Eu nasci em quatro de outubro de 2021, era um dia chuvoso em Florianópolis, eu não entendia bem o que estava acontecendo, os dias foram passando e eu fui crescendo, vi meus irmãozinhos irem embora, eu fui o único que fiquei, dia vinte e seis de novembro um rapaz veio me buscar, em uma caixa de papelão fui colocado e então fui levado, miei muito pois tinha medo, eu nunca havia saído de perto dos meus pais biológicos. Quando cheguei no apartamento, fui logo cheirar tudo, eu queria conhecer, os dois recém casados eram jovens demais e pareciam muito inexperientes, vi que teria que cuidar deles ali, os dois idiotas acharam que eu era fêmea e me chamaram de "A" Antares por meses, pelo que sei, é o nome da estrela favorita da mamãe. Os dias foram passando, na televisão de casa sempre passava um garoto que só falava besteiras, eu não entendia porque o casal que me adotou ria tanto ao vê-lo, talvez fosse coisa de humanos, gatos talvez não entendessem. Eu não me interessava muito, até que um dia, apareceu um gato em um de seus vídeos, eu, como amava assistir tudo que se referia a gatos, eu parei ver, gostei de olhar, a moça colocou outros vídeos onde o gato aparecia, ele era tigrado, cinza e marrom, minha tutora disse que o nome dele era Babidi, eu adorei ele logo de cara, o vídeo onde ele colocava o tutor bigodudo dele para correr dentro de casa era o meu favorito, deixava passando em looping dentro de casa, ele era um herói, virei seu maior fã. Minha mamãe tentava me fazer ver Garfield, Tigrão, Mandachuva e etc. Mas não, eu só queria assistir o Babidi, e o melhor é que ele tinha quase a minha idade, me sentia totalmente representado nos vídeos, todos os dias eu queria fazer algo parecido, então minha tutora falou que eu podia assistir o Babidoggers, mas não podia imita-lo, eu não ouvi nem por um segundo, não era uma fase, era meu verdadeiro eu! Um dia, eu até fui me olhar no espelho para ver se eu era rajadinho igual a ele, mas percebi que eu era branco, com orelhas marrons, rabo da mesma cor e uma manchinha circular perfeita marrom igual as orelhas no lado direito da minha barriga, mas tudo bem, não tinha problema, o que importava era o interior! Os meses foram passando e eu ansiava cada vez mais por ver vídeos do Babidi, eu queria muito um dia conhecê-lo e chama-lo de herói pessoalmente, ele tinha mudado a minha vida e formado meu caráter, inclusive, eu tinha guardado algumas economias do meu trabalho freelancer de caçador do que o papai e a mamãe chamavam de Lobispiros (lobisomem+vampiro) para viajar e ve-lo. Em setembro de 2022 eu já estava com quase todo o dinheiro da passagem e hospedagem, mas dia 20 eu acordei me sentindo um pouco mal, papai e mamãe sabiam que tinha algo diferente, eu também sabia, mas mesmo assim levantei e acompanhei eles enquanto se arrumavam para sair, mamãe com o coração apertado me fez um carinho e saiu, papai ficou em casa. No decorrer do dia, eu comecei a sentir muita dor, fui para o colo do papai, eu sabia que ele não poderia tirar a dor de mim, mas eu me sentia protegido lá, quando eu não quis sachê e nem beber água, papai me colocou em uma caixinha de transporte e me levou para tia Jaiene, minha veterinária, quando cheguei lá, minhas patinhas traseiras já não funcionavam mais, tive medo, mas respirei fundo e pensei "O que o Babidi faria agora?", papai correndo me levou para o hospital mais próximo, onde a titia Nyarsha cuidou de mim, ela me deu algumas injeções, mas a dor não passava, mamãe chegou, quando ela me viu, eu vi que ele se segurou, queria parecer forte para mim, se esforçou muito para sorrir e dizer que tudo ia passar e eu ia ficar bem, eu, como todo gato que possui um herói me inspirei na força, coragem e intrepidez de Babidi para miar de volta e dizer que acreditava nela. As horas passaram e já era muito noite quando a titia Nyarsha me levou para uma sala onde meu papai e mamãe estavam, papai chorava muito e mamãe tentava se manter firme, mas eu podia ver no olhar dela que não estava tudo bem, entre muitos beijos e abraços, fui tomado de um sono e quando acordei, já estava em outro lugar, já estava aqui lugar onde chamam de "Céu dos Gatos", tudo é bom e tranquilo aqui. Mas hoje eu acordei e vi um gato que ainda estava perdido (igual a mim quando vim aqui) andando, fui até ele na intenção de ajudar, quando me aproximei, quase chorei de emoção era o Babidi, meu herói! Corri e o cumprimentei encostando nossos narizes.
-Eu sou muito seu fã! - falei
-Onde eu estou? - Ele disse confuso
-Esse é o Céu dos Gatos - falei animado - É para onde vem os bons meninos. Meu nome é Antares, mas pode me chamar de Tares, é meu apelido.
-É um prazer, Tares! - ele disse sorrindo também
-Eu assisti todos os seus vídeos enquanto eu estava na casa do papai e da mamãe, como foi tudo lá? - perguntei
Então ele ficou horas me contando todas as aventuras que viveu, como eram as lives e etc. Ele também me contou que estava feliz por já ter feito um amigo, eu prometi que iria o acompanhar o tempo todo, contei a ele que todos os dias eu tentava perseguir meu dono igual ele fez com o dele e ele riu muito, depois de muita conversa ele falou.
-Eu ainda lembro dele
-De quem? - perguntei
-Do meu tutor - ele disse suspirando - Sinto saudades.
-Eu também sinto falta dos meus - admiti - Mas aqui o tempo passa diferente e a saudade é nostálgica e não dolorida, chega um momento, que não nos importamos de esperar o tempo que for para revê-los.
-Você me ensina como chegar nesse nível?
-É claro! - sorri e ele correspondeu - Vem, deixa eu te mostrar tudo! Tem um pote de sachê enorme e o vale dos petiscos é mágico, sei onde tem um arranhador muito bom.
-É mesmo? - ele disse encantado
-Sim, vem! Vamos lá brincar
-Vamos! - Babidi disse pulando
Então começamos a correr pelo gramado, Babidi me contou que na Terra ele não estava muito bem, mas o bom daqui eu vi na prática, que não existe dor e nem sofrimento, ele estava bem! Estamos bem e como já dito anteriormente, não nos importamos de esperar.
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