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As informações que Ben conseguiu acessar não diziam muita coisa. Levariam a um beco sem saída se não fosse por duas coisas. A primeira, o nome.

Samendrian Bornbolt.

Esse nome não era familiar para mim, mas a informação que seguiu era ainda mais satisfatória: seu nome estava como um dos mais procurados pelos Celestiais. Não nego que a ideia me deixou confusa. Por que estaria na lista de procurados se está fazendo o serviço sujo deles?

A não ser que Samendrian não trabalhasse para os Celestiais. Fechei mãos com força assim que flashes da minha família e Teo passaram pela minha cabeça me cegando por um breve momento. Minha irmã, Tália, correndo pelas ruas comigo e rindo enquanto nosso pai tentava nos pegar. Minha mãe cozinhando com os cabelos castanho-escuros presos em um coque bagunçado enquanto assistia televisão e brigava comigo por não ter feito a lição. Tália com medo de olhar pela janela porque tinha uma borboleta no vidro. Teo rindo da minha piada ácida contra os Celestiais enchendo meu copo com bebida.

Tudo isso foi tirado de mim. Foi tirado deles. A oportunidade de viver mais um dia. Então isso era uma possibilidade que eu deveria ignorar a qualquer custo. Eles precisavam ter conexão. Essas informações eram as únicas que eu tinha depois de anos. Se nada disso fizesse sentido, estaria em um beco sem saída.

De novo.

Engoli a seco imaginando ficar presa no quarto sem respostas. Já fiz isso nos últimos anos, não poderia cair nesse poço mais uma vez. Se eu caísse, não conseguiria sair. Não mais.

Milady. — Olhei para Ben, que me encarava com olhos cheios de preocupação. Era estranho um holograma ter sentimentos então imagino que seja a programação Resposta à Emoções Faciais. — Está tudo bem?

Suspirei e me levantei da cadeira estofada do bar deserto do hotel enquanto Roben analisava e revisava comigo do outro lado da mesa o plano que iria acontecer em alguns minutos.

— Não, mas pretendo que fique. — Minha voz saiu mais fria do que o esperado. — E eu já pedi para me chamar de Cora.

— Srta. Rosewea... — Olhei para Ben por cima dos ombros e percebi ele pigarrear antes de se corrigir. — Cora. Não seria melhor esperar mais alguns dias para se preparar?

— Está tudo certo com o local, certo? — Ignorei seu comentário, arrumando meu moletom preto. — Tem certeza de que é esse lugar mesmo?

— Sim, milady. Esse é o local que Samendrian estará segundo minhas pesquisas. É conhecido como o lugar central para o contrabando de drogas e equipamentos.

— Mas é na Rua Vermelha.

— Sim, e? — Disse ele com um certo deboche. Franzi o cenho, sentindo a raiva borbulhar na boca do meu estômago.

E é conhecido pela prostituição, não por comércio.

Roben fez uma expressão indecifrável e deslizou as mãos sobre a mesa jogando a imagem para frente, a ampliando logo em seguida. Listas e imagens apareceram uma sobre a outra de forma aleatória em um tom azul esbranquiçado, mas assim que alguns elementos foram minimizados por ele, cruzei os braços.

Não podia negar que expandir imagens em pleno ar ainda era algo que me impressionava toda vez. Quando era pequena, a tecnologia não tinha evoluído tanto, mas, hoje em dia, ela faz parte até do corpo humano, retirando sua essência por completo.

Levei minhas mãos até a cicatriz da nuca.

Tirou uma parte da minha essência.

— Observe que, milady, não estávamos falando de um comércio comum. Onde Samendrian está, é conhecido por ser um local específico para contrabando, como disse antes. Algo dessa magnitude jamais poderia funcionar em plena vista. — Infelizmente fazia sentido. Devem tentar manter isso da maneira mais escondida possível.

𝐂𝐲𝐛𝐞𝐫 🅚𝐢𝐥𝐥𝐞𝐫Where stories live. Discover now