Eternamente minha

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(13/09/2026)
Lídia De Castro

Ajeitando o arranjo de flores, me seguro para não me afastar e roer todas as minhas unhas. A aglomeração de convidados se espalhava pela grama aparada, a maioria tentando localizar seus respectivos lugares.

Eles não demoraram muito para se acomodarem nas cadeiras brancas distribuídas organizadamente pelo jardim.

A marcha nupcial não dava um único indício de que iria começar a tocar, deixando explícito que eu demoraria para ver minha noiva cruzando o caminho adornado por enfeites brancos e brilhantes, em direção ao altar que me encontro nesse instante, juntamente dos nossos padrinhos e madrinhas, para o azar da minha ansiedade.

Noiva.

Eu mal podia acreditar que o turbilhão de sentimentos trancados a sete chaves no meu peito se transformaria em um amor duradouro, que logo se encaminhou para um namoro, um breve noivado e por fim um casamento.

Se me contassem que uma simples saudação no chat daquele servidor e algumas semanas isoladas juntas, durante uma pandemia mortal, me trariam para onde estou agora, eu provavelmente teria dado risada na cara da pessoa e perguntado se ela estava bem.

É tudo surreal demais.

Eu vou casar com a mulher que eu amo. Passar todos os dias da minha vida com ela, como eu sempre sonhei e desejei.

— Nervosa? — O pai da ruiva se aproximou, me fazendo desviar o olhar das portas francesas da casa principal por um momento, para lhe dar atenção.

Nós duas decidimos executar a festa e a cerimônia onde tudo começou e ganhou força. No sítio da família. Meus pais obviamente ficaram exultantes com a escolha e se empolgaram até demais com os preparativos.

Acho que posso ver daqui a nossa escultura em gelo de tamanho real. Acredite, ainda é um mistério para mim isso ainda não ter derretido nesse calor infernal.

— Muito. — Respondi deixando um sorriso torto escapar, enquanto limpava as mãos trêmulas no vestido longo e liso em tom champanhe que eu usava. — Seis anos se passaram e eu ainda acredito que tudo não passa de um truque da minha mente. — Rio baixinho, a risada grave dele se misturando com a minha.

A palma calejada de sua mão descansou protetoramente sobre o meu ombro envolvido parcialmente pelas alças da roupa.

— Um truque que se tornará ainda mais verídico esta noite. — Relembrou seriamente, empurrando o aro dourado do seu óculos de grau no seu nariz com a ponta dos dedos. — Estou feliz que Mônica tenha se encontrado em você, eu sempre torci pela felicidade das duas e sou grato por tudo ter se acertado no fim. — Confidenciou ternamente, à medida que ele admirava os arredores e avistava alguns conhecidos.

— Sua filha é um sonho realizado, é um prazer fazê-la feliz há cada dia e ano que passa. — Respirei fundo, deixando o meu olhar cair tortuosamente nas portas fechadas outra vez.

— Sua ansiedade deixa isso subtendido, filha. — Sr. Cesarini riu, balançando a cabeça negativamente. Seus olhos azuis brilhavam em contraste com o pôr do sol de início de primavera. — Vou cumprimentar alguns amigos. Acalma seu coração, tudo vai sair conforme o planejado! — Apertou meus ombros suavemente por um última vez. Não esperando pela minha resposta, ele caminhou na direção do grupo de pessoas que havia acabado de cruzar o portal de flores na entrada.

— Até mais... — Deixei minha mão cair ao lado do meu corpo, assim que a sua figura alta e imponente desapareceu entre o buffet e os recém chegados.

Puxando o ar com dificuldade para os meus pulmões, tento não hiperventilar e tornar um dos momentos mais especiais e aguardados de toda a minha vida, um completo desastre.

30 dias com ela ⚢ [✓]Where stories live. Discover now