O segundo capítulo

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2.675 palavras

Desde a infância, Nádia tinha sonhos que ficavam na sua memória, sobre os tais lobos das lendas, sobre ser uma indígena a até mesmo sobre conviver esses povos antigos.

Em alguns deles, podia se ver realizando atividades envolvendo o sacrifício de animais, ou até mesmo de pequenas crianças, desde bebês, serzinhos indígenas. Acordava assustada, sem dúvida, suando e às vezes aos gritos. Seu pai smepre a aconselhara a parar de ler sobre os intensos ditos populares do imaginário griseldense, principalmente o já referido livro "As histórias e lendas dos povos originários de Griselda", escrito por uma estudante fervorosa, que hoje em dia era uma religiosa fervorosa; Abigail afirmava, com base em seus próprios estudos que a linhagem de Nádia era amaldiçoada com o dom maligno de se transfigurar. Tinha jurado sua vida a Jesus, aceitado-o como Senhor e Salvador de sua vida, após jurar pelo nome dEle, que tinha avistado a Besta na Floresta da Aldeia.

A sorte era que o livro circulava apenas ali no mundinho de Griselda, tinha sido escrito para aquelas pessoas saberem a mais tenra e antiga verdade que, segundo Abigail, tinha sido mostrada a ela por Deus, o próprio Deus, Criador do céu e da Terra, havia feito a ela revelações acerca da cidade.

Nádia o lera e relera mais de uma dezena de vezes, absorvera e sabia tudo o que aqueles relatos diziam sobre a sua família, mas não era nada que a abalasse, embora a descrição de Abigail fosse extremamente minuciosa, para não dizer maldosa; ela alegava ter estado de frente com uma fera quadrúpede, de pelagem negra e espessa, respiração pesada e curta e quente, que exalava um cheiro nauseabundo, forte, que tinha lhe impregnado as narinas por meses... e o foco maior dessas descrições, eram os olhos do animal;

"Os olhos eram humanos, pupilas, írises, globos oculares, era como olhar no espelho ou a um semelhante, uma alma criada por Deus sofrendo em maldição! Se as lendas são verdadeiras ou não, eu não sei... mas o olhar doce do Velho João foi o que reconheci!"

Após a publicação, com base em todos os dados históricos disponíveis, Nádia e seu pai, que já não eram vistos com frequencia fora de casa, ou nos eventos anuais ou em pontos de encontro comuns da cidade, ficaram ainda mais recluosos.

Não esquecia de como a sua adolescência tinha sido difícil depois daquele livro, como se os relatos de Abigail não tivessem outras coisas como o fato de Dônel, do Bar do Dônel, ter uma deformidade no rosto, se devia ao fato de que ele era o patriarca da família, que se recusava a morrer e tinha encontrado uma flor vermelha que diziam que a lendária mulher que se assentou com os indígenas, usava para se manter jovem. E desde então, Dônel achava uma maneira de trocar de rosto e permanecer em Griselda, servindo bebida para aquela gente.

Podia-se encontrar fotografias de gravuras em tecidos, desenhos em árvores, pinturas em cavernas que hoje beiravam a rodovia de acesso à área urbana e todas essas imagens falavam mais que mil palavras, por assim dizer, salvo o clichê. Falavam por si só, uma vez que as palavras frenéticas de Abigail não representavam a natureza das imagens;

Muitas eram do povo indígena em formação circular, ao redor de uma pessoa que parecia ser uma espécie de cacique para eles. A pessoa ficava em frente a caldeirões, cortava animais pegos em caças... Haviam tentativas naquelas gravuras, de representar chama, ou chuva, ou sangue...

Não havia restado um indígena remanescente do povo que vivia na Floresta, daí seu nome: Floresta da Aldeia. As marcas, e restos mortais foram encontrados por ali, mas bem afastados uns dos outros, o que os estudiosos deduziram que tivera sido ações naturais do terreno, influências do clima e etc.

Algumas armas podiam ser encontradas jogadas dentro das cavernas, bem como instrumentos de música, alguns colares, e o mais intrigante destes objetos era um brinco de uma pedra azul-acinzentada, que poderia ser um rubi, se os cientistas de plantão não tivessem descoberto que ela não era um rubi, mas sim, alguma joia desconhecida. O mais curioso era ter sido encontrado apenas um exemplar da pedra, e era praticamente de senso comum, que pertencia à mulher que vivera com os nativos. Ela preenchia todos os pré-requisitos de uma pedra preciosa; era cristalino, belo, puro, bruto, mas com um brilho peculiar que dava a ele um tom diferenciado de azul, e também de conza. Uma confusão bela aos olhos. E a refração da luz era a adequada, mas os pesquisadores não entraram em acordo sobre o que era aquela pedra.

O devoradorWhere stories live. Discover now