II - A Nova Escola

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—  Oi, Dudu. Tudo bem? Vamos até o jardim da vila para brincar? O dia está bonito e cheio de passarinhos e flores. Não fica aí parado. Vamos lá! — Ela dizia ao passar pela sua casa e vê-lo no portão, o pensamento longe.

O garoto ficava vermelho, suas pernas tremiam, e ele não sabia o que dizer. Até que um dia criou coragem, e conseguiu soltar duas palavras de sua boca.

— Quero sim.

E finalmente foram passear no jardim. Ana Clara, com seu olhar meigo, colocou a mão sobre a de Eduardo, e eles continuaram a caminhar ouvindo o canto das aves.

Ele, mesmo nervoso, aproveitou aquele momento mágico e começou a conversar com Ana Clara, munido de uma coragem que só pertence aos homens:

— Que tal se nós namorássemos de verdade?

— Dudu, podemos nos ver ou passear de vez em quando, mas você sabe que meus pais não deixarão que eu saia com você. Nós somos muito jovens. Com o tempo, quem sabe? — Respondeu a menina, consciente de que ainda não era hora de abandonar a infância.

— Está bem. De vez em quando, vamos nos ver — disse ele, ainda insistindo por um tempo em ser menino.

E começou ali um quase namoro... Doce, cheio de inocência e brincadeira, sem malícia, que fez o garoto descobrir outro mundo, muito além de sua imaginação.

O namoro terminou em meio às mudanças nas vidas dos dois e o tempo foi passando. Depois de mais quatro anos, terminado o ensino fundamental na escola da indústria, agora era hora de mudar de colégio. A fábrica fez um convênio com uma boa escola particular, onde os filhos dos funcionários ganharam bolsas de estudos. Foi a oportunidade perfeita para o adolescente continuar a aprender em uma nova escola.

Logo que chegou ao colégio, Eduardo começou a fazer amizades com facilidade. Como sempre se esforçava, conseguia acompanhar o ensino com tranquilidade. A escola era da igreja católica e também tinha aulas de religião, onde o jovem sempre acompanhava os trechos da Bíblia, que eram lidos pelo padre e professor de ensino religioso. Ele conhecia os textos principais da Bíblia de cor, graças a assiduidade de sua família na igreja. Certa vez, o padre Antônio José da paróquia de Monte Belo estava fazendo um sermão para todos os alunos da escola e perguntou:

— Alguém aqui saberia dizer os nomes dos doze apóstolos de Cristo?

Eduardo prontamente levantou a mão direita, como aprendera na escola da fábrica quando queria dar uma resposta.

— Pode falar rapazinho — disse o padre.

— Segundo o livro de Mateus, capítulo dez, versículo dois, eram: Pedro e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus; Tiago, filho de Alfeu; Judas Tadeu; Simão, o Zelote; e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu.

— Meus parabéns, meu jovem. Vejo que os alunos desse colégio conhecem bem a Bíblia — disse o padre.

O garoto já havia lido toda a Bíblia e conhecia todas as histórias. Aquele universo de mistérios e milagres sempre o encantaram. Muitas vezes era o único livro que tinha em casa e, por isso, mergulhava nas histórias de Caim e Abel, José e os sonhos, Moisés e as pragas egípcias, entre outros. Os alunos, ao verem aquilo, ficaram olhando, assustados. "Quem poderia saber o nome dos doze apóstolos de Cristo? " — Pensavam.

Com o tempo, ele conheceu muitos estudantes novos, como o nissei Nilo Sato, que gostava de fazer ginástica e se exercitar nas barras paralelas do ginásio do colégio. Um dia, ele resolveu quebrar o gelo com o novato:

— Como vai, Eduardo? Vi seu nome na lista de chamada e percebi que você era novo aqui.

— Espero que possamos ser amigos.

— É claro! No que precisar de mim, é só falar.

— Obrigado!

Logo foram Murilo e Cristiano que se aproximaram de Eduardo, dois jovens que gostavam de jogar basquete.

— Olá, novato, que tal jogarmos um pouco de basquete no ginásio, na hora do recreio? Assim poderemos nos conhecer melhor.

— Que legal! Eu gosto de basquete. — Eduardo respondeu.

E foram aproveitar o tempo para jogar um pouco e se exercitar. Era assim, Eduardo tinha algo com ele, uma energia em seu sorriso e calma que parecia atrair os outros... Mas nem tudo era tão tranquilo.

Enquanto o jovem respondia às perguntas feitas pelos professores, no decorrer das aulas, havia um aluno sentado na última carteira da primeira fila, próxima à janela, que olhava para ele, cheio de inveja. Seu nome era Glauco.

Ele notara que o novato era diferente dos outros alunos, como se estivesse um passo à frente, e ele não gostava disso. Se alguém tinha que estar adiante, esse alguém era Glauco. Não admitia que um recém-chegado ocupasse a sua vaga de direito, como ele achava que tinha de ser.

Há dois anos, Glauco sempre fora exemplo na sala de aula, como um bom aluno. Porém há algum tempo, não conseguia mais acompanhar a matéria e passou a ter dificuldade nos estudos. Não se relacionava bem com seus pais e não os escutava. Em vez de pedir ajuda aos professores e colegas para aprender, alimentava sentimentos de raiva e inveja ao ver os outros alunos se destacarem. E Eduardo, com seu carisma, passou a ser alvo de seu ódio. Glauco passou a implicar com o garoto na hora do recreio:

—  E então, calouro? Não faz nada além de estudar?

E deu um tapa na cabeça do menino para expressar seu desprezo. Eduardo não brigou, apenas passou a evitá-lo. Quando Eduardo estava com os seus amigos, Glauco nem mesmo se aproximava. No entanto, quando ele estava sozinho, logo ele vinha aborrecer o rapaz. Mal sabia Glauco que um dia iria se arrepender amargamente por importunar o novato.

Foi em uma das visitas à igreja que Eduardo foi tocado pelo amor novamente. Ao avistar uma menina de cabelos castanhos claros sentada um pouco mais à frente. Era linda, e o jovem logo sentiu seu coração bater mais forte quando a menina lhe dirigiu o olhar.

"Será que ela é de verdade? " — Ele se indagou, maravilhado diante da beleza da garota.

Poderia sentir o ardor de sua pele em chamas, imaginando seu toque doce, vindo de mãos alvas, que brilhavam de tão claras com as luzes do local. Não conseguia prestar atenção no sermão do pastor da igreja ou, simplesmente, achava que o céu era bem ali, nela... Como poderia ficar tão alucinado, sem nem conhecê-la ou saber seu nome?

Só poderia ter adoecido. Essa era a justificativa por sentir coisas que jamais tivera antes. Por mais que os pais olhassem apreensivos para ele, não conseguia mais prestar atenção nas palavras do orador. Estava hipnotizado e aprisionado a ela.

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O Bisturi de OuroWhere stories live. Discover now