Assentos

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     - Eu poderia ficar o dia todo aqui com você - Dimu disse, olhando nos olhos da única mulher que o encantou em toda a sua vida. - Mas nem tudo é tão fácil, não é?
     - Infelizmente, acho que você nunca vai conseguir me amar mais do que ama o seu tesouro - ela disse, olhando para as pétalas de flores que voavam ao vento. - Nunca.
     - Não fale besteiras, minha querida - Dimu disse, pegando uma pedra pequena e jogando no rio. - Você sabe que para manter a sua boa qualidade de vida, eu preciso viajar muito.
     - Mas Dimitri, faz dias que não consumamos! - ela disse, bagunçando o cabelo preto e liso com as próprias mãos. - Eu já estou ficando louca! Você só sabe viajar, fazer acordos com outros reinos! Você não tem tempo pra mim!
     - SE EU NÃO TRABALHAR, NÃO VOU PODER TE DAR JÓIAS! - Dimu gritou, pisando forte na grama do jardim de seu castelo. - Eu só vivo para esse objetivo.
     - Querido, me perdoe - ela disse e se aproximou de Dimu para beija-lo, mas recebeu um leve empurrão. - Eu não entendo, Dimitri.
     - Você estragou o pouco tempo que tinhamos para passear no jardim e olhar o rio - Dimu disse. - Agora eu preciso viajar, preciso fazer mais um negócio.
     E assim, o rei Dimu deixou a rainha Evangeline chorando e decepcionada com o estado atual de seu casamento. Enquanto isso, Mateo começava uma nova jornada em sua vida.
     Mateo viajou por três longos dias, a bordo de um navio que navegava rumo à Hardema. Mateo nunca matou um touro em sua vida, nem mesmo esteve na frente de um touro bravo. Ele sentia um medo enorme dentro de si, um medo enorme em pensar que o encontro com o Chifres de Pedra poderia ser a última aventura de sua vida. Ele sabia que tinha 99% de chances de morrer e 1% de chance de sobreviver e pagar a sua dívida.
Mateo chegou cansado da longa viagem e alugou um quarto na casa de uma senhora, em Hardema era muito comum as pessoas oferecerem pousada para turistas, mas eram casas específicas com serviços de quarto específicos, não era qualquer casa que poderia servir de pousada.
Mateo sabia que a fila de candidatos que queriam matar o touro era muito extensa, então encheu uma bolsa de lã com comida e água, foi assim que ele conseguiu manter a calma durante três horas na fila de espera do coliseu.
Quando a torre do relógio ( é uma torre antiga com uma placa de madeira como roda do relógio e uma estaca de ouro no centro servindo como ponteiro. De acordo com a posição do sol, a sombra da estaca de ouro apontava para a hora correta ) marcou meio-dia, o participante número quarenta e nove foi derrotado pelo touro, então os guardas liberaram a entrada do coliseu para os onze próximos participantes, ou seja, ele e
dez que estavam junto dele. Ao entrar no coliseu e escolher seu assento, Mateo estranhou o fato de que havia algumas pedras espalhadas na arena, com sangue por cima delas, chegou a pensar que alguém havia derrotado o touro e partido os chifres de pedra, mas não fazia sentido a sua teoria, pois se Mateo estava no coliseu, era porque o espetáculo ainda continuaria. Se o touro já estivesse morto, haveria muitos gritos e parabenizações ao vencedor e a enorme fila seria desfeita pelos guardas.
Nos assentos comuns sentava a plateia, nos assentos azuis sentavam os participantes do evento, ou seja, os homens que enfrentariam o Chifres de Pedra. Nos assentos de bronze sentavam os funcionários do coliseu, como: Limpadores de arena, porteiros do touro e vendedoras de lanches, vendedoras essas que dividiam o trabalho uma para a outra, assim todas tinham a sua vez de descansar e assistir o espetáculo do touro. Nos assentos de prata sentavam os grandes fazendeiros e médicos da região. Nos assentos dourados sentavam Xiban e sua esposa. Por fim, nos assentos vermelhos sentava a família real de Hardema.
Um limpador de arena removeu as pedras que estavam espalhadas na areia e um novo combate iniciou-se. Mateo prestou muita atenção nos movimentos do touro e nos movimentos do participante número cinquenta, mas Mateo ficou chocado ao ver com seus próprios olhos que as histórias eram reais. O touro com chifres de pedra estava bem ali, tão perto!
Mesmo que Mateo estivesse prestando atenção nos movimentos do touro e nos movimentos de um participante muito habilidoso, ele não ficou tranquilo. Ainda que ele fosse morto pelo touro, preferia morrer nos chifres do touro do que morrer nas mãos de Lorenço.
Xiban comentava o combate inteiro para manter o sentimento de apresentador. Xiban era nada mais e nada menos que o " dono " do Chifres de Pedra. Por ser o dono do touro incomum, ficou rico apenas apresentando os combates do touro, narrando qualquer movimento do touro e dos participantes. Ele não era mais o chinês magro e bonito que zombava de Simas há muitos anos atrás, ele estava muito gordo e feio. A riqueza pode comprar qualquer comida, mas pode transformar o corpo de qualquer homem guloso.

Chifres de PEDRAWhere stories live. Discover now