13 ㅡ Pequena coragem.

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ㅡ Soraya?

ㅡ Hum?

ㅡ Sobre ontem eu...

ㅡ Não precisamos falar sobre isso Sisa.

ㅡ Acho que precisamos.

ㅡ Não. - Ela me olha. - Não é como se fosse uma obrigação termos que conversar e analisar tudo.

ㅡ Mas e se... E se eu quiser falar?

ㅡ Bem, - Ela termina seu suco. - aí já é diferente. - Sorrio. - O que você quer falar sobre ontem?

ㅡ Eu nunca tinha...

ㅡ Ai meu Deus você nunca tinha feito? - Ela me interrompeu brincando.

ㅡ Idiota. - Ela contém o riso.

ㅡ Continua.

ㅡ Eu nunca tinha me sentido como ontem.

ㅡ Não? - O sorriso não sai de seus lábios, como também não saem dos meus.

ㅡ Não. - Sinto-me como uma adolescente flertando.

Soraya não gostava de ficar analisando as coisas, eu já havia entendido, mas eu sempre preciso disso. Não entender as coisas me coloca em um ambiente muito mais vasto do que quando entendendo algo. Entender é sempre limitado, pois então você sabe e pronto. Mas não entender é ilimitado, sem fronteiras e você fica sem saber o que vem, pra onde e até onde vai.

No fundo eu tinha inveja de Soraya por não ter essa necessidade de entender tudo como eu tenho. Não querer ou não precisar entender é um dom. É uma benção estranha, mas ainda sim é um benção, pois te torna livre de certa forma. Eu não tenho isso, tenho uma inquietação: quero entender tudo e se não entendo fico perdida, por isso tenho essa necessidade de analisar tudo que me rodeia.

[***]

Soraya e eu passamos a tarde deitadas no mesmo sofá da noite passada, vendo as nuvens passarem pelo teto de vidro e tentando adivinhar com o que elas se pareciam. Fazia muito tempo que eu não ficava junto de alguém assim, só por ficar. No começo foi estranho estar ali tão grudada a ela, já estava acostumada a ter apenas experiências casuais com zero de contato emocional, porém não demorou para que eu me acostumasse a estar em seus braços, sentindo seu cheiro e recebendo carinho.

Tem um citação de Vinicius de Morais que gosto muito, ela diz assim: "Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura... Essa intimidade perfeita com o silêncio... Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado de pequenos absurdos, essa capacidade de rir à toa. Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza de quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser. Resta essa faculdade incoercivel de sonhar, de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceita-la tal como é, (...) e esse medo infantil de ter pequenas coragens."

Nos vejo, aqui e agora, assim. Temos essa ternura, nos sentindo íntimas apenas com o silêncio e rindo à toa como crianças, de qualquer coisa. Eu provavelmente tinha milhares de coisas para fazer em casa e ainda sim estava ali, vagando com ela e sendo tudo que ainda vamos vir-a-ser. Mudando a realidade sem ligar para como de fato ela é, mas mantendo dentro de mim o medo de ter coragem para ir em frente com ela com pequenas coisas.

Tivemos nossa pequena coragem de nos entregar uma a outra, durante todos os dias desde que passei a querer saber mais dela, havia sempre um espaço a qual Soraya podia tomar sempre que quisesse, assim como ela me fazia perceber que eu também tinha o meu nela. E ontem, concretizamos tudo isso, fomos uma da outra sem qualquer medo ou barreira, sem nos importar, fomos o que quisemos ser, o que somos, e eu quis ser dela.

Your flowers - simone e soraya Where stories live. Discover now