36 ㅡ O plano.

Começar do início
                                    

ㅡ É, talvez eu goste um pouco dela. - Me permiti fazer piada. - Mas não muito também.

Segundo passo: reconhecimento do ambiente.

Podia até parecer loucura eu ter ficado dentro de meu carro, com um binóculo às seis da manhã espiando para dentro de algumas fábricas abandonadas, porém eu fiquei. Eu estacionei o carro perto demais para não correr o risco de ser vista o que dificultou a ter uma boa visão mesmo usando um binóculo; bem o binóculo também não era de uma qualidade maravilhosa já que eu havia comprado em um posto de gasolina no caminho para a tocaia.

Mesmo com os meus pequenos problemas de visão acabei por obter informações úteis. Eis o que descobri: na entrada da antiga fábrica abandonada de mariscos ficam sempre dois homens, ambos bem armados e preparados para atacar quem aparecesse. Em cima do bloco de cimento que é a fábrica fica um homem, provavelmente armado também ou apenas de vigia, esse em questão não está tão preparado quando os outros e claramente está pouco se importando para o que acontece lá em baixo já que, em todo tempo que fiquei espiando, ele não saiu do celular ou colocou o seu próprio binóculo no rosto uma vez sequer; se tivesse feito teria me visto. Nos fundos também tem uma porta, bem menor, mas ninguém a vigia porque provavelmente fica trancada. O movimento era grande, de minuto em minuto alguém saía ou entrava na fábrica, algo importante parecia estar ocorrendo lá dentro.

Terceiro passo: armar-se (só se for necessário ao que vai fazer)

Não, eu não tinha nenhuma arma ou coisa do tipo na gaveta da cômoda ou escondida em uma caixa dentro do armário, pelo amor de Deus, meu trabalho é ler livros. Nunca pensei que talvez um dia eu fosse precisar de uma arma e bem, por esse motivo essa história de me armar já começou mal.

Me vesti com a roupa mais confortável e cheia de bolsos que encontrei, neles eu coloquei todos os sprays de pimenta que consegui achar no meu kit e a única faca que eu tinha que possuía uma capa para a mesma, meu pai havia me dado quando eu tinha uns oito anos que fomos pescar e considerando a idade que eu tinha podem imaginar que não era a maior das facas. Eu sabia que não era muito em comparação as armas que os homens provavelmente tinham porém já era alguma coisa, melhor que entrar lá de mãos abanando pro azar.

Quarto passo: fazer tudo com calma.

Resolvi tentar entrar na fábrica pela porta de trás já que ninguém a vigiava e estava certa por presumir que estaria trancada porém era com um cadeado antigo e enferrujado, uma puxada e ele se desintegrou em minhas mãos, o que me fez crer que os tais homens não faziam ideia da existência daquela porta.

Caminhei por uma grande sala escura cheia de máquinas e canos, presumi ser um depósito antigo ou coisa do tipo e por mais que a fábrica não funcionasse a mais de vinte anos tudo ainda cheirava a marisco e ferrugem.

Ao achar uma porta fiquei em silêncio um tempo apenas escutando o movimento e rezei milhares de vezes para que não tivesse ninguém do outro lado antes de cruza-la. Acabei em um corredor escuro, iluminado apenas por luzes amareladas no alto das paredes. Eu estava totalmente trancada, o corredor levava a uma única porta, se alguém passasse por ela eu não teria para onde ir.

No alto da porta havia uma janela de vidros ondulados, claramente antigo, era difícil de enxergar mas eu reconheceria aquela pessoa onde fosse; lá estava Soraya, sentada em uma cadeira no meio de um grande salão, totalmente marrada. Cruzei a porta me esgueirando para esconder-me atrás de alguns caixotes de madeira.

Quando meus olhos finalmente encontraram ela, foi como se minhas pernas não funcionassem mais e eu instantaneamente tive de ajoelhar-me no chão. A pele branca do rosto de Soraya estava coberta em sangue assim como as pontas do cabelo claro que grudavam nos machucados, cabelo esse estavam bem mais curtos e havia sido cortado mal e porcamente. Sua cabeça pendia para baixo como se fosse a coisa mais pesada do mundo mostrando claramente quão estava cansada.

Your flowers - simone e soraya Onde histórias criam vida. Descubra agora