Talvez eu tenha sido um pouco rude com ela, porém quem distribui flores para estranhos em um parque? Não se encaixaria na teoria de dar doces para crianças ou coisa do tipo? Talvez seja louca. Bem, acho que louca seria eu por perder uma tarde de trabalho pensando numa mulher qualquer e em um girassol qualquer.

Saio dos meus pensamentos quando ouço a campainha tocar, arrasto-me até a porta e encontro meu melhor amigo, com um sorriso de orelha a orelha, do outro lado da mesma. Provavelmente a viagem foi boa.

ㅡ Ai Sisi, eu tenho tanta coisa pra te contar. - Falou entrando em meu apartamento e já se atirando no sofá, para dar amor à sua cachorra -. ㅡ Oi filha, papai sentiu tanta falta, tia Sisi foi má com você?

ㅡ Ela destruiu o pé da minha mesa de jantar, espalhou papel higiênico pela casa toda e me fez levantar para ir para um parque em pleno domingo às oito da manhã e eu é que fui má com ela? Menos André. - Sentei-me com ele. - Agora me conte da viagem.

ㅡ Ai. - Suspira deitando a cabeça no apoio do sofá. - Foi um sonho, um sonho. A família dele é maravilhosa e super atenciosa. Ele me levou em seus lugares favoritos de quando era criança e me contou todas as história especiais.

ㅡ Uau, quanto romantismo.

ㅡ Sim, foi como em um desses livros que você lê. - Diz sacudindo a mão, fazendo-me rir.

ㅡ O tipo de coisa que a gente vê nos filmes? - Ele dá uma suspirada de alegria mas eu nem tanto, nunca fui muito fã do namoro dele com esse garoto, mas confesso que é muito bom vê-lo assim.

ㅡ O tipo de coisa que a gente vê nos filmes. - Ele confirma, mas logo se distrai enquanto eu ando até a cozinha para pegar um copo d'agua. ㅡ Você levou a Deusdete no parque hoje?

ㅡ Levei, por quê? Não me diz que ele fez cocô na sala. - Falo da cozinha já me lamentando.

ㅡ Não. - Volto para a sala e ele está segurando o girassol. - Você ganhou uma flor.

ㅡ Como sabe que ganhei no parque? - Tiro a flor de sua mão colocando novamente na água sobre a mesa.

ㅡ Porque é da Soraya. - Franzi o cenho, meu amigo deve ter percebido, pois logo retomou o que iria dizer. ㅡ Soraya sempre entrega flores no parque. Se tem uma coisa certa na vida é isso, faça chuva ou faça Sol, ela sempre estará lá entregando flores.

ㅡ Ah, então é por isso que ela conhece a Deusdete.

ㅡ Ela falou com você? - Ele pergunta parecendo um pouco horrorizado.

ㅡ Brevemente, mas qual o motivo do espanto, sou tão feia assim?

ㅡ Óbvio que não Sisi, é só que ela não fala com estranhos, pelo menos não até confiar neles.

ㅡ Quantos anos ela tem? Doze? - Digo brincando, mas André me encara sério.

ㅡ É complicado. - Ele diz parecendo tenso, logo mudando para qualquer assunto aleatório, o que me deixou intrigada, por qual motivo ele agiria assim? Algo não me pareceu certo.

[***]

Acordei na manha seguinte sentindo a minha cabeça latejar, passei a noite toda pensando e repensando sobre a reação estranha de André quando falamos do girassol e da mulher do parque, nunca havia o visto daquele jeito com meu cérebro relutando, levantei-me da cama, vesti minha roupa de corrida e peguei a minha garrafinha de suco verde para a viagem que estava na geladeira. E não sei o motivo ao certo mas naquele dia em especifico não quis seguir a rotina de corrida, não dei a volta corriqueira no quarteirão, eu fui até o parque. Não foi uma ideia muito bem pensada, mas resolvi ir mesmo assim, não iria morrer por perder alguns minutos da rotina. E a verdade era que uma parte de mim sentia uma necessidade de falar com aquela mulher novamente e meu amigo disse que ela sempre entregava flores então tentei a sorte de que talvez a veria de novo.

Your flowers - simone e soraya Where stories live. Discover now