o dia

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O apartamento de meu pai era um grande insulto ao que a sociedade espera de um homem solteiro que mora sozinho em Santa Monica.

Ele mora no último andar de um prédio estupidamente alto perto do litoral, a entrada de sua casa é enfeitada com plantas verdes, espalhadas calculadamente em uma prateleira de uns 5 metros. O sofá é grande e cinza, fica de costas para a imensa varanda. Não há paredes entre a sala e seu escritório posto ao fundo do cômodo, com papeis e livros espalhados pela mesa de madeira envernizada. Logo ao lado, havia um pequeno corredor que abrigava três grandes portas - minha suíte, a de meu irmão e de meu pai. A minha, se situava na última porta.

Noite passada fora tão agradável que quando cheguei ao apartamento, só me lembro de me deitar e ter um bom sono. Acordei em torno das 10h, meu telefone tocando enlouquecidamente. Me esgueirei na cama de casal até alcançar o dispositivo barulhento.

- Alô? - Atendi, ainda muito confusa por conta do sono

- Tayla, onde você está? - Lya falou com um tom um tanto quanto arrogante

- Bem, até onde estou vendo - Suspirei firme, abrindo os olhos - onde você felizmente não está.

- Tayla, estou falando sério. - Lya assumiu uma voz tediosa

- Não me lembro, Lysandra, de ter te contatado para falar comigo, ainda menos, lhe dado a permissão de se intrometer nas minhas decisões impulsivas. - Deslizei entre os cobertores com um tom verde folha e senti o gelado do chão invadir as solas de meus pés.

- Você some - Lya se irritou, falando pausadamente - A porra da noite inteira, não avisa ninguém, acha que não ficaríamos preocupados?

- "Ficaríamos?" - Ironizei - Quem "ficaríamos"? Você e Nathan?

- Ah, Tayla...

- Pensei que não se preocupassem nem com o mínimo de senso possível, ainda mais comigo. - Eu falava calmamente, como se aquilo não fizesse a menor diferença.

- Deixe - me explic...

- Faria um favor muito grande se nenhum de vocês me ligassem mais, já estou farta desse drama adolescente, se for de grande necessidade saber, estou bem e em um lugar sem dúvidas mais agradável que Hollywood ou o Céu, então, não me encha mais o saco que eu já nem tenho.

Levei o celular a minha frente e encerrei a ligação. Desliguei o telefone e o joguei dentro da gaveta da cômoda marfim ao lado na cama, sorri com satisfação e me dirigi até a cozinha.

- Bom dia, querida! - Meu pai estava sentado em seu escritório, escrevendo rapidamente no notebook a sua frente.

- Bom dia pai. - Passei por ele e abri a geladeira, vendo uma garrafa de leite.

Mirei a tigela ao lado da caixa de cereais acima do balcão de pedra de mármore preta. A única pessoa que sentirei falta significantemente, é de Caleb. Após ter colocado o leite e o cereal na tigela, peguei uma colher e me sentei no sofá.

- Pensei em ir ao cabelereiro. Ou fazer compras. - Paul me lançou um olhar significativo - Ou os dois.

- Precisa de companhia? - Ele falou, sem desviar os olhos do notebook.

- Na verdade, acho que gostaria de ir sozinha. - Olhei para ele pela primeira vez no dia - O senhor não teria, assim, por acaso, alguma moto na garagem, teria?

✦✦✦

Estacionei a moto perto do píer de Santa Monica e andei até a areia úmida, me sentei, sentindo o mar beijar meus dedos do pé. Abri a mochila e tirei a primeira carta de uma das estrelas de minha caixa, que eu havia pegado antes de sair de casa.

O Que Acontece Fora do CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora