22: Mais Estranha que o Normal

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Sentei num pulo assim que acordei, olhando ao redor, ainda com a visão fresca em meus olhos. Eu piscava e via a silhueta da cena da luta e o corpo da Fada no chão.

Em seguida, apalpei minha barriga, sentindo debaixo do tecido da roupa limpa cheirando a amaciante, gaze onde os ferimentos deviam estar. Mas não doía.

E então, percebi Rashne, ajoelhado ao lado da cama, as mãos apoiadas no colchão, os olhos firmemente fechados e murmurando algum feitiço incansavelmente. Não me dei ao trabalho de tentar traduzir.

− Rashne? – sussurrei, tocando um de seus ombros. Ele abriu os olhos imediatamente, e assim que me viu, soltou uma exclamação que presumi que era de felicidade, sentou na cama num pulo e me abraçou com força, apenas tomando cuidado com as minhas asas.

Uau. Sinceramente, não esperava essa reação.

− O que aconteceu? – Perguntei quando Rashne se afastou um pouco, me olhando de um jeito que me parecia quase fascinado. Sorria suavemente, mas o sorriso morreu quando ouviu minha pergunta.

Respirou fundo antes de responder.

− Você morreu, Stacy. Por duas horas, talvez mais. Quase não consegui chamar sua alma de volta para o corpo há tempo. Só Deus sabe o que você viu na dimensão dos Mortos enquanto esteve lá... – e então, ele me abraçou de novo.

Deixei que ele me abraçasse, um tanto surpresa, e só consegui ficar preocupada quando os papéis se inverteram. Ao invés de ser eu com o rosto escondido em seu pescoço, chorando e sendo consolada, era ele quem chorava. E de modo quase desesperado misturado com alívio, devo destacar.

− Shhh... Calma... – eu tentava fazer Rashne parar de chorar, mas parecia impossível – cadê meu instinto de Fada nessas horas? Até que o segurei pelos ombros e o afastei. Ver a face dele toda molhada, com o Kohl típico dos seus um tanto borrado – o que era meio estranho – me assustou um pouco... – Rashne... Tudo bem?

Ele sorriu levemente antes de responder.

− Melhor agora. – ele acariciou minha bochecha, me deixando muito vermelha e sem jeito. Caramba, porque homens me afetam tanto?! Ou melhor: por que ELE me afeta tanto? – Pensei que sua alma já tivesse encontrado um caminho que seguir...

E então, pra me deixar mais sem jeito do que nunca – não sei se isso era possível, mas vai saber – Rashne prendeu meu rosto entre suas mãos e me beijou. Devo ter ficado tão vermelha quanto Eshe quando faço insinuações sobre a Lobisomem chamada Phelan, sentindo o gosto salgado de lágrimas se intensificar. Rashne voltara a chorar.

Ele se afastou e então me abraçou com força, como se quisesse ter certeza de que eu não sumiria de repente. Percebi também ele aspirar com força, como que querendo guardar o meu cheiro ou ter certeza de que sempre estaria com ele. Alguma coisa desse tipo.

− Achei que tinha te perdido pra sempre... Que... – ele se afastou e ficou me olhando, mudo, como se as palavras tivessem entalado na garganta. Então foi a vez dele ficar vermelho, enquanto se levantava correndo. − ... E... Fico feliz que tenha ouvido meu chamado. Vou falar pros outros que eles podem vir ver você... Estão bem preocupados. – ele saiu, me deixando no vácuo, limpando o rosto com a manga da blusa preta.

Será que eu tô tão feia assim depois de ressuscitar e ele se assustou? É a única explicação razoável que encontro pra ele ter ficado desse jeito... Ok, mesmo assim, ele ter me beijado foi estranho...

O estranho mesmo é que, apesar do beijo ter um quê de desespero e tristeza por causa das lágrimas, foi muito melhor do que os beijos que eu e Sammuel trocamos. Como se... Ah, sei lá.

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora