Eu estava entediada. E foi por essa razão que eu comecei a dar like nos rapazes mais ou menos interessantes que encontrei no aplicativo. Sam tinha razão, eu precisava sair um pouco e testar o terreno. Então, lá estava eu, escolhendo uma roupa para um encontro num restaurante que era um ponto turístico com vista para o mar.

Minha tarde de sábado se baseou em voltar do almoço, conversar com Sam, rir com Sam, assistir um filme com Sam enquanto eu mexia no Tinder e depois mostrar a ela o cara que me chamou mais a atenção. E o melhor de tudo era que ele estava disponível para aquela mesma noite.

Sam aprovou com ressalvas, disse que ficaria mais tranquila se o motorista fosse comigo e me esperasse até o encontro ter fim, caso o cara tentasse algo.

– É só por precaução – pontuou ela. – Ficarei sossegada se o Jason for. Ele é um cara fortão, pode te salvar caso tenha problemas de assédio ou coisa pior.

– Sam, eu não preciso de uma babá – rebati, contrariada.

Ela estava comigo no quarto, escolhendo uma boa combinação para mim. Deixei que ela fizesse seu trabalho de Personal Stylist.

– Sabe, Anna, para hoje você deve usar uma roupa que te deixe com cara de poderosa, porém inocente, para passar aquela impressão de fragilidade feminina.

– Não quero parecer uma boneca frágil – franzi o cenho, ou tentei. Não tinha marquinhas na testa para me ajudar a formar uma expressão.

Sam grunhiu, frustrada.

– O que eu quis dizer foi algo do tipo: "Quero que os homens me temam ao mesmo tempo em que apreciam minha beleza pura". Entendeu?

Ela jogou uma saia plissada de cor rosa barbie para mim, eu a segurei antes que caísse no chão amadeirado. O tecido era macio e firme, fazendo com que a saia ganhasse algum volume até antes do joelho. Em seguida, Sam atacou novamente, atirando um suéter azul marinho com uma camiseta branca de mangas compridas.

– Vai fazer frio à noite – explicou. – É bom se precaver.

Eram cerca de seis da tarde, mas o sol ainda levaria mais algumas horas para se pôr. Decidi então aceitar seu argumento e comecei a vestir a combinação. Ao me olhar no espelho, tive a impressão de que havia voltado no tempo. Embora tudo o que eu vestisse fosse feito por mim, eu me sentia como uma bonequinha prestes a conhecer o lobo mau na floresta, estupidamente infantil e boba.

Sam deve ter pensado o mesmo, pois depois de um tempo disse:

– Troca.

No final das contas vesti meu lindo e sexy vestido marsala drapeado, de alcinhas, justo no tronco e mais solto na cintura. Sam me fez usar uma meia calça para me proteger do frio – e de olhos maliciosos, imaginei – e finalizei o visual com um coturno de salto mínimo.

– Eu não sei o que está acontecendo comigo desde que cheguei aqui – murmurei, pegando o sobretudo preto nos braços de Sam. – Nas passarelas uso somente saltos altos, no mínimo 12 centímetros, e nunca tropecei ou caí de cara.

Sam e eu descemos as escadas, rumo à porta da frente.

– Vai ver são os ares europeus, deixa qualquer um com a cabeça nas nuvens.

– Ah, tá bom, Sam! – ri com escárnio. – Ou seriam minhas pernas começando a fraquejar pela falta de exercício.

O motorista, Jason, havia parado o carro no lugar habitual, sobre a estradinha de pedras anti-sapatos altos. Pela primeira vez olhei diretamente para ele com o objetivo de estudá-lo, e cheguei à conclusão de que seu rosto pálido tinha algumas sardas marcando presença logo abaixo dos olhos verdes. O cabelo castanho avermelhado ainda se escondia sob o chapéu. Se eu pudesse adivinhar, diria que ele tem uns 30 e poucos anos. Ele não me ofereceu nenhum de seus sorrisos sarcásticos, ou mesmo um comentário debochado quando me aproximei do carro.

Missão: Férias na EuropaWhere stories live. Discover now