3: Porque Nunca mais Devo Pentelhar com o Sammuel Durante a Aula

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Um sorriso maroto se formou em meus lábios enquanto eu me aproximava devagar, tencionando assustá-lo. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro...

− Boa tarde, Stacy. – ouvi ele falar enquanto marcava a página com uma fita de cetim azul ligada ao livro, fechava-o e guardava no fichário, sem me dar chance de descobrir qual livro era.

− Boa tarde, estraga prazeres. – falei, aproximando-me normalmente. Como é que o filho da mão sabia que eu tava chegando? Enfim... Sammuel virou o rosto para mim, olhando-me de cima à baixo, em seguida erguendo as sobrancelhas. – Que foi que você tá me olhando com essa cara? – perguntei desconfiada, arrumando a alça da mochila no meu ombro.

Ele apenas sorriu de um jeito estranho, quase doloroso. Só então reparei nas olheiras embaixo dos olhos cinza tempestade. Ele parecia cansado.

− Você parece diferente, apenas isso. – ele respondeu, sinalizando para que a gente entrasse no colégio, antes que fechassem o portão. Estranhei o que ele disse. Me olhei no espelho hoje de manhã e, além do cabelo mais rebelde que de costume, estou como todos os dias... Ou seja: aberração.

− Diferente? Onde? – ergui a sobrancelha, parando na porta da sala. Àquela hora haviam poucos alunos na sala, mas todos me olharam com espanto. Primeiramente, por não ter chegado atrasada. Segundo, talvez realmente houvesse algo de diferente em mim, como Sammuel dissera.

Ele apenas ergueu os ombros, não respondendo e entrando na sala. Fiz uma careta, entrando logo atrás, sentando nos fundos. Sammuel sentou na minha frente.

Ah, mas eu faria ele me dizer! Esse cara não sabe do meu dom de pentelhar os outros!

Ao longo do dia, conversamos muito, buscando nos conhecer melhor. Eu descobri que, ao contrário de mim, ele odeia Biologia e não vai muito bem nessa matéria, por isso precisa prestar atenção na aula.

Planinhos maléficos estão rodando em minha cabeça...

Durante a sexta aula, de Biologia, eu fiquei pentelhando com Sammuel. Cutucando e beliscando suas costas, o pescoço, as orelhas... Ele bem que tentava se desviar, mas falhava. Eu tinha o dom de pentelhar – Devon tem o dom das pegadinhas, eu tenho o dom de pentelhar!

− Caramba, Stacy! Pára! – ele murmurou, tentando dar um tapa na minha mão, mas eu era rápida o bastante para me desviar. Sorri marota.

− Só quando você falar o que está diferente em mim! – murmurei em resposta, beliscando uma de suas orelhas. Ele inclinou o rosto naquela direção, e então fiz cócegas do outro lado. Dessa vez ele conseguiu segurar meus dedos. Eu tentei puxá-los, mas não consegui. Ele é mais forte do que imaginei! – Solta meus dedos! – murmurei irritada, me inclinando na mesa para que conseguisse fazê-lo no seu ouvido. Senti ele se arrepiar. Kukukuku – vixe, baixou o Ryuuku de Death Note agora... Sim, eu li Death Note.

− Só se prometer parar. – ouvi ele sussurrar com tom triunfante. Eu não via seu rosto, mas tinha certeza que ele estava com um sorriso insuportavelmente lindo.

Resmunguei um impropério, falando que ia parar. Ele deixou um risinho escapar e soltou minha mão. Aproveitei para beliscar rapidamente sua orelha antes de trazer minha mão para trás rapidamente. Ri sacana quando ele olhou para trás de forma assassina. E então, ele movimentou a boca como se falasse “Você vai ver”. Opa. Retaliação depois da aula? Tô fora!

Depois da aula, para fugir da retaliação, simplesmente sai correndo, atropelando todo mundo – atraindo ainda mais olhares de inimizade, mas não liguei.

Helo, eu tenho instinto de preservação, sabe?!

Mas, eu não corri rápido o bastante. Ou alguma coisa me atrasou. Ou sei lá o que. Só sei que, no instante que sai para a rua, Sammuel me segurou pela mochila – que estava tristemente vazia, isso facilitava para que ele conseguisse me segurar – e me puxou para um lado da rua que estava vazio.

− Me largaaaaaaa! – falei, tentando me soltar. Inútil. Sammuel é muito forte. Tipo, é mais forte que meu irmão!

− Não largo! – ele respondeu, rindo, me abraçando – ui! – e mordendo meu pescoço – argh! Isso é tortura, eu vou te denunciar pra polícia! Minha mãe é Sargento, sabia?!

− Páraaaaa! – tentei pisar em seu pé, mas, cara, ele tem o sexto sentido do Homem-aranha! Ele puxou o pé um segundo antes de eu atingi-lo! – Seu torturador de meia-tigela. – murmurei, e, bem, ele segurou minhas mãos, me impedindo de concluir meu intento de dar-lhe um tapa – ou socá-lo, como queiram.

− Como? – ele sussurrou na minha orelha, fazendo eu me arrepiar toda – grrrr, eu te odeio!

− Eu disse: torturador de meia tigela. – eu respondi, entre dentes, lutando para conseguir me soltar. Ah, desisto! Ele aperta meus pulsos cada vez mais... – O que você quer? – perguntei, usando meu melhor olhar de psicopata – eu treino muito na frente do espelho minhas expressões, pra garantir que vai ser “aquela” expressão “naquela hora”.

− Retaliação. – ele respondeu, calmo, usando um sorriso que me fez querer beijá-lo. Mas lembrar que ele estava me mantendo prisioneira fez a vontade passar. Pra que vou querer beijar um cara que fica prendendo meus pulsos quando eu quero estar saltitando por aí?

− Que tipo? – perguntei, fazendo cara de asco quando ele aproximou mais o rosto. E me beijou. Duh. Quem sou eu? Onde estou? Quem é minha mãe? Cara, ele beija bem! Ajunte a isso o fato de que ele é o primeiro garoto que conversa comigo e que a gente se conheceu ontem. E que esse é meu primeiro beijo, obviamente.

Ele se afastou, sorrindo sacana, me soltando.

− Pronto. – havia malícia em sua voz, enquanto ele se virava e ia embora.

E eu fiquei lá, com cara de besta, paralisada, por não sei quanto tempo. Tipo assim... Quem precisa ir pra casa quando se está lembrando de um beijo maravilhoso com um cara maravilindo?

Passara-se não sei quanto tempo, até que senti uma mão em meu ombro, e me assustei ao ver Devon.

− Não me assuste assim! – berrei, recuando uns cinco passos. E então, com a ficha caindo, comecei a bater o pé e a grunhir. – Filho da mãe, chato, idiota...

Devon me olhou com aquela cara de “Ela tomou o remédio hoje?”.

− O que aconteceu, Stacy? – ele perguntou, quando me acalmei, se aproximando devagar.

− Nada. Só estou querendo matar o Sammuel. – respondi, azeda. Não esperei ele falar nada, me virando e indo embora. O Sammuel me paga! Caramba, tinha de fazer isso comigo?! Eu só queria que ele falasse o que tinha de diferente em mim! Não precisa me deixar desnorteada!

Ah... Quer saber?

Nunca mais fico pentelhando com o Sammuel durante a aula. Definitivamente.

Não estou a fim de ser perder o rumo de casa por tempo indeterminado de novo!

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora