Capítulo 01 - Memórias voam com o vento

Start from the beginning
                                    

Jimin foi, com certeza, o maior entusiasta para que eu abrisse a confeitaria, desde quando a ideia foi verbalizada pra ele, bem no começo do nosso namoro. Há dois anos, a "Magic Coffee Shop" foi aberta e cresceu mais do que eu imaginei ser possível num lugar em que há tantas cafeterias famosas. Muito desse sucesso eu devo ao Jimin, ele comprava bolos para distribuir no trabalho e pelas ruas de Seul. Eu costumava dizer que se ele cansasse de ser biólogo, poderia investir em publicidade junto com Yoongi.

Eu nunca quis ser rico e famoso, sempre me interessou apenas fazer o que eu amo e conseguir viver disso. E eu consegui. Consigo. Eu sempre me considerei bem sucedido por ter saúde, me sustentar, ter um lugar pra morar, conseguir me alimentar, manter as contas em dia... e ainda com o adicional de ter uma família incrível, amigos fantásticos e um noivo maravilhoso.

Jimin foi o primeiro namorado que tive — o único, na verdade — e meus pais o adoravam e Jimin tinha por eles um respeito que vi poucas vezes em vida. Eles são assim com meu cunhado e foram com minha ex-cunhada, mesmo que ela não fosse legal e não merecesse ser tão bem tratada pelos meus pais e nem pelo meu irmão. Mas isso é outra história.

Nós estávamos resolvendo os últimos detalhes para nos casar (não oficialmente, já que não há essa permissão na Coreia do Sul), depois de quase seis anos de namoro, mas antes que pudéssemos concretizar nossos planos, Jimin morreu num acidente de carro. E eu morri um pouco naquele dia também.

Jimin e eu ficamos juntos por quase seis anos, conquistamos muito e perdemos outros tantos, brincamos e brigamos, planejamos e executamos, sorrimos e choramos... Juntos. Sempre juntos. Jimin era meu porto seguro, tê-lo por perto acalmava meu coração e seu sorriso fazia com que eu me sentisse nas nuvens, preenchido de amor e felicidade.

Tudo, absolutamente tudo, em Park Jimin me fazia feliz. E sua ausência parte meu coração todos os dias.

Há dias em que tudo é muito difícil, que levantar da cama é um desafio e viver parece a pior opção. Há dias em que eu espero pela chegada de Jimin, como se ele fosse retornar, me dar um beijo no rosto, dizer que sentiu saudade e que tudo aquilo, todo aquele assunto de morte, tinha sido um terrível pesadelo, que ele nunca iria embora, que nunca mais ficaria longe por tanto tempo, que me abraçaria e deitaria ao meu lado no sofá para assistir televisão e conversar sobre nossos dias todos os dias. Há dias em que consigo viver quase normalmente, mas há dias em que tudo — absolutamente tudo! — me faz lembrar de Jimin e chorar escondido no banheiro da confeitaria por horas.

Acordar diariamente em uma cama grande e vazia, ao lado do travesseiro que já não tem mais o cheiro do shampoo de Jimin misturado ao cheirinho de amaciante, é doloroso de um jeito que eu nem imaginava ser possível. Viver com a certeza de que Park Jimin não chegará na confeitaria a qualquer minuto para um Flat White e um Red Velvet, parte meu coração.

Passei os três primeiros meses depois da morte de Jimin, morando com meus amigos. Morei um tempo com meu irmão e meu cunhado, depois com Yoongi por algumas semanas, em seguida fiquei com Whee-in e, por último, passei mais de um mês com Hoseok, com quem fiquei mais tempo, pois nada nesse mundo o convencia de que eu precisava voltar para a realidade de morar sozinho e seguir em frente. Ele sempre adiou esse retorno por mais um dia, depois mais outro dia...

Até hoje, sete meses depois de eu ter saído de seu apartamento, Hobi me pergunta se não quero mesmo voltar a morar com ele.

Foram dias bons, mas eu realmente precisava voltar para a realidade, a vida tinha que continuar, e quando retornei para meu próprio apartamento, a vida real me atingiu em cheio sem nenhuma piedade.

Ver nossas coisas, tudo que tinha sido escolhido por Jimin, todos os detalhes que faziam aquele apartamento ter a cara de um lar me fizeram deitar no chão e chorar alto, de um jeito que provavelmente me deixou com a cara mais feia do mundo, e parecia que quanto mais eu chorava, mais lágrimas eu tinha pra chorar, mais dor eu sentia, mais a tristeza me engolia.

A Luz dos Teus Olhos {VMIN} | reescrevendoWhere stories live. Discover now