prólogo - disco de vinil arranhado

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nunca pensei que diria isso por meio de páginas, ou através de uma caneta esferográfica preta, há muito tempo penso em criar parágrafos ao redor disso para que possa ser satisfatório, bem, até agora sim. sempre estive nesses mesmos degraus, confundindo fotos com paralelos ativos, acobertando garotos com o açúcar de balas, assumindo que algum dia eles poderiam preencher o vazio que o meu pai deixou ao sair da cidade, e com isso eu me sentiria segura, eu finalmente me sentaria em uma poltrona confortável, falando abertamente sobre como me sinto.

então continuei espalhando polaroid na entrada, brinquei de amor com apenas um teclado e uma temperatura mundana, fingi ser quem eu não era por dias, pedi por ele por anos, ou seja, desperdicei minha energia com pessoas quem nem ao menos sabem o meu nome. uma vez eu percebi, eu vi as dezenas de fotos espalhadas na entrada de casa, era impossível não reparar, pois eu mal conseguia abrir a porta, neste exato momento eu as coloquei em caixas separadas, joguei em um lago mais próximo, e esta mesma cena se repetiu por cerca de 4 anos.

muitos dizem que a cura deve ser aceita e que eu nunca a priorizo, mas quem disse que não tentei? nesta tempestade em forma de disco de vinil arranhado, vieram homens mais velhos, caixas de papelão furadas, bagagens de mão, péssimas notas em um pequeno bloco, miniaturas de repetição, dentre outros. quero que perceba que eu nunca estive parada ou cansada o suficiente para desativar o 1% de positividade, eu estive no precipício e bem acima dele, e eu poderia ser o navio contra ele, mas nunca soube como navegar da maneira correta, portanto, apenas veja que as 300 fotos já foram apagadas, riscadas e recortadas, é tempo de cura.

São apenas cartas de amorDonde viven las historias. Descúbrelo ahora