12: Eletric Eyes

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O mês que passei em Vitória passou voando.

Sério.

Não sei se foi porque passei o mês inteirinho treinando e socando informações sobre meu mundo na minha cabeça ou o que quer que seja. Foi difícil. Ainda é.

Tipo... Acho que não guardei direito metade do que li e ouvi... Tipo assim, minha memória nunca foi muito com a cara de uma coisa chamada “História”.

Ok, ok... Eu explico. A história do meu mundo é muito complicada... Muitos fatos importantes – que meu cérebro faz questão de esquecer... Tipo assim... O que levou a queda da maioria dos líderes de cada raça – Quer dizer, só Aine e mais uns poucos ainda existem. Além de aprender pelo menos o básico sobre a cultura de cada raça – pra garantir que não vamos começar uma guerra entre raças por causa de um mal entendido por não ter conhecimento sobre seus costumes, algo assim... E sobre as cidades antigas que eram habitadas por aqueles do meu mundo, das quais hoje só restam lembranças e gravuras. Tipo Atlântida, Lemúria, Asgard, Olimpo... Lugares assim, destruídos nesse monte de guerras entre raças que existiam até uns milênios atrás – mais especificamente, até a Aranha Lunar Azul dar um jeito nisso tudo se mostrando a bã-bã-bã. Parece que ela era muito poderosa...

Ah sim, claro: e aprender uma língua que tem absolutamente nada à ver com o português – e eu sempre fui ruim em línguas estrangeiras...

Enfim, já da pra ter uma idéia de como minha vida ficou complicada.

Mas, claro, o mais difícil é controlar meus poderes... Parece que o pingente de treino não é forte o bastante pra mim – ou algo desse tipo... Num feitiço simples de cura pra um arranhão num cachorro de rua, quase explodi o pingente de treino e curei a sarna do bicho. Eu levei um susto da peste quando o bicho flutuou, latiu e saiu correndo feito o diabo fugindo da cruz! Acho que assustei ele...

Quando deixou a mim e a Devon no aeroporto, vovó me abraçou e sussurrou que tinha guardado alguns livros na minha mala que me ajudariam a dominar meus poderes – valeu, vovó! Agradeci, e então, eu e Devon fomos para a sala de embarque, aguardar.

São Paulo me pareceu tão... Estranha. Quer dizer... A maior parte das criaturas que vi não eram elementais nem ninfas, diferente de Vitória, onde eles são a maior parte da população não-humana. Mas, afinal... Do jeito que São Paulo é floresta de pedra, não estranho... Acho que é porque eu tinha me acostumado com todos aqueles elementais e ninfas andando por aí...

Mamãe estava estranha. Parecia... Fraca. Como se não se alimentasse há um bom tempo – o que é de se estranhar, já que ela sempre foi boa de garfo. E eu a via com outros olhos... Como se... Como se algo estivesse ocultando-a todo esse tempo. E eu tive medo. Ela parecia mais perigosa do que nunca. Me olhava de um jeito quase esfomeado. Mas, apesar disso, eu ainda confiava nela. Ainda a amava, afinal, ela era minha mãe, antes de tudo.

Acenei rapidamente para mamãe depois de abraçar papai, indo para o meu quarto, com Despertador atrás de mim. Eu não queria ficar mais tempo na mesma sala que mamãe... Sim, eu estava me borrando de medo. Não tanto como quando assisti Chuck com Devon – não assista filmes de terror com o Devon, ele gosta de fazer você ficar com mais medo ainda – mas, ainda assim, muito medo...

Mudei até que muito em um mês. Quer dizer... Minhas orelhas estão um tanto pontudas, não como as de Sammuel ou Eshe, mas não como antes. Eu via que as orelhas de Devon e de vovó também eram daquele jeito. O tom de minha pele estava mais uniforme e parecia que meu corpo estava deixando de ser tábua. Só um pouquinho. Mas muito para quem sempre foi tábua. A única coisa que continuava como fora minha vida inteira era o meu cabelo – ele é rebelde mesmo e gosta de mostrar todo o seu poder. Não tem jeito. É hora de eu me conformar...

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora