02 | O idioma local é italiano. Diga: "Buongirono"

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Catherine

O despertador toca tão cedo, que chega a me infligir dor física. Estava exausta. Emocionalmente, fisicamente, mentalmente. Olhei no espelho de corpo inteiro e tive de rir, a garota Vogue! Ha ha. Não com essa porcaria de cara. Pus de lado minhas blusas básicas e sai em busca de um bom e velho vestido para o calor italiano. Depois de vencer a batalha contra o fecho do meu vestido confiro se peguei tudo e saio meio atrapalhada com minhas malas em direção ao aeroporto.

O sinal não tinha nem mesmo se tornado verde no cruzamento da rua 17 com a Broadway quando rugi arrogante com meu minúsculo calhambeque alugado pela Vogue. Tentar dirigir esse conversível de câmbio manual, pelas ruas atravancadas do centro na hora de pico exige muito esforço. O carrinho deu solavancos furiosos, duas vezes, antes de cambalear à frente no cruzamento. Meu coração dava cambalhotas no peito. Sem aviso, o cambaleio se estabilizou e comecei a ganhar velocidade. Muita velocidade.

Tive alguns segundos pacíficos entre um sinal e outro para tirar meus sapatos Manolo Blahnik e jogá-los no assento do carona, dirigir com salto nunca mais. O sinal ficou verde assim que consegui encostar na poltrona novamente, mas antes que eu tivesse tempo de considerar respirar meu celular ganiu alto. O identificador de chamadas confirmou o que eu já imaginava era ela. Anna Wintour.

— Catherine! Pode me ouvir? — Apoiei o telefone entre a orelha o ombro.

— Sim. Oi, posso escutá-la perfeitamente.

— Catherine o avião já está a sua espera a mais de vinte minutos. Onde você está? Já está chegando? — Graças a Deus o sinal à minha frente ficou vermelho, e parecia que seria dos demorados. O carro deu um solavanco e parou sem bater em nada nem ninguém, e eu suspirei aliviada.

— Estou a duas ruas do aeroporto neste exato instante, devo chegar em alguns minutos. — Imaginei que ela estava preocupada com que tudo estivesse correndo bem, de modo que a tranqüilizei dizendo que não havia problemas.

— Ande logo — disse ela bruscamente, interrompendo-me no meio da frase. — Não se esqueça de deixar a chave do carro com Linton, ele trará o carro de volta para o escritório. E cheque seu e-mail, te enviei o cronograma — O telefone ficou mudo. Olhei para ele durante alguns instantes antes de me dar conta de que ela tinha desligado porque já havia fornecido todos os detalhes que eu poderia esperar receber. Ótimo.

Lembrando-me de que, em Nova York, era ilegal falar em celular enquanto se dirigia, e pensando que a última coisa de que eu precisava nesse momento era ser parada pela polícia, joguei o telefone de volta na bolsa.

...

Pegar a bagagem no aeroporto de Veneza foi um pesadelo, mas logo encontrei o motorista elegantemente vestido, que estava acenando com um cartaz com meu nome.

Pressionei meu rosto, desajeitadamente, contra a janela e observei o carro atravessar sinuosamente as ruas apertadas de Veneza. Quando o carro estacionou na entrada do hotel, um cavalheiro de aparência distinta, usando o que imaginei ser um terno sob medida, abriu a porta do carro para mim.

— Mademoiselle, que prazer finalmente conhecê-la. Sou Gerard Renaud. — Sua voz era suave e segura, e seu cabelo grisalho e o rosto vincado indicavam que ele era muito mais velho do que eu tinha imaginado quando falamos ao telefone.

— Monsieur Renaud, é ótimo conhecê-lo, finalmente! — De repente, tudo o que eu queria fazer era me jogar em uma cama macia e recuperar a diferença de fuso, mas
Renaud anulou minhas esperanças rapidamente.

— Mademoiselle Catherine, madame Wintour deixou uma reunião agendada para senhora com o pessoal da Vogue Itália. Receio dizer que deve ir imediatamente. Antes de se instalar no seu quarto.

Ever since Veneza | H.SWhere stories live. Discover now