometido. Entro na escola e fico na área onde as crianças da idade dele são deixadas para esperarem pelos pais. Espero por uns dez minutos até que vejo sua cabeleira loira. Olho em seu rosto e observo a cara de confusão, olhando para os lados, procurando por mim. Quando o mesmo me acha, seu rosto se ilumina com o sorriso gostoso que ele tem e o mesmo corre até mim. Me agacho um pouco, o pegando em meu colo. Só aí noto que ele segura a mão de uma mulher.

Uma linda mulher...

✷✷✷CONTINUA ✷✷✷

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