Send Me An Angel

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Solidão.

Ela nunca me caiu como uma luva, eu penso.

Sei que o céu desaba todos os dias. O Sol cai dentro do oceano e respinga marrons e vermelhos e amarelos e laranja no mundo exterior a minha janela. Um milhão de folhas de uma centena de diferentes ramos mergulham no vento, flutuando com a falsa promessa de voo. A rajada de vento atinge suas asas secas apenas para forcá-las para baixo, esquecidas, deixadas aos escombros no chão.


Pressiono a palma da mão contra a vidraça e sinto o frio cingi-la em um abraço familiar. Estamos ambas sozinhas, ambas existindo como a ausência de qualquer outra coisa.

Sento-me nas molas cobertas com o colchão ao qual sou forçada a dormir. Espero. Balanço-me de um lado para o outro e espero.

Espero muito tempo e caio no sono.


Comecei a tremer. Permaneço o resto da noite acordada. Meus joelhos enroscados no queixo, meus braços apertados em volta de meu pequeno corpo.

Não vou dormir.

Não posso dormir.

Não sei nada de nada a não ser dos gritos.

Não posso ouvir aqueles gritos novamente.

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Hoje está nevando.


O concreto está gelado e mais rígido que o normal, mas eu prefiro estas temperaturas congelantes à umidade sufocante dos dias de verão. O verão é como um fogão lento capaz de ferver todas as coisas do mundo um grau de cada vez. Ele é a promessa de um milhão de adjetivos felizes apenas para fazer emanar o cheiro de comida para seu nariz durante o jantar. Odeio o calor e o suor pegajoso nas costas. Odeio o fastio indiferente de um Sol preocupado demais consigo mesmo para se dar conta das infinitas horas que passamos em sua presença. O Sol é uma coisa arrogante, sempre vendo o mundo pelas costas quando se cansa de nós.


A Lua é uma companheira correta.


Ela nunca se vai. Está sempre lá, observando, constante, reconhecendo-nos em nossos momentos de luz e escuridão, em constante transformação, assim como nós. Todos os dias uma versão diferente dela mesma. Às vezes fraca e lívida, noutras forte e cheia de luz. A Lua compreende o significado de ser humano.

Inconstante. Solitária. Esburacada de imperfeições. Estendo a mão para pegar um floco de neve e minha mão se fecha no ar gelado. Vazia.

Quero que esta mão ligada a meu punho atravesse direto a janela.

Apenas para sentir algo.

Apenas para sentir-me humana novamente.

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Pela manhã sinto cheiro de ovos e algo mais que defino como bacon, isso faz com que meu estômago dê sinal de vida, deve ser Greasy Sae preparando algo para mim. Não sei como as pessoas conseguem ficar perto de mim, como conseguem me olhar, por que eu não imagino razão que possa fazê-los conseguir. Porém esqueço que sou um monstro por alguns minutos e desço.

- Bom dia, Katniss! - diz Greasy Sae sorrindo ao me ver.

- Bom dia! Eu já disse que não precisa vir aqui todos os dias, nem precisa vir, não é como se eu fosse viver por muito anos para meu corpo precisar de tantos nutrientes.

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⏰ Last updated: Nov 16, 2018 ⏰

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This Is What It Feels Like/ Wicked Games (The Hunger Games)Where stories live. Discover now