A primeira impressão que tive sobre o palácio real foi a seguinte: onde isso termina? A construção era enorme em largura, com 4 andares e estilo neoclássico, penso eu. O sol da tarde projetava sombras nas velhas árvores ao redor, e o cenário pareceu ter saído de um livro da Jane Austen. Não que eu tenha lido, mas vi os filmes.

Assim que chegamos fomos recebidos pelo que deduzi ser o mordomo, um homem de meia idade com expressões neutras e olhos cabisbaixos. Ele nos conduziu pelo grandioso saguão de entrada, com pé direito alto, lustres dourados que imitavam velas e chão de mármore preto e branco, como um grande xadrez de bruxo.

As paredes estavam repletas de retratos de homens, mulheres, idosos e crianças. O pano de fundo variava. Quando me aproximei para tocar uma das pinturas, Clarissa disse, por trás de meus ombros:

– Esses são meus pais.

Encarei a figura altiva de sua mãe, sentada num trono de veludo vermelho, seu pai de pé ao lado. Os dois eram muito bonitos, embora eu tivesse a impressão de que aquela pintura fora retratada há um tempo. A mãe de Clarissa exibia os lindos traços negros, muitos que a filha também herdara. Seu pai era muito branco, quase transparente, como eu. Olhos azuis e límpidos, como uma piscina no verão. O sorriso animado, porém discreto, o fazia parecer ainda mais jovem.

– São muito bonitos – constatei, ainda encarando as duas figuras na parede.

Continuamos em frente, e depois de muitos passos viramos à direita, num corredor sem janelas, apenas dezenas e mais dezenas de portas duplas de madeira maciça. No entanto, não passava a impressão de ser escuro e mal assombrado, pelo contrário. A paleta de cores das paredes variava entre o bege, dourado, rosa goiaba e azul celeste.

Viramos em outro corredor, este permeado de janelas, do início ao fim. A vista dava para a praia de pedras, onde ondas violentas quebravam com força magistral.

Ao fim do corredor as portas duplas do salão de jantar se destacavam por terem quase o dobro do tamanho das outras, pesadas e incrivelmente detalhadas com entalhes dourados. Estava aberta, portanto não devíamos estar atrasadas. Sam sorriu para mim, animada.

Eu estava a segundos de conhecer a tão falada – e amada – família real de North Island.

Clarissa tomou a dianteira ao entrarmos na sala. Uma garota de cabelos revoltos percorreu meio caminho para abraçá-la, o rosto idêntico à outra.

– Clarie!

– Aura, querida.

Sam cutucou minhas costas com o cotovelo.

– Essas duas não conseguem ficar uma semana separadas.

E dava para entender. Era como se um fio invisível as puxasse, conectando-as de alguma forma.

– Deve ser coisas de gêmeas – repliquei.

Os outros irmãos de Clarissa se aproximaram de Sam e eu, esperando que a irmã fizesse as apresentações.

Aurora me deu as boas vindas com um sorriso amplo e vibrante. Seus cabelos cacheados eram volumosos e caíam feito cascata pelas laterais do rosto até o meio das costas. Uma leoa em forma de garota. Como Clarissa havia comentado mais cedo, Aurora de fato usava jeans e uma camiseta, que se lia, em português: "Não aceito opinião, apenas pix".

– Quando Clarie me disse de onde você é, eu simplesmente pirei – ela me puxou para um abraço de urso esmagador, como os que Sam gostava de dar. – É sempre um prazer conhecer uma conterrânea.

Não me afastei de seu toque. Ela era legal, mesmo que o contato com outro corpo ainda fosse desconfortável. Estava tudo certo. Ela era como eu, intensa, brasileira, gente boa... E uma princesa corajosa.

Missão: Férias na EuropaWhere stories live. Discover now