— Bom, foi aqui nessa mesma cidade que eu vim passar férias a pouco mais de um ano, sabe? Eu estava presa numa vida de merda, sem emoções mas aí eu encontrei o homem da minha vida que me deu um casamento lindo e um bebê gordinho. — ele levanta o queixo de maneira presunçosa e eu rio, atraindo a atenção do Teddy para mim.

Ele me observa com os olhos cinzas enormes e sorri também, batendo as perninhas.

— Nova York é uma cidade especial. — Christian murmura enquanto olha entre eu e o nosso bebê, os olhos brilhando com alguma coisa muito parecido com fascínio.

— Não faz ideia do quanto, meu amor.

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— Você não entrou em contato novamente para saber sobre o que ela quer falar? — Mia murmura enquanto joga alguns amendoins na boca.

Checo o meu batom uma última vez para me certificar que não existe nenhum borrado e olho para a minha amiga atravéz do reflexo do espelho.

— Não entrei e nem vou. Nada de bom vem dela, Mia e você sabe disso melhor que ninguém. — ela faz uma careta e assente.

O relacionamento da minha mãe com a Mia sempre foi feito de altos e baixos, uma prova do quão mesquinha e esnobe a senhora Carla Steele consegue ser.

Enquanto tudo estava bem a Mia era a melhor amiga que eu poderia ter arranjado.

Quando a família dela teve problemas financeiros e perderam praticamente tudo o julgamento da minha mãe mudou rapidamente.

Como eu consegui aguentar ela durante tantos anos sem sustar ainda é uma incógnita.

— Para ser sincera eu até achei estranho ela estar aqui em Nova York. Christian disse que contou para o meu pai os detalhes do batizado mas depois do que aconteceu no parto do Teddy cheguei a pensar que ela esqueceria que sou filha dela.

— A sua mãe é uma cadela, Ana, mas ela é uma cadela esperta. Lógico que ela daria um jeito de correr para Nova York quando soubesse que vocês estavam aqui ou já esqueceu o empenho em livrar a cara do Alex?

Aperto as minhas mãos em punhos e dou um soco na penteadeira de carvalho.

Carla nunca foi uma mãe relapsa mas também nunca foi presente na minha vida como era na vida do meu irmão.

Alex era o céu e a terra ela, sempre foi. Mesmo que eu tenha sido a filha perfeita que nunca se rebelou na adolescência, nunca fez nada errada e sempre tirava as melhores notas ainda não foi suficiente para ela prestar um pouco mais de atenção em mim.

Tudo que eu fiz nunca foi suficiente.

Nem a minha dedicação e inteligência além da média.

Só o Alex que era mais que suficiente. Ele era quase necessário para ela. Como se um fosse a continuação do outro.

— Não vai adiantar. Alex já está sumido a horas e a Carla ainda não fez um circo para procurá-lo. Provavelmente ela quer falar comigo para implorar misericórdia em nome do filho dela. — borrifo um pouco do meu perfume no pescoço e me levanto da cadeira, passando as mãos pela minha calça de alfaiataria. 

— Tem certeza que vai ficar bem com o Teddy? — Mia assente e lança um olhar caminhoso para o meu filho que dorme tranquilo na cama cercado de cobertores.

— Pode ir sem preocupações, nós vamos ficar bem.

Olho uma última vez para o meu filho e assinto, saindo do quarto atrás do meu marido.

Eu odeio ficar longe do meu bebê mas é uma emergência e nem em sonho eu levaria o meu filho para um lugar que cheira a morte.

Christian está na sacada do quarto falando no celular enquanto eu caminho pela sala até uma maleta prata sobre a mesinha.

Ninety Days Where stories live. Discover now