Capítulo 11

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Mackenzie

Depois de olhar pela janela por uma hora, Drake se sentou ao meu lado, suas pernas longas esticadas à sua frente. Nós dois estávamos suados, e provavelmente ficaríamos assim por um bom tempo já que esse lugar não era muito limpo. Vai ver nem tinha água limpa

— Você amava sua mãe? — pergunto sentindo a necessidade de encerrar o assunto e escuto Drake bufar

— Porque está tão fissurada nesse assunto?

— Porque você não me respondeu e porque ainda acho que existe algo mais

— Está tentando arrumar uma desculpa para o que o seu pai fez?

— Não, estou tentando organizar as coisas em minha cabeça

— Então está errada em começar por aí, deveria começar em porque você voltou para cá e fingiu ser sua irmã quando ela estava do outro lado da cidade — pisco surpresa com isso e ele estreita os olhos reparando — Não sabia disso?

— Não

— Estou me perguntando o que você acha que ela estava fazendo

— Não importa, ela pediu minha ajuda

— É tão bondosa assim? — Drake pergunta, seu tom de voz pingando escárnio — Ou é apenas inocência?

Me viro apoiando a cabeça na parede, busco seus olhos vendo-os mais claros a luz do dia e permaneço lá. Ele não me assustava, pelo menos não agora

— As vezes eu preferiria ser apenas inocente

— Não quer ver os monstros?

— Não, eu já convivi demais com eles — Drake me olha e depois de um pulsar ele desvia o olhar, sua mandíbula trincada e seus músculos tensos demais para passar despercebido

— Foi um deles que fez com que você fizesse aquilo consigo mesma?

Franzo a testa com sua pergunta e ele olha de lado focando em minha barriga, puxo uma respiração e sorrio amargamente

— Acha que fui eu? — pergunto e pelo seu silêncio suponho que sim — Claro que acha — suspiro e fecho as mãos em punhos — Se quer mesmo saber, um dia a May queria sair com os amigos dela e eu acobertei sua saída — pensando bem, não é muito diferente de agora, faço uma careta com esse pensamento e continuo — Salomon descobriu e como ele já estava bêbado foi apenas um passo pequeno para a raiva e outro passo bem menor para agressão. O resto é história, garrafa estourando, cacos voando, eu no meio. Fim

Olho para as minhas mãos e de canto de olho vejo as mãos de Drake formadas em punhos, as veias em seu braço amostra. Pisco meus olhos para longe e continuo falando. O silêncio às vezes era perturbador demais e eu não queria entrar em meus próprios pensamentos, eles estavam tão bagunçados quanto aqui fora

— Porque ele não mandou o Jordan? Seu pai não confia nele? — Drake emite um som engraçado e eu me viro pegando sua expressão divertida mesmo que seus olhos ainda estejam injetados

— Ele não confia em mim

— Interessante — falo e ele se vira arqueando uma sobrancelha — Porque ele mandaria você sozinho?

— Seu pai e o meu são do mesmo tipo de monstro, então o que acha?

Engulo em seco quando entendo e balanço a cabeça, um ar frio invade o quarto e eu estremeço contente. Aquele calor estava abafando nossas respirações e minha garganta estava seca o bastante para incomodar

Deito a cabeça na parede fechando os olhos e foco em apenas respirar pelo nariz controlando meu corpo. Talvez se eu dormisse esse dia passasse mais rápido

— Vamos lá Belle só estávamos brincando com você — perto demais. Eles estavam perto demais — Vamos maninha, saia para brincar

Dou um passo para trás tropeçando no tapete grosso e ofego acordando do meu sono, impedindo um grito olho com a boca seca para onde estou e paro quando vejo Drake me observando ao meu lado, sua expressão curiosa e receosa. Passo a língua em meus lábios e tusso quando sinto eles gelados e secos

Eu odiava esses tipos de pesadelos, aqueles misturados com lembranças ruins que você preferiria apagar da memória, aqueles dos quais você tenta correr a vida inteira

— Monstros? — Drake pergunta e eu pisco surpresa com seu tom amigável. Então lhe dou essa carta

— Sempre

Drake me observa por mais alguns minutos mas para quando me vê estremecendo de frio. Olho pela janela vendo o céu escuro e me pergunto a que horas começou a chover

— Vou ver se tem água em algum lugar — Drake diz se levantando e eu quase o aplaudo se não estivesse com as mãos congeladas. Deus, estava calor até pouco tempo, que tipo de cidade era essa?

— Tudo bem

— Não faça nenhuma bobagem — e lá estava o velho e ignorante Drake. Reviro os olhos quando ele vira de costas e o vejo se virando para mim, coloco uma expressão passiva e ele balança a cabeça — É sério

— Eu não falei nada

— Nem precisa

Ele sai batendo a porta velha e eu puxo as pontas do lençol rasgado e empoeirado para cima de mim. Dane-se que isso não foi lavado a séculos, eu estava com frio o bastante para não me importar

Me encolhendo no chão me forço a continuar acordada para não congelar e olho pela janela vendo gotas grossas caírem em uma queda contínua, em algum lugar do pub um relógio marca oito da noite e eu esfrego a testa com a ponta do polegar

Me virando para a porta me inclino quando escuto barulho de sapatos e olho pela brecha. Drake não seria tão rápido assim, não em um lugar do qual não sabe nada. Me levanto puxando o lençol comigo e engulo o restante de minha saliva quando meus ossos reclamam do movimento abrupto. Ando até a janela testando a chave e fecho os olhos quando ela fez um clique ressonante demais

— Tentando escapar? — jogo a primeira coisa que encontro na mesa aos pés da janela e vejo se estilhaçar atrás de um dos guardas do meu pai. Jogo o lençol no chão tentando abrir a janela mas paro com um grito quando ele puxa meu pé me fazendo bater com força no chão

Chuto suas pernas e vejo mais dois guardas virem até mim me prendendo entre eles

— NÃO — tento socar algum no rosto mas um deles percebe o movimento e pressiona minhas mãos no chão enquanto o outro tenta bater em minha boca — DRAKE!

Uma mão grossa tapa minha boca e sinto meus cortes inflamados se abrirem de novo quando uma corda é lançada em meu pés e mãos. Fecho os olhos quando sou jogada no ombro de alguém e cuspo na cara de um quando ele coloca uma fita grossa em minha boca

Ele sorri limpando o rosto e minhas narinas se dilatam com raiva enquanto eles começam a andar em direção. Olho ao redor procurando algum vestígio de Drake, mas só o que vejo são pessoas jogadas no chão, algumas cobertas de sangue e outras encolhidas o mais distante possível

Balanço minhas pernas o máximo que posso, mas só o que eu consigo é irritá-lo o bastante para que ele me jogue com força no porta malas de um carro. Grito quando a porta é fechada e bato os punhos o bastante para machucá-los também

Com a respiração descontrolada fecho os olhos e sinto as lágrimas finalmente virem com força total, fungando paro quando escuto as vozes e grito de novo quando sou jogada para a frente com a velocidade

— Estamos com ela — um deles fala e eu paraliso tentando escutar — Chegaremos amanhã, aeroporto principal

Franzo a testa tentando pensar em como nos acharam mas paro quando o cheiro de algo forte invade meus sentidos. Uma voz distante e divertida ressoa perto demais e eu pisco tentando manter meus olhos abertos

— Vamos ver se ela irá gritar mais, coloquem as máscaras — ofego tentando prender a respiração, mas paro quando meus pulmões lutam e meu coração se acelera

Caio batendo a cabeça em algum lugar afiado e fecho os olhos

BROKENWhere stories live. Discover now