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Em passos lentos e cuidadosos um menino esguio desceu a escada do porão segurando uma lamparina velha, a luz amarelada tremulava ameaçando apagar a qualquer momento. O menino usou uma mão para proteger a pequena fonte de luz e continuou descendo se arrepiando com o rangido da madeira velha sob seus pés; chegando no porão ele apertou os olhos e foi até um homem velho usando um jaleco gasto e manchado.

— Trouxe o que pedi, rato?— o velho perguntou em uma voz rouca, seu sotaque forte tornando as palavras ásperas e não se deu o trabalho de olhar para o menino, estendendo uma mão ossuda e enrugada.

O menino se atrapalhou ao soltar o nó do saco que carregava na cintura e tremeu quando o velho soltou um bufo impaciente, sem perder mais tempo ele entregou o saco ao velho e tentou não olhar para a mancha vermelha escura encharcando o tecido do saco.

Curioso, o menino tirou o cabelo gorduroso do rosto e foi para o lado tentando espiar o que acontecia na bancada. De relance ele viu a tela do monitor piscar e nele uma imagem de um lugar escuro e silencioso, em uma da várias divagações do velho ele descobriu que isso se chamava "espaço" e silenciosamente a guardou em sua mente, assim como muitas outras que ele escutava de relance, recitando-as quando estava sozinho.

Ele se afastou assustado quando um guincho agudo veio da mesa, o velho apertava a criatura em suas mãos enluvadas e a analisava com um olhar atento enquanto anotava algo em sua prancheta. O menino engoliu a culpa ao ver o rato ferido e piscou forte sentindo os olhos irritados, ele odiava quando o velho o mandava para caçar as cobaias, a área em que estavam era muito remota, nenhuma civilização a quilômetros de distância. Ele sempre saia durante o dia, um saco esfarrapado preso na cintura e, se desse sorte, um pedaço de madeira para usar como arma. Suas caçadas sempre eram aterrorizantes, os animais que viviam nas redondezas não eram normais com seus olhos mórbidos e sinistros.

Uma vez o velho lhe contou que eram seus experimentos.

Com um baque surdo ele saiu de seus devaneios e se jogou no chão em direção ao pacote que o velho jogou aos pés do garoto.

Seu pagamento. Uns pedaços de pão seco e uma garrafa de água.

Com passos rápidos ele subiu as escadas, ele não arriscaria irritar o velho ao fazer barulho enquanto comia e sofrer uma punição. Fora do porão ele respirou um pouco aliviado, ele foi até um cômodo que tinha um sofá velho e gasto e sentou ansioso pelo alimento. Em uma velocidade surpreendente os pedaços de pão desapareceram assim como a água, ele não se importou com a secura do pão sendo isso a única coisa que ele tinha para comer em muito tempo.

O menino esfregou as migalhas de pão da roupa surrada e esfregou a barriga levemente estufada, o velho demoraria a chamá-lo de novo, muito entretido com um de seus experimentos. Ao mesmo tempo em que estava agradecido, pois assim não teria que sair para as florestas desoladas novamente, ele sabia que demoraria para comer de novo.

Ele olhou miseravelmente para o pacote vazio e se arrependeu por comer tudo desenfreadamente, mas a dor da fome estava o consumindo a dias e quando se deu conta só restou as migalhas presas na roupa.

Com um olhar vazio ele olhou para a paisagem através das grandes janelas no cômodo e se perdeu em pensamentos se isolando de todo o infortúnio que o perseguia desde que perdeu seus pais em um acidente.

Um sorriso triste surgiu em seu rosto magro, a vaga lembrança de sua mãe pintada em seus olhos; a mulher bonita o segurava ternamente enquanto folheava uma revista de viagens e ria calorosamente ao desviar as páginas das mãos infantis e rosadas. Ele se lembrava de ficar fascinado com a foto de uma imensidão laranja brilhante, suas memórias muito distantes e enevoadas para se lembrar corretamente o que era, mas ele se lembrou da voz doce cantarolando uma melodia suave enquanto ele se aconchegava no abraço quente.

No fim tudo se tornou uma memória distante e dolorosa.

Enquanto o menino caiu em um sono inquieto encolhido no sofá solitário, o porão brilhava fortemente com uma luz verde. O velho testemunhou com orgulho as rápidas mudanças no corpo minúsculo do roedor que se contorcia freneticamente na mesa destinada aos seus experimentos.

Os olhos pequenos estavam esbugalhados e ele guinchava em agonia, o velho abriu um sorriso macabro quando a criatura caiu inerte com um último suspiro, ele anotou tudo em uma prancheta velha e colocou o animal em uma gaiola; quando ele levantou o pano vários guinchos ecoaram pelo recinto e seu sorriso se alargou mais quando viu que os ratos estavam lutando pelos restos do vira lata que ele colocou ali horas atrás, quase que carinhosamente sua mão enluvada afagou os barras da gaiola.

— Finalmente, finalmente meu projeto está mostrando resultados positivos.— eufórico ele andou pelo laboratório cantarolando uma música desconhecida.

Quantos governos negaram suas brilhantes invenções? Perseguido por anos, a sua alternativa foi viver como um criminoso e se esconder nessa casa velha e destruída. O mundo testemunharia o poder de sua mente brilhante e sem limites, iriam presenciar o poder humano em seu ápice da evolução graças aos seus esforços incontáveis.

Assim, o início da noite foi preenchido por uma gargalhada maníaca e descontrolada

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Capítulo mais introdutório e bem rapidinho.

Não se esqueçam de votar e até o próximo capítulo!

Entre lobos e zumbis- larry [A.B.O]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora