Capítulo 15: Shoto vs Natsumi

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Agora o último combate era entre mim e o garoto Todoroki, sempre que eu olhava para ele me lembrava das lembranças que Carnificina pegou do Endevor, eu me identificava bastante com a infância do bicolor, fomos criados pelo mesmo propósito, a única diferença é que ele nasceu com o que o pai dele queria e eu não. Nasci como uma decepção. Observei enquanto levavam Bakugou para a enfermaria, para ter certeza de que ele não tinha nenhum ferimento grave, mas me acalmei ao vê-lo com um olhar mortal direcionado em minha direção e ele tentar avançar, mas foi segurado pelos funcionários, dava para ouvir os xingamentos dele daqui; ignorei isso e desapareci da vista de todos após a conclusão da luta, eu só tinha uns quinze minutos para descansar antes do próximo combate. Ficar perto desses garotos tá me deixando muito sentimental, ou talvez seja a minha mente apenas me traindo e me fazendo lembrar de tudo, também pode ser o Carnificina, ele gosta de me torturar de forma psicológica as vezes, mas, honestamente, não importa o que seja, querendo ou não são lembranças que sempre vou carregar, sejam elas boas ou não. Cicatrizes são eternas, querendo ou não elas moldam quem você é aos poucos, aquela história de que é nós que escolhemos quem somos não passa de história para crianças, infelizmente as coisas não funcionam assim.

-- "Você está mais depressiva que o normal." -- Venom comentou, tirando-me dos meus pensamentos.

-- Não é que eu esteja depressiva, apenas estou me lembrando de algumas coisas, nada demais.

-- "Nós oferecemos a opção de se vingar daquela vaca que você chama de mãe e, assim, finalmente conseguir deixar esse seu passado estúpido para trás, mas você não quis aceitar!" -- Carnificina disse, parecia entediado.

-- As coisas não são tão simples assim.

-- "Para mim parecem ser bem simples, assim como o fato de você ainda ter medo da sua 'mãe', apesar de todo o poder que conseguiu com a nossa ajuda!"

-- Eu não tenho medo dela!

-- Não é o que parece para mim. -- Carnificina saiu das minhas costas, havia um certo tom de malícia em seus olhos, mas não dei muita atenção para esse detalhe. -- Você tem medo de ficar cara a cara com ela, pois acha que vai ser da mesma forma de quando era criança: uma inútil sem individualidade que sofria abusos da própria mamãe! Você é patética!

-- Cala a boca! -- tampei meus ouvidos, mas ainda conseguia ouvir a risada psicótica dele.

Quem eu quero enganar? Infelizmente o Carnificina tem razão, não fico cara a cara com ela por medo, mas também não posso machucá-la, a vida da minha irmã depende, infelizmente, daquela vaca. Eu não poderia criá-la, não quero que ela seja como eu, sem contar que ela nem deve saber que eu existo e se sabe da minha existência, provavelmente sou considerada morta ou alguma coisa do tipo. Aquela vaca deve ter achado que eu morri quando não apareci mais em casa, ou talvez que eu tenha fugido, mas apesar de não me ver como filha, acho que ela prestava atenção o suficiente para saber que, mesmo com aquilo tudo, eu não fugiria de casa, pois é o único teto que tenho. Lembro-me como se fosse ontem quando nos encontramos depois de eu ter me tornado vigilante, ainda estava me recuperando dos meus traumas e aos poucos deixava o passado para trás, reencontrá-la foi como levar um choque no cérebro, mas o que mais doeu foi o fato dela não ter me reconhecido...

● ● ● ●

-- "Estamos com fome, Natsumi."

-- Eu ouvi nas últimas dez vezes que você disse, Venom, por isso vou continuar com a mesma resposta: sejam pacientes, vocês não vão morrer. -- murmurei enquanto andava pela calçada, chamando a atenção de algumas pessoas, mas apenas ignorava e seguia meu caminho.

A Vigilante (Boku No Hero) Where stories live. Discover now