Adeus

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(30/10/2020)
Lídia De Castro

— E se fugirmos pra bem longe? — Pergunto de repente, mal acreditando que havia dito aquilo em voz alta. Desligo a televisão, empurrando os pratos de doces para fora da cama, abrindo espaço.

— Pra onde? — Inquiriu verdadeiramente curiosa, sem se incomodar com a minha aleatoriedade tão conhecida. Ela estava fechando sua última mala.

Hoje foi um dia cheio e interessante.

— Não sei? Algum lugar quente ou frio e chuvoso? Londres, Croácia, Itália? O destino não importa muito, desde que você não saía do meu lado. Como está fazendo agora. — Fiz biquinho, seus ombros despencaram e ela se aproximou, se juntando a mim no colchão.

Sua cabeça e seu corpo se acomodando no meu facilmente, desejando permanecer.

— Você sabe que não tenho muita escolha. Se eu pudesse viveria aqui para sempre. — Deu de ombros, bufando um pouco com as circunstâncias atuais. — Mas, eu prometo que venho te visitar, só quero que você faça o mesmo esforço por mim. Vou amar te receber na minha cidade. 

Hoje é o último dia de Môni comigo e o nosso segundo dia oficial como namoradas. Eu queria aproveitar mais esse tempo com ela, mas as aulas dela voltam ainda essa semana.

Nós passamos o dia ocupadas com os meus pais hoje, nos despedimos de todos os lugares que ficamos, durante a nossa estadia no sítio.

Nadamos, comemos, cozinhamos, rimos, aproveitamos a novidade, mas ainda assim, meu coração se encontrava apertado com a ideia de deixá-la ir.

— Eu faço qualquer coisa pra ficar perto de você. — Me aprumei na cama, esquecendo um pouco os meus pensamentos. — Isso inclui fugirmos pra uma ilha remota ou eu te sequestrando, não sei, você escolhe. — Fingi naturalidade, recebendo um empurrão no ombro e uma risada contagiante.

— Boba. — Ela revirou os olhos, não permitindo que seu sorriso sumisse, mesmo que seus lábios tremam uma vez ou outra, quando seus olhos ocasionalmente encontram as malas feitas no canto do meu quarto. 

Respirando fundo, ela se aconchega ainda mais perto, não satisfeita com a pouca proximidade.

— Eu não imaginava que tanta coisa poderia acontecer e mudar em 30 dias. — Confessou pensativa, uma onda de nostalgia a acercando.

— Acho que no fundo, eu sabia que a sua vinda seria um divisor de águas na nossa vida. Não que eu pretendesse mudar isso por conta própria, mas foi tão...

— Natural. — Ela completou, um riso saindo dos lábios. Seus olhos enquadrinhando os meus com ternura. — Nós nem notamos isso chegando. — Murmurou sonhando acordada, seus lábios se curvando em um sorriso torto e frouxo.

— Eu não poderia ter desejado uma forma melhor disso ter acontecido. Natural, certeiro... — Sussurrei. — Minha mãe me disse uma vez que quando é pra ser, quando é pra ser seu, não existe força maior que impeça de acontecer, e nós duas somos a prova de que ela nunca esteve tão certa. — Acrescentei me lembrando dos muitos obstáculos que coloquei entre nós duas e os que eu não tive muito controle.

— Sim... Tantas vezes eu tentei me afastar, mudar esse sentimento, porque algo não parecia certo. — Seus dedos tocaram delicadamente minha mandíbula. — Agora eu sei que a única coisa que não me parecia certa, era o fato de eu não enxergar o que estava bem na minha frente. Você apaixonada por mim. — Acrescentou ainda incrédula, era difícil acreditar que tudo aquilo acontecera em apenas um mês.

— Perdidamente. Não muito tempo depois que nós nos conhecemos. Eu me culpei tanto quando percebi. — Ri baixinho, me lembrando da tormenta que foi descobrir que eu gostava de meninas e que havia me apaixonado à primeira vista por uma completa desconhecida.

— É uma história tão louca e inesperada. Tinha tudo pra dar errado, até que não deu. — Sussurrou a sombra de um sorriso pairando sobre seu rosto tomado pela melancolia.

— Estou feliz por não termos dado errado. 

— Eu também. Esse mês foi a melhor coisa que me aconteceu... — Suas mãos me puxaram lentamente pra perto do seu rosto, em uma espécie desastrosa de abraço. Ambas sentindo o tempo escorrendo por entre os nossos dedos.

— Vou sentir sua falta. — Rocei meu nariz no seu pescoço suavemente, inspirando mais uma vez o seu perfume doce e inconfundível. O meu favorito.

— Me ligue todos os dias, por vídeo chamada ou o que quer que seja, só... Lute por nós, tudo bem? Por essa nova etapa na nossa vida e no mundo todo. Sei que não é fácil manter um relacionamento assim, mas... — Sussurrou contra minha boca, as lágrimas invadindo nossa pequena e simples troca de afeto.

— Shhh... Mônica, tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. Nada entre nós vai mudar, eu nunca desistiria de você. A distância não vai mudar nada. — Silenciei-a com um beijo rápido nos lábios por um momento. Abraçando fortemente seu corpo frágil. — Eu não desisti quando meus sentimentos estavam confusos, não vou desistir agora. Não quando eu tenho a garota que sempre sonhei como namorada. — Sentindo seu peito tremer contra o meu, eu aumento o aperto do abraço, acariciando suas costas. 

— Desculpa, eu só... Estou com medo.

— Não precisa se desculpar. Nós somos humanos e não robôs, nós temos sentimentos, medo... Ter um pouco de insegurança é normal, só não deixe isso controlar sua mente, está bem? — Aconselhei, secando as lágrimas que ainda insistiam em borrar seus olhos maquiados.

Ela assentiu, se sentando no colchão. Os olhos indo para a cômoda e encontrando o relógio. Suspirando ruidosamente, Mônica se levantou olhando em volta, se despedindo, como se nunca mais fosse ver esse lugar.

— O que havíamos combinado? — Repreendi indiretamente sua atitude, visualizando sua postura enrijecer.

— Nada de deixar minhas emoções ruins me controlarem. — Repetiu prontamente, como eu havia dito segundos atrás, mas não da mesma forma

— Perfeito. — Me levantei também, abaixando minha saia de couro e me aproximando do batente. — Precisamos ir ou mamãe logo vem nos buscar pelos cabelos, como ela tanto prometeu e nunca cumpriu.

Ambas rindo, apanhamos as malas e descemos as escadas. Tínhamos uma longa estrada pela frente, ainda estamos no sítio e pra chegar até o aeroporto é uma viagem completa.

Empurrando tudo que precisaríamos no carro, nós nos viramos para trás observando a construção que nos abrigou e foi uma das responsáveis pela mudança drástica nas nossas vidas.

Com nossas mãos grudadas, ainda nada preparadas para os novos obstáculos que virão a seguir, nós sorrimos uma para outra, conscientes de que o que quer que aconteça, se estivermos juntas, estaremos prontas pra enfrentar qualquer coisa que o universo nos impor.

Com nossas mãos grudadas, ainda nada preparadas para os novos obstáculos que virão a seguir, nós sorrimos uma para outra, conscientes de que o que quer que aconteça, se estivermos juntas, estaremos prontas pra enfrentar qualquer coisa que o univer...

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Ok, nós ainda temos o epílogo, então não é a finalização oficial e definitiva. Entretanto, eu não consigo deixar de agradecer, caramba.

Obrigada pelo apoio. Não esqueçam que cada um de vocês foi e ainda é muito importante pra essa jornada e eu estou realmente feliz por ter colocado esse conto no ar.

Eu espero muito que vocês tenham gostado. Me deixem saber deixando comentários pelo capítulo e deixando seu voto.

Em breve trago o epílogo e os agradecimentos. Se preparem.

Se cuidem, amo vocês!

p.s: Estamos de cara nova, o que acharam da capa feita pela knsdesign 🥺💜

30 dias com ela ⚢ [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora