1º Capitulo

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Estou com minhas bambinas em meu quarto, ensinando-as a fazer seus próprios penteados, não os sérios, mas uns que aprendi ainda menina em Nápoles, que realça o rosto. Estamos rindo enquanto Dina imita a Lourdes dizendo o quão inapropriado eram as princesas andando com penteados sem estirpe.

-Amores mio, já venho, vou só pegar umas fitas no quarto de vocês. -enquanto saia, amarrei mais firme o laço do meu vestido, está mais quente que o normal, por isso decidi usar um de seda azul, sem armação, de mangas justas e com decote em v, que amarra o laço de lado, lembra um robe, mas elegante. 

Estou me sentindo leve, bem comigo mesma apesar de saber onde meu marido está e com quem a essa hora! Estou cansada de chorar e de me contentar com as migalhas que Pedro me dá, estou cansada de ser tratada apenas como um acordo, sou muito mais que isso! Sou a Imperatriz do Brasil, e não permitirei ninguém mais me tratar menos que isso! 

Ao caminhar pelo corredor silencioso, sentir que não estou sozinha, ao virar de costas vi uma sombra subindo as escadas, seguido de vozes sussurradas. Não faço ideia de quem é, mas papà sempre dizia que se estavam sussurrando debaixo do nosso próprio teto e não estávamos no meio dos sussurros...se escondesse! E foi isso que fiz ao voltar depressa para meu quarto, fechando a porta tentando fazer o mínimo de barulho possível. 

-Lê figlie vengono qui (filhas venham aqui) -sussurrei indo em direção a parede embutida ao lado da cortina, tateei depressa até achar o feixe minúsculo que abriu. -Quero que entrem e fiquem aqui dentro! Não quero que digam nada! Niente! (nada). Só saiam se eu mandar, entenderam? -continuei sussurrando enquanto as coloco naquele espaço apertado, mas que caberia às duas. 

-Mamma...o que está acontecendo? -Dina me perguntou alarmada.

Depressa cobrir sua boca com minha mão.

-Silenzio! -estava ouvindo passos se aproximando no corredor, não tinha tempo. -Caladas as duas! Preciso que sejam corajosas, preciso que sejam as princesas que vocês nasceram para ser, entenderam?! -falei olhando de uma pra outra e me demorando em Isabel, vi ela concordando com a cabeça e pegando na mão da irmã. -Si accomodi! (entrem), só saiam se eu mandar! 

-Mamma...- Isabel começou, mas interrompi já fechando a porta.

-Ti voglio bene! (Eu amo vocês). -sussurrei na hora que fechei a porta e a minha foi arrombada com um solavanco. 

Parei no local, tentando controlar a respiração e os batimentos que tenho certeza que pode ser ouvido do outro lado da cidade. Ergui o queixo e encarei os invasores, não reconheci as fardas, mas definitivamente não são soldados brasileiros. Abrindo caminho entrou um homem, muito bem vestido, de barba rala, cabelos meio grisalhos, com ar soberbo e muito...muito confiante e satisfeito com o que via.

-Come osano invadere la stanza dell'imperatrice del Brasile? (Como se atrevem a invadir o quarto da Imperatriz do Brasil?) -falei com ódio encarando ele, que pela postura e como sorri deve está no comando.

Preciso tirar eles daqui...preciso mantê-los longe das minhas bambinas! E onde estão os guardas per Dio? (por Deus).

-Scusa imperatrice, non volevo offenderti! (desculpa Imperatriz, não quis lhe ofender) -ele falou sorrindo e fazendo uma leve mesura em deboche.

Não é um ignorante, entende e fala fluentemente italiano. Ele é importante e...perigoso, todos os meus ossos gritam isso.

-Quem é o senhor? -perguntei vendo-o me encarando de cima a baixo, sorrindo de lado.

-Perdoe-me não me apresentei! -falou fazendo uma mesura. -Solano López ao seu inteiro dispor Imperatriz! Acho que não preciso dizer quem sou! -falou soberbo. 

Prendi o ar. Não pode ser, como ele passou das fronteiras se Pedro reforçou todas?! Como ele entrou em minha casa sem os guardas verem, sem ninguém ter visto nada?! É uma afronta, é uma...declaração de guerra!

-Esci, ora! (saia, agora!) -falei sem sair do lugar, sem mover um músculo, apenas o encarando. -O Imperador já está a caminho e você não vai querer estar aqui quando... -ele me interrompeu gargalhando. 

Senti um frio na barriga quando ele foi se aproximando a passos lentos.

-l'imperatore non verrà così presto, il vizio lo sa! ( o Imperador não virá tão cedo, você sabe disso). 

Quis rir, ele sabe que Pedro está com Barral! Mas, não deixarei me abalar com isso, não tenho tempo, não quando minhas filhas ainda estão aqui correndo risco.

-Pra você é Imperatriz ou Majestade! Não lhe permitir me tratar por você! -sussurrei dando um passo em sua direção. 

-Uaaaau! Estou impressionado com a vossa coragem Majestade! -falou dando outro passo em minha direção. -Não nega o sangue que corre em suas veias. -deu mais um passo, agora um passo nos separa e eu luto para não desviar o olhar, apesar de cada célula do meu corpo pedir pra me correr para longe dele. -Fico me perguntando se a senhora é tão impetuosa para...anche altre cose (outras coisas tambem). -sorriu de lado passando a mão pelo meu braço.

-Não me toque! -falei tirando sua mão de mim com raiva sentindo meus olhos queimarem de ódio e repulsa por ele. 

-Ah, não se preocupe...vou fazer muito mais do que apenas lhe tocar se seu marido não aceitar minhas condições. -falou sorrindo de forma perversa enquanto ia até minha cama.

Ele pegou meu travesseiro o cheirou enquanto me olha...sentir meu estômago dando voltas diante da cena. Olhou ao redor até que viu meu xale branco na cama, pegou uma adaga e com um golpe fixou a carta junto com o xale no travesseiro. Fechei os olhos sentindo meu coração afundar. É definitivamente uma declaração de guerra!

-Queira me acompanhar, per favore Majestade! -falou indicando o caminho com a mão. -Mas, se preferir, posso lhe levar no colo com todo...piacere. -sussurrou em meu ouvido. 

Não sei como, mas consegui dar um passo adiante, e depois outro, e outro, minhas pernas estão pesadas. Não me permiti olhar para trás, não posso demonstrar o menor vacilo, não posso colocar minhas filhas em perigo. Com ele atrás de mim, fui caminhando de cabeça erguida, não lhe darei o prazer de me ver implorar, chorar ou espernear, não, ele não terá esse gosto! 

Enquanto desço vi que o palácio está em completo breu e silencioso. Ao sair para fora vi os guardas amarrados e desacordados...fechei os olhos, ele planejou tudo! Abrindo a porta de uma luxuosa carruagem, ele me deu a mão para subir, o olhei arqueando a sobrancelha e subir sem sua ajuda. Ele riu e entrou em seguida, sentado diante de mim.

-Vamos nos divertir bastante Imperatrice! -falou me olhando nos olhos e com um sorriso que não deixavam dúvidas que ele irá até o fim com o que está planejando.

Rapimento - PedresaWhere stories live. Discover now